Pesquisa revela que
91% dos entrevistados acham a cidade pouco ou nada segura para se viver (em
2011, eram 89%). Para a redução do medo e da insegurança só existe um caminho
adequado: estender os direitos das pessoas e conferir maior vitalidade aos
laços sociais e familiares, com mais igualdade e democracia.
Luiz Flávio Gomes - Carta Maior
A quarta pesquisa
dos Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município de São Paulo (IRBEM),
encomendada pela Rede Nossa São Paulo e divulgada pelo Ibope, revela que 91%
dos entrevistados acham a cidade pouco ou nada segura para se viver (em 2011,
eram 89%). Entre 24 de novembro e 8 de dezembro de 2012, 1.512 paulistanos
foram ouvidos. A implicação política dessa realidade é mais do que evidente.
Geraldo Alckmin, pelo que se tem noticiado, pretende sua reeleição. Mas quem
governa por meio do delito, ou seja, quem governa tendo o item segurança como
indicador máximo da sua performance, corre alto risco de ser afastado do poder
quando 9 em cada 10 pessoas se sente insegura numa determinada cidade
(sobretudo quando esta cidade conta com vários milhões de habitantes).
A que se deve essa sensação explosiva de insegurança em São Paulo? Desde logo,
ao aumento brutal dos assassinatos em 2012. O governo de São Paulo fez uma
opção consciente (“quem não reagiu, está vivo”), desde o começo do ano passado,
pelo combate violento contra o PCC. Escalou a Rota para esse sanguinário papel.
A retaliação foi imediata contra os policiais (mais de 100 mortos no ano
passado). Ou seja: mais de 100 famílias de policiais estão até agora chorando
seus desaparecidos.
A política de “mexicanização da segurança” não deu certo nem no México (60 mil
mortos em 6 anos), nem em São Paulo. Uma quantidade enorme de jovens,
geralmente negros ou pardos, sem nenhum vínculo com qualquer crime (ou, pelo
menos, com o crime organizado), começou a ser trucidada nas periferias de São
Paulo. Massacre indiscriminado.
O nível de violência, tanto privada quanto pública, concretizada inclusive por
meio de chacinas, atingiu patamares assustadores ou epidêmicos (como diz a
Organização Mundial de Saúde). Com o toque de recolher, vários bairros de São
Paulo ficaram praticamente intransitáveis no período noturno. A insatisfação e
a ira da população são infinitas.
A violência foi o item mais citado pelos entrevistados (71%, contra 67% em
2011) como fonte de medo. O risco de ser assaltado ou roubado (63%) e sair à
noite (41%) também foram mencionados. A nota dada a São Paulo foi 4,7 (de um
máximo de 10). Ou seja: a cidade de São Paulo está reprovada pelos seus
moradores! Tanto a polícia militar quanto a polícia civil foram não são
confiáveis (60%).
O que fazer? Dizem os entrevistados: combater a corrupção na polícia e nos
presídios (42%), criação de oportunidades de trabalho para jovens de baixa
renda, aumento do número de policiais, investimento em educação de qualidade,
diminuição da desigualdade etc.
Para a redução do medo e da insegurança só existe um caminho adequado: estender
os direitos das pessoas, conferir maior vitalidade aos laços sociais e
familiares, ou seja, fazer o que outros países menos abestados (Canadá, por
exemplo) fizeram: mais igualdade e mais democracia. Esse é o único caminho que
viabiliza a evolução segura da “besta humana”, rumo à construção de uma cidade
composta de “animais domesticados” (Nietzsche), que são os únicos que sabem o quanto
vale uma polis civilizada.
*Luiz Flávio Gomes é
jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil - (www. institutoavantebrasil.com.br).
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