terça-feira, 2 de abril de 2013

Há funerais no centro de Moçambique que terminam com o corpo colocado no topo de árvores




André Catueira, Agência Lusa

Guro, Moçambique, 31 mar (Lusa) - Alguns idosos em Nhansana, no interior de Guro, no centro de Moçambique, são sepultados de forma pouco convencional: por topo de árvores ou no cimo de montes.

"Geralmente, são pessoas idosas e respeitadas da região, que vão a enterrar por cima das árvores ou, mesmo, em montanhas. Os funerais ocorrem como os habituais, com a diferença que, nestes, o corpo é colocado numa tarimba e puxado com cordas para cima de árvores frondosas", explicou à Lusa Vânia Ambrósio, moradora da região.

Os corpos são embrulhados numa esteira de caniço grosso, em forma de tarimba, que, depois, é atada com cordas, desfiadas de árvores típicas da região, que suportam a "urna" entre os galhos do "cemitério", ou depositado no cimo de uma montanha. A "urna" é puxada só por homens.

Os velórios são acompanhados de cânticos fúnebres tradicionais, mas, geralmente, sem mensagens religiosas. Com os falecidos, apenas segue a roupa de corpo e toda a herança é distribuída entre os entes, contrariamente a funerais em cidades da mesma província, Manica, onde toda a "mordomia" acompanha o corpo.

"Nenhum jovem foi enterrado por cima das árvores. O último idoso tinha entre 60 e 70 anos. No dia seguinte, apenas os familiares próximos do malogrado voltaram ao local, para evocar espíritos" conta à Lusa Julinho Adriano, residente local.

Os anciãos submetidos a este "ritual", são, em muitos casos, pessoas com uma "riqueza invejável e donos de muitas mulheres", e são "o suporte do espirito (Malombe) da tribo".

Para se "entregar" o espirito Malombe ao novo portador, a comunidade passa cinco dias de festa, com comidas, bebidas e danças, na invocação de espíritos para que "recebam" a pessoa. Depois, o novo "proprietário" pode fazer consultas espirituais.

"Um dos maiores problemas destes funerais é que podem ser foco de propagação de doenças. Geralmente, não se sabe de que doença a pessoa morreu e, depois, como o corpo não é enterrado pode exalar cheiro e propagar bactérias", disse à Lusa um cirurgião.

O governo local diz-se impotente perante a situação, porque quer valorizar as diferentes culturas e tradições da população, mas também por não poder arbitrar e impor regras sobre os moldes de enterros.

"São usos costumeiros da população local, que dentro da tribo alguém é atribuído este espírito, neste caso de leão, e, quando esta pessoa, morre é enterrada por cima das árvores ou colocada numa caverna, em caso de existir nas montanhas" disse à Lusa Deolinda Vissai, administradora do distrito de Guro, que considera os funerais "curiosos".

"Quando estas pessoas morrem, não são enterradas de imediato e, depois, são penduradas em árvores. Outras são feitas múmias e outras, ainda, são enterradas num túmulo, mas que não é tapado", acrescentou a administradora, reconhecendo que o processo não está regulado pela lei.

Nhansana, uma terra quente e de calor seco, com muitos embondeiros e montanhas, é um dos principais produtores de gado caprino no distrito.

AYC // PJA

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