Pedro Tadeu – Diário
de Notícias, opinião
Já andamos há muito
tempo a digerir o custo da fraude, falência e entrega do BPN - as últimas
contas somam três mil milhões e meio de euros, mas pode ser muito mais.
Começámos agora a
mastigar os 1100 milhões metidos no Banif para o salvar da bancarrota. Bebemos
o veneno da fragilização da Caixa Geral de Depósitos, o banco do Estado
obrigado a meter dinheiro em maus negócios e a delapidar património para salvar
a pele de uns quantos perdulários.
Engasgámo-nos,
espantados, ao ver os magistrados da "Operação Furacão" a tentar
caçar fugas ao fisco e branqueamentos de capitais no BCP, BES, BPN e Finibanco
e a trocar, alegremente, condenações em tribunal por pagamentos ao Estado de
alguns milhões - 185, segundo o último balanço oficial.
Arriscamos uma
indigestão quando vemos Jardim Gonçalves, o criador do BCP, a ser condenado a
pagar uma coima de um milhão de euros por ter omitido contas em offshores do
banco; a fusão Compal-Sumol financiada pela Caixa a ser investigada; a
extraordinária falência do BPP prestes a conhecer uma acusação; alguns
administradores do BES suspeitos num caso de ações da EDP Renováveis; o
"papa" desse banco, Ricardo Salgado, a fazer visitas ao DIAP para
testemunhar no caso "Monte Branco" - onde o seu BESI, liderado por
José Maria Ricciardi, é investigado - e a devolver 8,5 milhões que se esqueceu
de declarar ao fisco.
Estamos enfartados
com a violência do ajuste de rácio que os bancos portugueses fizeram, coisa
saudável para as suas contas, mas que secou o financiamento da economia e muito
empurrou o País para ainda maior pobreza.
Começámos agora a
engolir uma açorda chamada "banco de fomento", alegremente
publicitada por Angela Merkl. O alemão KfW está a ajudar o ministro das
Finanças a montar o esquema de viabilização da coisa. O ministro da Economia,
por seu lado, tem na cabeça um outro sistema e, no terreno, um grupo de
trabalho a desenvolvê-lo. Até o ministro da Educação tem ideias próprias sobre
o assunto.
Disfarçados sob o
manto caridoso da necessidade de financiar pequenas e médias empresas,
escondem-se os apetites de quem quer dominar o último banquete da União
Europeia: os muitos milhares de milhões vindos no próximo QREN. Habituados ao
regime atrás descrito, nem duvido por que estômagos, dê as voltas que der, esse
dinheiro passará...
Resta-nos uma
grande azia e a pergunta inconveniente: em vez de refundar o Estado não
deveríamos, primeiro, refundir este sistema financeiro?
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