domingo, 6 de maio de 2012

O QUINTO PODER



São Tomé e Príncipe

Horácio Will - Téla Nón

Todos verificamos que depois da independência presenciamos quedas e degradação de algumas estruturas de grande utilidade pública com preocupantes prejuízos para a população sem surgimento compensatório de várias outras que o país teve oportunidades de construir com a força de trabalho, com recursos naturais e com ajudas externas.

Para um futuro condigno ajustado ao povo, foi criado uma constituição, a priori, legitima salvaguarda dos interesses da nação. Criaram-se poderes com funções definidas visando a defesa de uma única entidade: O POVO.

Assim surgiram os poderes designados de órgãos de soberania:

1º – Presidência da República
2º – Assembleia Nacional
3º – Governo
4º – Tribunais

O povo não é referenciado. É pressuposto todos os órgãos de soberania existirem em prol da defesa dos interesses do povo.

Com os quatro poderes, mudamos de regime totalitário para multipartidarismo mas continuamos a sentir a falta de qualquer coisa. Talvez de um QUINTO PODER.

Diante do empobrecimento progressivo que se assiste e que se sofre na Terra, alguns clamam pelo PODER DIVINO enquanto outros se resignam. Discordo das duas posturas.

1 – Penso que Deus pretende ver homens livres não no sentido de depender que alguém ou algo lhes crie a liberdade, mas que sejam capazes de conquistar o seu espaço de autonomia com base na imposição do respeito pelos direitos que Ele já concedeu. Deus sabe que os filhos que nada conquistam, a quem os pais dão tudo, acabam por se tornar inúteis. Ele quer que os seus filhos cresçam abrindo os seus próprios caminhos.

2 – Quanto à resignação, acho que nunca devíamos consentir o mal aplicado aos outros e muito menos suportá-lo quando somos próprias vítimas.

Se não devemos suportar o que é mau e sabendo que Deus não dá mas sim ajuda a quem inicia e avança, qual seria o QUINTO PODER que nos libertaria de tão baixo Índice de Desenvolvimento Humano?

A sabedoria popular diz que “é o olho do dono que engorda o burro”.

Se todos os bens sociais são pertenças do povo, tanto os trabalhadores das áreas de menor exigência académica como todos os elementos dos diferentes órgãos de soberania são empregados do povo. Para ele devem trabalhar e dele devem receber – como todos os trabalhadores – as suas remunerações, de acordo com nível económico do país, embora se deva considerar uma diferença de salários em acordo com a responsabilidade exigida a cada um.

Um humano com poder ilimitado ou não controlado tende a se afastar até dos seus próprios princípios, é de toda a conveniência desenvolvermos capacidades e dedicação para seguirmos de perto os nossos trabalhadores evitando que possamos ter graves prejuízos, não por maldade dos mesmos mas por permissividade nossa.

Nesta ordem de ideias, o povo devia se organizar para constituir O QUINTO PODER. Curiosamente o 5º seria o último. Mas, na importância será o primeiro, será o maior porque será O PODER DO DONO. A entrega de poder absoluto a quem quer que seja, sem qualquer controlo dos próprios pertences levará à destruição de qualquer empresa. Próprios filhos dos donos passarão a ser pessoas menores diante dos administradores. Se esses administradores forem familiares estar-se-á a criar clivagens entre elementos da mesma família.

Victor Hugo dizia: “Entre um governo que faz mal e um povo que consente há uma certa cumplicidade vergonhosa”.

Concluo que os cidadãos, verdadeiros donos do património social, devem criar competências para se porem próximos da gestão das causas sociais porque isto cabe a qualquer dono que se preze.

Se houver interesses que impeçam à população de exercer os seus direitos?

Isto seria os donos deixarem de ter poder de decisão sobre o que é seu. Estaríamos diante de uma usurpação que ao ser infligida ao povo seria considerada ditadura – deficit democrático.

Difícil passar por mais um 25 de Abril, estar a falar de poderes sem abordarmos o tema DEMOCRACIA.

Em que estados tornados democráticos a partir do 25 de Abril podemos verificar de facto uma democracia?…

Falemos do nosso!

