André Catueira,
Agência Lusa
Guro, Moçambique,
31 mar (Lusa) - Alguns idosos em Nhansana, no interior de Guro, no centro de
Moçambique, são sepultados de forma pouco convencional: por topo de árvores ou
no cimo de montes.
"Geralmente,
são pessoas idosas e respeitadas da região, que vão a enterrar por cima das
árvores ou, mesmo, em montanhas. Os funerais ocorrem como os habituais, com a
diferença que, nestes, o corpo é colocado numa tarimba e puxado com cordas para
cima de árvores frondosas", explicou à Lusa Vânia Ambrósio, moradora da região.
Os corpos são
embrulhados numa esteira de caniço grosso, em forma de tarimba, que, depois, é
atada com cordas, desfiadas de árvores típicas da região, que suportam a
"urna" entre os galhos do "cemitério", ou depositado no
cimo de uma montanha. A "urna" é puxada só por homens.
Os velórios são
acompanhados de cânticos fúnebres tradicionais, mas, geralmente, sem mensagens
religiosas. Com os falecidos, apenas segue a roupa de corpo e toda a herança é
distribuída entre os entes, contrariamente a funerais em cidades da mesma
província, Manica, onde toda a "mordomia" acompanha o corpo.
"Nenhum jovem
foi enterrado por cima das árvores. O último idoso tinha entre 60 e 70 anos. No
dia seguinte, apenas os familiares próximos do malogrado voltaram ao local,
para evocar espíritos" conta à Lusa Julinho Adriano, residente local.
Os anciãos
submetidos a este "ritual", são, em muitos casos, pessoas com uma
"riqueza invejável e donos de muitas mulheres", e são "o suporte
do espirito (Malombe) da tribo".
Para se
"entregar" o espirito Malombe ao novo portador, a comunidade passa
cinco dias de festa, com comidas, bebidas e danças, na invocação de espíritos
para que "recebam" a pessoa. Depois, o novo "proprietário"
pode fazer consultas espirituais.
"Um dos
maiores problemas destes funerais é que podem ser foco de propagação de
doenças. Geralmente, não se sabe de que doença a pessoa morreu e, depois, como
o corpo não é enterrado pode exalar cheiro e propagar bactérias", disse à
Lusa um cirurgião.
O governo local
diz-se impotente perante a situação, porque quer valorizar as diferentes
culturas e tradições da população, mas também por não poder arbitrar e impor
regras sobre os moldes de enterros.
"São usos
costumeiros da população local, que dentro da tribo alguém é atribuído este
espírito, neste caso de leão, e, quando esta pessoa, morre é enterrada por cima
das árvores ou colocada numa caverna, em caso de existir nas montanhas"
disse à Lusa Deolinda Vissai, administradora do distrito de Guro, que considera
os funerais "curiosos".
"Quando estas
pessoas morrem, não são enterradas de imediato e, depois, são penduradas em
árvores. Outras são feitas múmias e outras, ainda, são enterradas num túmulo,
mas que não é tapado", acrescentou a administradora, reconhecendo que o
processo não está regulado pela lei.
Nhansana, uma terra
quente e de calor seco, com muitos embondeiros e montanhas, é um dos principais
produtores de gado caprino no distrito.
AYC // PJA
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