Julio Cesar Cardoso*
A sociedade
atual não tem nenhuma dívida com a época da senzala. Não pode esta sociedade,
que não participou da época do pelourinho escravocrata lusitano no Brasil,
continuar sendo chamada para rever ou pagar injustiças passadas e cometidas
contra o negro africano aqui introduzido. Certa feita, a ex-ministra da
Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial (Seppir),
Matilde Ribeiro, revelando reminiscências revanchistas e preconceituosas,
afirmou que “não é racismo quando um negro se insurge contra um branco.”. E
disse mais: “a reação de um negro de não querer conviver com um branco, eu acho
uma reação natural. Quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar
de quem o açoitou”.
Ora, a sociedade
atual cognominada “branca” não açoitou nenhum negro no passado. Todos os
cidadãos brasileiros, pobres, padecem da mesma forma de segregação. O problema
está na falta de políticas públicas sérias e responsáveis de nossos políticos e
governantes, que não se comprometem com investimento de recursos em educação
pública de alta qualidade capaz de nivelar, por competência, negros e brancos.
Não é, pois, com a instituição de um estatuto racial legal que se pretenda
corrigir um grave problema de ordem social do negro no Brasil. Se a nossa
Constituição fosse observada pelos governantes e políticos, oferecendo educação
de qualidade para todos, não haveria agora de se questionar as diferenças
sociais entre negros, brancos, índios, etc.
O que nivela raças,
no plano social, é a qualidade de educação recebida do Estado, negada por
políticas públicas governamentais. O Estatuto da Igualdade Racial é mais um
desses institutos jurídicos extravagantes. Assim como existe negro pobre, também
existem brancos, índios, mamelucos etc. pobres. O estado atual de pobreza ou de
diversidade social do negro é culpa exclusiva de má política pública de nossos
governantes, que não fazem os investimentos sociais e culturais previstos na
Constituição brasileira.
O preconceito
racial não se resolve com leis corretivas. A questão preconceitual está no
caráter de cada indivíduo. E este, quer por sua situação social, orgulho,
soberba ou sentimento mórbido de superioridade, manifesta o seu desamor pelo
próximo como se fosse um ser superior, constituído de matéria imperecível, mas
que vai se desfazer na natureza da mesma forma que qualquer ser vivo.
A causa de o negro,
no Brasil, encontrar dificuldade de ascensão social e sair desse espectro de
marginalização, como ente inferior, não pode ser somente debitada à Abolição,
que não promoveu a integração social do escravo, mas também deve ser cobrada
das autoridades públicas brasileiras, que não cumprem as disposições
constitucionais vigentes.
Por que os negros
bem-sucedidos financeiramente não são solidários com os seus iguais? Tomemos,
por exemplo, o caso de jogadores negros do futebol brasileiro, que preferem se
relacionar com mulheres brancas (louras) a escolher uma negra. O próprio negro
não é preconceituoso com a sua raça?
*Júlio César
Cardoso é bacharel em Direito e servidor federal aposentado e mora em Balneário Camboriú
– SC – juliocmcardoso@hotmail.com
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