segunda-feira, 9 de julho de 2012

A AMPLA CIDADE



Rui Peralta

Israel

O presidente do Conselho Mundial de Diamantes (WDC), Eli Izhakoff, declarou na reunião de Maio deste ano que “não pode associar-se o diamante com a violência colectiva contra as comunidades”, exactamente o tipo de repressão que as forças sionistas oprimem o povo palestiniano. Mas quando o movimento Solidariedade Palestina Global (GPS) enviou uma carta ao Conselho Responsável de Joalharia (CRJ) em Abril do ano passado, o director executivo deste Conselho respondeu que estava fora de questão qualquer boicote á industria diamantífera israelita.

Também o Líbano é conhecido no mercado global diamantífero geralmente pelas piores razões. Eliminado do KP em 2004, foi readmitido em 2007 e é hoje um dos grandes intermediários do sector israelita. O Sindicato Libanês dos Comerciantes de Joalharia insiste em que o Líbano cumpre todas as obrigações requeridas pelo KP e que os diamantes delapidados israelitas não estão cobertos pelo protocolo do KP e que o Líbano nada tem a ver com essa situação. Mas o que é um facto é que os consumidores libaneses e os operadores deste país, compram e comercializam diamantes delapidados israelitas, financiando o exército israelita, isto apesar de todas as negações por parte das autoridades libanesas e dos seus operadores privados.

Se os diamantes delapidados israelitas poderem classificar-se internacionalmente como diamantes de sangue, o seu percurso comercial poderia ser limitado. Claro que quando o KP e o WDC contarem entre os seus membros com várias organizações e empresas israelitas isso será bastante difícil. Asad Ghsoub, do grupo Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) de Beirute propõe uma acçäo contra os diamantes israelitas a partir de campanhas contra os diamantes de origem desconhecida e não rasteáveis em geral. Este grupo é um dos que investiga a comercialização de diamantes israelitas no Líbano e sua distribuição internacional a partir de operadores libaneses.

Ausência

A alma entardece, perdem-se os sentidos e morre-se aos poucos. Mas a vida acontece num cruzar de gemidos roucos.

Palestina

O governo sul-africano proibiu a importação de produtos precedentes dos colonatos israelitas. A decisão foi aplaudida na Cisjordânia e em Gaza. A BDS considerou esta uma victória simbólica e relembrou o apoio que o povo palestiniano prestou ao ANC e outras organizações na longa luta contra o apartheid, agora retribuído neste singelo acto de solidariedade. Esta campanha na Africa do Sul, que levou o governo sul-africano a tomar esta primeira medida, foi levada a cabo pela BDS, diversos grupos palestinianos e israelitas de direitos humanos e sul-africanos, caso da Open Shuhada Street que se centrou na Ahava, uma companhia israelita que elabora produtos num colonato da Cisjordânia.

Dias depois do anúncio sul-africano, o Ministro dos Assuntos Exteriores da Dinamarca afirmou a intenção do governo dinamarquês de revisar os seus tratados comerciais com Israel e levar á Comissão Europeia e ao Parlamento Europeu uma proposta de ilegalizar no espaço da UE os produtos provenientes dos colonatos de Israel. Por sua vez o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Irlanda, Eamon Gilmore comunicou numa reunião de ministros dos assuntos externos dos países da UE que quando a Irlanda exercer a presidência da UE, em Janeiro de 2013, a sua primeira medida seria a proibição dos produtos importados dos colonatos. Por sua vez o governo britânico, que desde 2009 estabeleceu novas formas de etiquetas para estes produtos, considera estudar medidas de proibição e levar o assunto às reuniões de ministros do comércio da UE.

No entanto apesar da importância desta tomada de posições, elas não serão mais que simbólicas se a Africa do Sul e a UE não ampliarem o seu controlo sobre as empresas israelitas, que estão a recorrer a vários estratagemas para furar as listas da UE e o seu controlo alfandegário. Bill Van Esveld, da Human Rights Watch (HRW), comentou sobre estas medidas que o governo de Israel agrupa os produtos dos colonatos ilegais e nos territórios ocupados com produtos fabricados em Israel, criando novas marcas e contornando a supervisão da UE. Muitas das vezes os rótulos obrigatórios que a UE exige para a comercialização no mercado europeu é substituído na própria embalagem.

Por sua vez o Congresso dos Sindicatos Britânicos (TUC) realiza uma grande campanha denominada Campanha de Solidariedade com a Palestina. O TUC é a maior confederação sindical do Reino Unido, representando cerca de seis milhões e 500 mil de trabalhadores. Também a Confederação dos Sindicatos do Reino da Suécia, com um milhão e 500 mil membros, solidarizou-se com o movimento sindical palestiniano, tomando medidas para que o capital sueco não seja investido nos colonatos israelitas e nos territórios ocupados e que as empresas suecas deixem de fazer negócios com empresas israelitas que operam nos colonatos e nos territórios ocupados.

