Daniel Oliveira –
Expresso, opinião
Nas remodelações
governamentais descobrimos sempre qualquer coisa. Quando alguns secretários de
Estado se vão embora acontece ouvirmos falar deles pela primeira vez. E dos
seus cargos. Fiquei, na mini-remodelação de Passos, a saber que há um para o empreendedorismo.
Mas nas nomeações
para os substituir também podem ser instrutivas. A nomeação de Franquelim
Alves para a tal secretaria de Estado do empreendedorismo não chega a revelar
nada que não se soubesse: que o governo mantém uma relação próxima com quase
todos os que estiveram envolvidos na gestão da SLN, grupo responsável pelo
maior escândalo financeiro deste país e que custa e continuará a custar aos
portugueses muitos dos cortes que se estão a fazer. Nada melhor do que um
administrador da SLN para ficar com a pasta do empreendedorismo. Quem pode
negar que estes senhores foram empreendedores e imaginativos.
Como se sabe, Dias
Loureiro continua a ser um dos principais conselheiros de Passos Coelho e
Miguel Relvas. E quem esperava que um dos principais patronos deste senhor, o
atual Presidente da República, que o colocou e tentou manter no Conselho de
Estado, fosse alguma vez impedir esta nomeação só pode ter andado muito
distraído em relação às redes de relações políticas da SLN.
O que a escolha
revela não é o que todos já sabíamos. O que ela revela é que Passos
Coelho, passado tão pouco tempo deste escândalo de proporções inacreditáveis,
já passou à fase da reabilitação dos envolvidos.
Fraquelim Alves
sabia, o próprio o disse na comissão de inquérito ao BPN, do que se passava no
grupo onde era administrador. Sabia e guardou para si. Aceitar que este senhor
- segundo o ministro da Economia, com um excelente currículo e idoneidade à
prova de bala - ocupe um cargo público, ainda por cima no governo, depois de
ter sido, pelo menos por omissão, cúmplice escândalo que está a custar aos
contribuintes rios de dinheiro, ultrapassa todos os limites do aceitável. Esta
nomeação não é apenas um insulto aos portugueses. É a demonstração de que este
governo já nem se preocupa em dar a aparência de alguma decência.
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