Projeções mostram
centro-esquerda com maioria na Câmara, mas sem o controle do Senado. Situação
põe em risco governabilidade no país, que atravessa momento de turbulência
política e econômica.
O surpreendente
crescimento da coalizão de centro-direita do ex-primeiro-ministro Silvio
Berlusconi e o excelente resultado do Movimento Cinco Estrelas, liderado por um
comediante e que parece ter conseguido catalizar o crescente descontentamento
social, ameaçam jogar a Itália num impasse político.
Segundo resultados preliminares,
a coalizão de centro-esquerda de Pier Luigi Bersani confirmou o favoritismo e
conseguirá a maioria na Câmara dos Deputados. No Senado, no entanto, a apuração
parcial mostrava na noite desta segunda-feira (25/02) que nenhum partido seria
capaz de formar maioria – exatamente o oposto do que precisa a Itália, cuja
estabilidade é ameaçada por turbulências políticas, pela recessão e pelo
desemprego crescente.
Com 88% dos votos
apurados e segundo projeções da imprensa italiana, a coalizão de Berlusconi
obteria 123 senadores, número que a centro-esquerda, com 104 cadeiras, não
conseguiria alcançar mesmo em coalizão com o partido centrista do atual
primeiro-ministro Mario Monti, que teria 17. O ator Beppe Grillo e seu
movimento conseguiriam surpreendentes 57 senadores, o que, em tese, daria-lhes
a chave para resolver o impasse político. O comediante, no entanto, já
descartou qualquer aliança.
No peculiar sistema
eleitoral italiano, ter a maioria dos votos em nível nacional não significa
necessariamente ter o controle do Senado. Isso porque as cadeiras são
distribuídas de acordo com o desempenho do partido em cada região. Quem vencer
na Lombardia, por exemplo, leva 55% das quase 50 cadeiras independentemente da
diferença de votos entre os partidos.
Em nível nacional,
uma projeção do Instituto Piepoli divulgada na noite de segunda-feira mostrou a
coalizão de Berlusconi praticamente empatada com o bloco que apoia Bersani no
Senado, com 30,7%, cada um. A televisão RAI reportou uma vantagem de Bersani,
com 31,9% contra 30,5% para Berlusconi. Em terceiro, viria o Movimento Cinco
Estrelas, com 24,5%, seguido da coalizão de Monti, com 9,5%
Caso não consiga a
maioria no Senado, Bersani será forçado a buscar uma coalizão com o
primeiro-ministro Mario Monti. Analistas alertam que essa possa ser uma opção
politicamente instável, devido às diferenças entre os dois campos.
Sobe e desce nos
mercados
Os mercados
financeiros europeus mostraram preocupação com a possibilidade de que não haja
um vencedor claro, o que poderá trazer instabilidade à terceira maior economia
da zona do euro, depois da Alemanha e da França.
Investidores
saudaram os primeiros sinais de uma possível vitória da esquerda, com a bolsa
de Milão apresentando alta de mais de 3,5%. No entanto, os números dos mercados
se retraíram, após a divulgação dos primeiros resultados dando maioria para a
coalizão de Berlusconi no Senado.
O comparecimento às
urnas foi de cerca de 75%, cinco pontos percentuais a menos que nas últimas
eleições, em 2008.
Desilusão
Analistas italianos
atribuem à desilusão provocada com a crise o motivo pela participação
relativamente baixa e pelo grande número de votos de protesto. "A Itália
vira as costas para a política, abandona as urnas, e é assim que registra seu
protesto", escreveu o diário de esquerda Il Fatto Quotidiano. O
conservador Corriere della Sera afirma que o baixo comparecimento às urnas
reflete em "desorientação aguda" no eleitorado, diante de uma
"crise sem fim à vista".
A grande surpresa
desta eleição foi o comediante Beppe Grillo, que pede que as dívidas da Itália
sejam canceladas e a realização de um referendo sobre a permanência na zona do
euro. Ele fez comícios em praças cheias durante a campanha, canalizando a
frustração dos italianos, que vêm suportando sua maior recessão em duas
décadas. Críticos consideram os candidatos de seu partido como muito
inexperientes, enquanto os simpatizantes afirmam que eles trarão um novo ar à
política.
MD/rtr/dpa/afp - Revisão: Rafael Plaisant Roldão
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