Na Grã-Bretanha e apoiando as campanhas iniciadas pelo TUC e as campanhas internacionais da BDS o grupo Co-operative a quita maior cadeia de supermercados no Reino Unido decidiu não comprar produtos israelitas e a Igreja Metodista Unida aprovou uma resolução na sua ultima assembleia geral que apela aos crentes da igreja em todo o mundo (cerca de 12 milhões de fieis) para que boicotem a importação de produtos provenientes dos colonatos e nos territórios ocupados e não comprem produtos provenientes de Israel que não tenham o certificado da UE.

Ausência

Oferece-me o teu colo e faz-me cafuné. Abriga-me no teu ser, que seja a tua alma o meu consolo e o teu corpo a minha fé. Quero, em ti, entardecer.

Colômbia

O chefe paramilitar Salvatore Mancuso, preso nos USA, revelou recentemente numa entrevista concedida á Caracol Noticias e divulgada pela Agencia de Noticias Nova Colômbia (ANNCOL), as suas estreitas relações com o ex-presidente colombiano e actual senador, Álvaro Uribe, a quem acusa de ter atraiçoado as milícias paramilitares da extrema-direita colombiana, para continuar a manter-se no poder, devido às pressões internacionais que denunciavam as cumplicidades do estado colombiano com estas organizações financiadas pelo narcotráfico.

Segundo Mancuso, Uribe quando viu que os chefes paramilitares estavam a desvendar as relações com o estado colombiano, aceitou os pedidos de extradição feitos pelos tribunais dos USA, extraditando-os para os silenciar, impedindo que fossem divulgadas as formas como o estado colombiano, as forças militares e os grande empresários e latifundiários colombianos manejavam e suportavam logisticamente e financeiramente os grupos paramilitares de Mancuso, Castano ou do célebre sanguinário Jorge 40, para executarem de forma sangrenta o terror e as represálias sobre as comunidades da floresta, camponeses, sindicalistas e outros sectores que o estado colombiano consideravam ser de suporte às guerrilhas da FARC-EP e do ELN.

Mancuso considerou ainda que o processo de paz está vetado ao fracasso, não devido ao guerrilheiros, mas devido ao governo, que irá tentar minar constantemente o processo. Acusa ainda que só estão presos os cabecilhas paramilitares como ele e alguns, poucos, deputados da bancada uribista, mas nem um dos principais estrategas foi sequer chamado a depor ou a responder às acusações que os próprios réus fizeram. Mancuso diz que reuniu-se diversas vezes com Uribe, tal como os outros chefes paramilitares, e que o cartel de Medellín financiou o as campanhas presidenciais, na figura de Fábio Ochoa Vasco (também detido nos USA), assim como financiava as organizações paramilitares, a troco de cobertura e defesa das plantações e laboratórios que o cartel detinha nas florestas colombianas.

Na voz de Mancuso, o ex-presidente Álvaro Uribe e o seu irmão Santiago Uribe foram os mentores de uma das mais terríveis organizações terroristas paramilitares de extrema-direita os “Doze Apóstolos”, que actuava no norte de Antioquia, formada nos tempos em que Álvaro Uribe foi governador dessa província. Descreve depois, Mancuso, a forma como as Cooperativas de Vigilância, formadas pelos governadores e sob sua responsabilidade e do Ministérios do Interior, serviram de trampolim para o fortalecimento do paramilitarismo fascista e acusa ainda que Uribe tentou substituir o Supremo Tribunal de Justiça e retirar-lhe os processos relacionados com a luta contra a guerrilha, criando tribunais ad-hoc, facilmente manipuláveis, mas que o Supremo Tribunal barrou-lhe o caminho, considerando-a anticonstitucional e obrigando o Congresso (que contava com a maioria de Uribe) a rever essa medida, para que o Supremo não tivesse que declarar o governo anticonstitucional o que implicaria a dissolução do Congresso e a convocação de novas eleições.

Segundo Mancuso a empresa La Chiquita, a filial colombiana da United Fruit Company, estipulava para os paramilitares 30 cêntimos de USD por cada caixa de bananas exportada. A Postobon e outras empresas nacionais entregavam recursos, financeiros e outros, aos paramilitares. Enfim um role de acusações, que Mancuso diz poder comprovar e que entregou nos tribunais colombianos.

