sábado, 1 de dezembro de 2012

Moçambique: UMA REUNIÃO PARA DIVIDIR O TACHO

 

Verdade (mz), editorial
 
Não nos enganemos. O encontro que a Renamo exige ao partido no poder não visa, de forma alguma, resolver o problema dos moçambicanos. O que, no nosso entender, está em causa é o facto de apenas um dos intervenientes dos Acordos Gerais de Paz usufruir, exclusivamente, dos recursos do país. Esse, na verdade, é o problema de fundo.
 
Portanto, não está, repetimos, em causa a fome que assola 255 mil moçambicanos. Não está em causa a falta de transporte e habitação. Não está, de forma alguma, em causa o desemprego ou a transparência na gestão da coisa pública. Isso é um outro problema e não fará, diga-se em tom alto, parte da agenda em discussão.
 
Não é estranha a atitude da Renamo. Qualquer um, no lugar deles, depois de um negócio no qual se sente beneficiado teria a mesma atitude e nem é isso que é reprovável. Essa exigência é legítima pela forma como negociaram o futuro dos moçambicanos. Na perspectiva de ambos os cidadãos desta nação nunca foram encarados como tal, mas sim como propriedade, como gado, como corpos sem alma.
 
Nós não somos, de forma alguma, sujeitos do nosso destino. Somos objectos da vontade de dois ex-beligerantes. A terra, muito mais nossa do que deles, também é encarada da mesma forma. É um mero objecto das suas vontades. Foi durante 16 anos e agora reclamam os despojos de um povo martirizado nos últimos 37 anos.
 
A nossa pobreza, a nossa nudez e o nosso desnorte não significam nada. O que importa é o dinheiro que julgam que deve ser partilhado entre quadrilhas que delapidam sistematicamente as nossas expectativas enquanto nação. Não é escola para o filho do camponês de Cahora Bassa e nem um sistema de regadio para Chigubo. É uma coisa bem diferente e muito mais macabra.
 
As vias do desenvolvimento não fazem parte da agenda. Como vamos pagar a ponte para Catembe, muito menos. Como a HCB, que faz dois milhões de dólares por dia, pode beneficiar os moçambicanos, também é um assunto marginal.
 
Como vamos deixar de ser o quarto pior país de mundo nem será, pelo menos, motivo de uma análise superficial. Como vamos olhar para o Pro-Savana e proteger os camponeses, é uma barbaridade de todo tamanho que não adianta discutir.
 
O que importa é dividir o tacho. Retalhar o Orçamento Geral do Estado. Dividir os benefícios da exploração da madeira e do carvão. É usufruir dos mesmos direitos e colocar Afonso Dlhakama numa espécie de presidência aberta sombra de helicóptero.
 
Isso tudo para exibir os músculos e lembrar aos moçambicanos a sua condição de escravos. Portanto, em Gorongosa ou onde quer que seja ninguém vai falar de equidade e justiça. O que importa, já o dissemos, é continuar a olhar para os moçambicanos como o continente a ser dividido na mesa da conferência de Berlim que pretendem montar em Gorongosa.
 

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