terça-feira, 2 de abril de 2013

Portugal: ABRIL, POLÍTICA A MIL




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

Ninguém tem legitimidade para chantagear mesmo subliminarmente os juízes do Tribunal Constitucional

O mês que agora começa promete ser dos mais tensos e difíceis dos últimos tempos. Além da divulgação dos indicadores económicos habituais, e que se advinham péssimos, além da moção de censura, além do início da actividade de Sócrates como comentador, além da constatação dos mais pobres de que vão ter de declarar e pagar IRS, há sobretudo a expectativa em relação às decisões do Tribunal Constitucional.

Mas há um facto incontroverso. É nas mãos dos juízes que está muito do que se vai passar a seguir, e vai condicionar a vida de todos os portugueses.

Desta vez não são os mercados, nem a troika, nem o BCE que nos dominam. É a decisão de um órgão de soberania que pode mudar o quotidiano de forma súbita.

De qualquer maneira, uma coisa é certa: decidam o que decidirem, os portugueses poderão discutir e opinar sobre as matérias antes e depois, mas nenhum tem legitimidade para chantagear, subliminarmente que seja, os juízes antes de decidirem.

É bom lembrar que os tribunais constitucionais existem em regra em países saídos de ditaduras ou que têm tendência para ser dirigidos por oligarquias. Existem para evitar atropelos a direitos absolutamente essenciais.

É por isso que as pressões prévias ou as atitudes intempestivas posteriores do poder político são inadmissíveis, inadequadas, irresponsáveis e antipatrióticas.

Governar em democracia (ocidental) é difícil. No entanto, quem se afirma democrata tem de cumprir a lei fundamental e portanto deve à partida procurar que os seus actos e decisões tenham como parâmetros os limites constitucionais, sob pena de ficar fora do terreno democrático.

Quem governar procedendo anualmente de forma provocatória em relação à cartilha essencial não tem condições éticas para exercer o poder e melhor seria dedicar-se, por exemplo, ao mundo dos negócios e das operações financeiras, em que hoje vale tudo, começando pela agiotagem que várias vezes sugou a Europa e a levou a reacções violentas.

Dir-se-á que a Constituição está velha e obsoleta em alguns aspectos. Está. Mas para a mudar é preciso procurar consensos dentro da Assembleia da República ou então apresentar um programa ao eleitorado que concite o apoio de tantos votantes que assegure dois terços dos lugares de deputados numa legislatura que permita abrir um período de revisão normal. Ou, melhor ainda, ocupar quatro quintos dos lugares e abrir uma revisão extraordinária.

Não é fácil? Pois não! Mas isso não legitima de modo nenhum a violação da lei fundamental ou de princípios fundamentais da ética, seja ela republicana seja monárquica.

Violar leis essenciais de forma deliberada e sistemática é um crime que se assemelha a outros para os quais se pode usar a mesma palavra. Quem entra por esse caminho sujeita-se a pagar penal ou eleitoralmente.

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