domingo, 6 de maio de 2012

São Tomé: JORNALISTAS AMORDAÇADOS NO DIA DA LIBERDADE DE IMPRENSA



Abel Veiga – Téla Nón

Com um silêncio frio num dia de chuva intensa em São Tomé Príncipe, os jornalistas são-tomenses e as instituições ligadas a comunicação social, reagiram ao 3 de Maio, dia liberdade de imprensa.

A liberdade de imprensa é uma realidade em São Tomé e Príncipe, desde o advento da democracia pluralista em 1991. Nunca um jornalista são-tomense foi agredido no exercício das suas funções. No país até agora calmo, ninguém perdeu a vida por causa do conteúdo de uma reportagem radiofónica ou televisiva, ou por desabafo feito nas redes sociais.

No entanto este ano o dia da liberdade de imprensa assinalado 3 de Maio, ficou marcado por um profundo silêncio dos jornalistas.

Na TVS, o Téla Nón contactou pelo menos 5 jornalistas para emitir a sua opinião sobre a liberdade de imprensa em São Tomé, mas todos recusaram. Na “Televisão de Todos Nós”, nenhum profissional ousou falar sobre a liberdade de informar e de ser informado, tanto para o Téla Nón como para outro órgão de comunicação social, presente na estação televisiva para ouvir os profissionais.

O Sindicato dos Jornalistas, veio comprovar que a classe está amordaçada. Fonte da Direcção do Sindicato contactada para falar, respondeu que a organização representante de todos os jornalistas, impôs blackout no dia da liberdade de imprensa, porque segundo a fonte do sindicato, há questões litigiosas a serem tratadas com o Governo. «Se falarmos teremos que tocar nestas questões. Não queremos abrir feridas e nem toda gente está disponível para enfrentar a guerra que pode advir deste pronunciamento», disse o membro da direcção do sindicato, que falou com o Téla Nón.

O Conselho Superior de Imprensa, órgão máximo de fiscalização da actividade da imprensa no país, também optou pelo silêncio. «Não. Ninguém vai falar sobre isso. Estamos a espera que nomeiem os novos membros para o conselho. Deve estar a recordar das asneiras que se falou no parlamento, contra nós», disse um dos membros do Conselho.

Silêncio pesado, a dominar a classe dos jornalistas. A violência física contra os jornalistas não é prática em São Tomé e Príncipe, mas mecanismos de pressão e de represálias foram sempre activos na relação entre o poder e a imprensa.

São de Deus Lima, Jornalista do Semanário Kê Kua, não está amordaçada. «Se comparar São Tomé e Príncipe com determinados países no mundo, dir-se-á que há um grau apreciável de liberdade de imprensa. É verdade que a repressão e o condicionamento são mais discretos», afirmou a jornalista.

Queixas de censura são habituais no seio dos jornalistas pertencentes aos órgãos estatizados da comunicação social. «A preocupação quer de jornalistas quer de membros mais atentos da opinião pública, prende-se com o direito a informação. É aí que se faz sentir mais a nível dos órgãos de comunicação social estatais, uma limitação, e muitas vezes uma supressão do direito a informar e do direito a ser informado», reforçou São Deus Lima.

Um problema antigo, que persiste no tempo. Nos últimos tempos aumentou a pressão sobre os jornalistas e o controlo directo sobre notícias. «Esta situação não é de hoje, mas há momentos que levam a conclusão, de que no que toca ao direito a informar e de ser informado, essa tentativa de controlo da informação se agravou», conclui a jornalista do semanário Kê Kua.

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