terça-feira, 22 de janeiro de 2013

PORTUGAL VOLTA AOS MERCADOS, OS PORTUGUESES NÃO




Henrique Monteiro – Expresso, opinião em Blogues

O anúncio feito por Vítor Gaspar, ontem no Eurogrupo, de que Portugal tinha pedido mais tempo para pagar a dívida, é uma boa notícia. Também é uma boa notícia saber que Portugal pode voltar aos mercados até mais cedo do que se previa. Mas que impacto tem isso na nossa vida real? A resposta é: para já pouco... ou nenhum.

Pedir aumento da maturidade da dívida significa, no estranho idioma que é o 'economês', pedir mais tempo para pagar o que se deve. Isso significa duas coisas - poder pagar mais suavemente, o que é bom; e ficar a dever mais tempo, o que não é tão bom.

Regressar aos mercados, no mesmo idioma, é igual a poder pedir dinheiro emprestado sem, para isso, depender da troika. É bom porque garante uma maior independência do país, não o colocando sujeito às preferências de quem empresta e porque pode canalizar mais dinheiro para investimentos. É mau, porque aumenta a dívida já de si elevada. E pode ser péssimo se isso significar um abrandamento ou mesmo inversão das reformas.

Mas nada disto tem efeitos imediatos. Portugal volta aos mercados, mas os portugueses comuns continuarão a pagar impostos elevadíssimos e a ter falta de dinheiro mesmo para bens essenciais. Também o desemprego continuará a subir, ao mesmo tempo que os serviços prestados pelo Estado vão encarecer. Espero, pois, que o Governo não faça disto uma das habituais doses de demagogia em que a política tem sido fértil. Os portugueses não se entusiasmam por metas financeiras, porque aquilo que sentem nas suas vidas são as terrenas questões da economia.

Regressamos aos mercados, ótimo. Mas festejem só quando nos devolverem o dinheiro que, entretanto nos sacaram.

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