A Colômbia tem o direito de saber a verdade e sair das trevas a que sucessivos governos oligárquicos a têm submetido. Neste sentido as declarações de Mancuso, um dos mais temíveis dirigentes da extrema-direita sanguinária, suportada pela oligarquia e pelos seu representantes políticos, que não se coíbem de negociar os apoios dos cartéis do narcotráfico, são de extrema importância e fundamentais para um julgamento histórico que reponha a verdade e a justiça, condenando os assassinos, ladrões e vende-pátrias da oligarquia, que exploram o povo colombiano e mancham de sangue o solo pátrio.

Ausência

Entardece...Quero ler o castanho da tua pele e o teu escrever, que o amor não esquece o sabor a mel.

India

Antilla, o mais dispendioso edifício da India (e um dos mais dispendiosos do mundo), com 27 andares, 3 heliportos, vários jardins suspensos, diversos ginásios, várias termas e spas, 6 pisos para parqueamento de viaturas, 600 funcionários e uma enorme gama de luxuosas instalações e serviços, para além da sua estranha forma arquitetónica (uma rede de retângulos sobrepostos), pertence a Mukesh Ambani, o homem mais rico da India (um país em que as fortunas dos 100 mais ricos representam ¼ do PIB) e um dos fenómenos do capitalismo brics (versão homem novo, agora homem brics, o modelo de homo economicus que o capitalismo dos emergentes quer apontar como futuro da humanidade).

300 milhões de indianos pertencem á recém-alargada “classe média”, uma coisa criada pela conjuntura pós-reformas do FMI, consumidores natos e profícuos devedores aos bancos, onde empregam todo o seu médio salário para garantir, casa, carro e mobília. Estes 300 milhões vivem lado a lado com uma vasta comunidade de 800 milhões fantasmas de desempregados, espíritos famintos dos rios mortos, das planícies secas, das montanhas áridas e das florestas nuas, despidas de árvores pelas mineiras e as almas penadas de 250 mil camponeses que optaram pelo suicido para não terem de ver os rostos famintos dos filhos, em contraste com o rosto gorducho dos funcionários judiciais que os visitam para entregar ordens de execução fiscal por motivo de dividas impagáveis. Enfim 800 milhões de corpos esqueléticos que vivem com menos de 20 rupias por dia.

Claro que o exemplo mais esplendoroso do homem brics, Mukesh Ambani, ganha pessoalmente, 500 mil vezes mais, por dia. Ele controla maioritariamente a Reliance industries Limited (RIL) uma companhia com uma capitalização de 47 mil milhões de USD e com negócios em todo o mundo, desde petroquímicas, petrolíferas, gás natural, polyester, negócio diversos nas Zonas Económicas Especiais, alimentação, universidades privadas, farmacologia, investigação científica e tecnológica e recentemente a engenharia genética. Aquisição recente, também, foram os 95% da Infotel, consorcio televisivo que controla 27 canais de informação, incluindo a CNN-IBN, IBN Live, CNBC, IBN Lokmat e ETV, em todas as linguagens regionais. A Infotel é também proprietária da única licença indiana para o sistema 4G, o pipeline de alta velocidade da informação. Para além disto tudo o senhor Ambani é também proprietário de uma equipa de cricket.

A RIL não é a única corporação da India. Existe uma mão cheia delas. A Tatas, a Jindals, a Vedanta, a Mittals, a Infosys, a Essar e a ADAG (cujo proprietário é irmão de Ambani). Podem ser vistas na Europa, na Asia Central, em África e na América Latina. Mas também podem não dar nas vistas. Por exemplo a Tatas esconde-se por detrás de 100 companhias, em 80 países. É proprietária de minas, de campos de gás, de terras, de aço, de telefones, de TV por cabo, de agências de informação, de estúdios de cinema, construtora de torres, fabrica carros, camiões, tractores agrícolas, dona da cadeia de hotéis Taj Hotel, socia maioritária da Jaguar, da Land Rover, da Daewoo, da Tetley Tea, tem uma multinacional de publicações, uma rede mundial de livrarias, são reis do sal e proprietários dos cosméticos Lakme. O slogan deles: Não consegue viver sem nós””…claro. O nome deste nós? Capitalismo.

Fontes
Omar Barghouti; Boycott, Divestment, Sanctions: The Global Struggle for Palestinian Rights Haymarket, 2011
Patrick Galey; Israeli blood diamonds global conspiracy; http://english.al-akhbar.com
Omar Barghouti; Palestinians want the full menu of rights; http://mg.co.za
Iván Márquez; Mancuso acusa al poder; http://anncol1.blogspot.com.es
Arundhati Roy; Capitalism: A Ghost Story; http://www.zcommunications.org
The Guardian; 10/12/2009; 29/04/2012

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