A democracia será inclusão do povo nas decisões do futuro que a ele diz respeito?

Será o gozo da liberdade de expressão?

Quanto às tomadas de decisão o povo só vota mudando ou não os políticos dirigentes e isto não o livra de poderes arbitrários. Só mudar os políticos não chega. É necessário ter voz de VERDADEIRO DONO para mudar a política quando ela se torna prejudicial, corrupta.

Quanto à liberdade de expressão verificamos que não se usa expressões que confiram a liberdade. São feitos desabafos ou lamentações para um próximo que tenha a paciência de escutar e tudo continua na mesma ou pior. É preciso saber fazer-se ouvir por quem é de direito fazer correções.

Registo como uma nota assustadora o comentário de um compatriota a afirmar que se os da diáspora estivessem no país não se atreveriam a assinar os comentários com o nome verdadeiro. O que se passará no nosso país? Reflitamos.

Se a democracia fosse estatuída e incrementada como uma prática organizada em vez de ser simplesmente anunciada, todos os cidadãos cumpririam o dever cívico de serem políticos dado que a política é a gestão de causas sociais e essas causas são de todos visto que o POVO É DONO do património social e como tal deve exigir que os “gestores” sigam o rumo definido e controlado pelo mais legítimo interessado, O POVO.

Não precisamos de ser eleitos para sermos políticos. Não sejamos políticos só na altura das eleições.

Há mais de três séculos e meio Antes de Cristo o filósofo Platão disse: “O preço a pagar pela tua não participação na política é seres governado por quem é inferior.”

Talvez não seja correto considerar inferior a nenhum humano. Todavia, se consideramos que o que eleva com distinção a natureza humana é a preocupação com o próprio bem-estar e o dos outros, acredito que muitos poderão pensar que já fomos governados por “pessoas inferiores”.

Já imaginaram o que seria o país se depois de cumpridas as funções diárias, as pessoas se reunissem para falar das melhores atitudes a ter para utilidade pública e que medidas claras pudessem implementar para pedir explicações quando os poderes existentes não revelassem propósito para corrigir atitudes de laxismo e corrupção que lesam a Pátria?

Devemos constituir várias alianças patrióticas como forma de mobilizar organizadamente as massas no sentido de um PODER POPULAR sem anarquias, sem ódios, sem inveja, sem destruição nem marginalização de ninguém. Essa aliança terá mais força que qualquer uma que queira apenas reforçar os poderes já existentes.

O POVO FAZ A NAÇÃO. A qualidade do povo é refletida na nação. Todas as qualidades podem e devem ser metodicamente melhoradas.

A Aliança Patriótica foi ou é um grupo de jovens que considerei gloriosos no meu comentário porque indicaram-nos que na nossa sociedade as pessoas podem se reunir em grupos com reivindicações em determinados sentidos. Poderão ter feito um grande desbravamento de caminhos entre a população e os centros do poder.

Repito, pedindo aos jovens da Aliança Patriótica e às outras alianças patrióticas que surgirão pelo bem do país: que não lutem pelo reforço de poderes existentes. Constituam O QUINTO PODER, O PODER POPULAR.

Com a formação de um poder popular sólido e coerente, entre outras teremos as seguintes vantagens:

A – Redução dos casos de corrupção de desfechos não explicados.
B – Entrada dos rendimentos da força dos trabalhadores, da exploração dos recursos naturais e das ajudas externas na conta do Estado, com consequente criação de fundos para desenvolvimento interno.
C – Fomento da distribuição justa da riqueza nacional incentivando aos nossos quadros residentes a uma maior contribuição com os seus conhecimentos para o desenvolvimento multifacetado do país.
D – Redução da necessidade de recolha de bens alheios causadora de confrontos físicos graves e de desânimo dos que realmente pretendem produzir.
E – Harmonização da relação com os governantes com base na confiança que nasça da transparência, evitando assim, que os trabalhadores dos mais altos níveis de responsabilidade possam sentir que fazendo bem ou não serão inevitavelmente encarados com desconfiança.
F – Que a transparência deixe de fazer parte da boa vontade de quem quer que seja para ser fruto imperdível da VONTADE POPULAR.

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