Henrique Monteiro –
Expresso, opinião em Blogues
O anúncio feito por
Vítor Gaspar, ontem no Eurogrupo, de que Portugal tinha pedido mais tempo
para pagar a dívida, é uma boa notícia. Também é uma boa notícia saber que Portugal
pode voltar aos mercados até mais cedo do que se previa. Mas que impacto tem isso
na nossa vida real? A resposta é: para já pouco... ou nenhum.
Pedir aumento da
maturidade da dívida significa, no estranho idioma que é o 'economês',
pedir mais tempo para pagar o que se deve. Isso significa duas coisas - poder
pagar mais suavemente, o que é bom; e ficar a dever mais tempo, o que não é tão
bom.
Regressar aos
mercados, no mesmo idioma, é igual a poder pedir dinheiro emprestado sem,
para isso, depender da troika. É bom porque garante uma maior
independência do país, não o colocando sujeito às preferências de quem empresta
e porque pode canalizar mais dinheiro para investimentos. É mau, porque aumenta
a dívida já de si elevada. E pode ser péssimo se isso significar um
abrandamento ou mesmo inversão das reformas.
Mas nada disto tem
efeitos imediatos. Portugal volta aos mercados, mas os portugueses comuns
continuarão a pagar impostos elevadíssimos e a ter falta de dinheiro mesmo para
bens essenciais. Também o desemprego continuará a subir, ao mesmo tempo que os
serviços prestados pelo Estado vão encarecer. Espero, pois, que o Governo não
faça disto uma das habituais doses de demagogia em que a política tem sido
fértil. Os portugueses não se entusiasmam por metas financeiras, porque
aquilo que sentem nas suas vidas são as terrenas questões da economia.
Regressamos aos
mercados, ótimo. Mas festejem só quando nos devolverem o dinheiro que,
entretanto nos sacaram.
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