segunda-feira, 23 de abril de 2012

PENTÁGONO APRESENTA A CONTA



José Goulão – Jornal de Angola, opinião

Os Estados Unidos e a OTAN tencionam pedir à China e a Rússia que financiem parte da manutenção da estabilidade no Afeganistão depois da saída das tropas invasoras, prevista para 2014. Este pedido, que já está em curso através de diligências diplomáticas, é a confissão plena do fracasso da estratégia proclamada por Washington quando formou o maior exército algumas vez reunido no mundo para desencadear uma guerra que, feitas as contas, não consegue ganhar.

O que os Estados Unidos e a OTAN proclamaram depois de terem trocado o governo dos talibãs em Cabul por um regime político da sua inteira confiança foi a intenção de instaurarem um Afeganistão democrático dotado com um novo e moderno sistema militar e de segurança.

O que os Estados Unidos e a NATO revelam agora, quase 11 anos e centenas de milhares de mortos depois, são os seus receios de que o ”novo” Afeganistão, teoricamente dotado com um exército e uma polícia criados de raiz, entre em guerra civil logo que as tropas estrangeiras virem costas. Para já preparam-se para deixar um regime corrupto que pouco consegue governar para lá dos limites de Cabul, um país que concentra uma produção de ópio que assegura mais de 90 por cento do tráfico de heroína do mundo nas mãos de senhores da guerra, de uma organização talibã que sobreviveu ao conflito e estendeu ainda mais os seus braços pelo interior do Paquistão e uma região minada por uma constelação de bandos e grupos armados fundamentalistas religiosos e separatistas que ameaçam estilhaçar as fronteiras actuais dos territórios afegão e paquistanês.

A democracia afegã revelou-se uma burla através de eleições em cujos resultados ninguém acreditou e que serviram para mandatar um regime de faz de conta que pouco tempo conseguirá manter-se logo que os protectores o abandonem. Vejam o estado em que ficaram o Iraque e a Líbia depois de guerras e invasões promovidas também para instaurar “a democracia”.

A invasão do Afeganistão foi uma das operações mais irresponsáveis dos tempos modernos, ignorando as lições da história recente e mais remota, repetindo erros não na forma de farsa, como às vezes se diz, mas em situação de tragédia que flagela um povo há décadas sucessivas.
A invasão russo-soviética teve como epílogo uma guerra civil entre grupos terroristas financiados e treinados por serviços secretos ocidentais em cooperação com os da Arábia Saudita e do Paquistão. Dessa guerra emergiram facções como a al-Qaida e os talibãs, que são o que se sabe, e o muito que não se sabe.

A gigantesca operação contra Bin Laden e os talibãs deixa o Paquistão em frangalhos e o Afeganistão ainda em regime de guerra civil.

Depois de feita a invasão e querendo livrar-se dela, incapaz de a ganhar, o Pentágono apresenta a conta não apenas aos aliados como ao resto do mundo, mesmo aos que a ela se opuseram. Os erros e a irresponsabilidade evidentes não curaram a prepotência imperial nem afastaram a ameaça de novas guerras. O fracasso não serviu de lição.

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