segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A TROIKA E A DESGRAÇA DO OCIDENTE




Henrique Monteiro – Expresso, opinião

A sétima avaliação que começa hoje a ser feita pelas três entidades que nos emprestaram dinheiro chegará, como sempre, a conclusões polémicas. Até hoje, pouco do que recomendaram teve efeitos positivos visíveis. É um facto.

Para a esquerda isto significa o falhanço de uma receita, e tem razão. Para a direita, explica-se por efeitos exógenos ou externos que não permitem (caso das exportações) o comportamento esperado da economia portuguesa e também tem razão. Para a direita, Portugal viveu a acima das suas possibilidades, o que é estatisticamente correto; para a esquerda esta ideia é uma enormidade num país ainda tão longe da média de riqueza europeia, o que é socialmente correto.

No final da avaliação podemos esperar a mesma receita com um pouco de mais tempo, com uma pequena melhoria das condições. Mas nunca uma alteração essencial do estado de empobrecimento em que vivemos.

O historiador e politólogo António Costa Pinto, num artigo (no 'Público') muito acertadamente chamado 'Uma camisa de sete varas' escreve este resumo notável: "gerir este 'empobrecimento competitivo' de forma prolongada é o grande desafio da democracia". Porque, na realidade, seja quem for que estiver no poder, o nosso destino (nosso português, europeu e, muito provavelmente de quase todos os países a que nos habituámos a chamar ocidentais) é esse. Um "empobrecimento competitivo".

Quem tiver estudado História compreende que este Ocidente, de que Portugal faz parte, andou séculos a viver à custa da América Latina, da África, da Ásia. A globalização (que a esquerda erradamente previu como uma forma de os países ricos enriquecerem mais, à custa dos pobres) foi mal feita, sem exigir garantias sociais aos países chamados emergentes. O 'Uruguai Round' tentou, mais tarde, corrigir esse aspeto, mas falhou. Brasil, Rússia, Índia e China (os BRIC) começaram a criar uma classe média e a retirar seres humanos da pobreza (li que só no Brasil saíram da pobreza no último ano 12 milhões de pessoas, mais do que um Portugal inteiro). Seguem-se os MIST (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia), além de que países em África e na Ásia são cada vez mais poderosos do ponto de vista económico. Em boa teoria devíamos alegrar-nos por este reequilíbrio da riqueza humana,mas o facto é que ele é feito à nossa custa.

Este é o verdadeiro desafio do Ocidente, e não há receita, nem troika, nem políticos que lhe valha. Claro que, como em tudo, podemos fazer as coisas melhor ou pior. Mas, no essencial, o mundo está a nivelar-se, como não acontecia há séculos. E, ou consegue, de novo, um enorme salto tecnológico (mas a inovação também perde gás), ou o Ocidente está, em boa parte perdido, no sentido em que deixará de ser o centro de todas as decisões e de toda a riqueza.

Não vejam aqui pessimismo. Muitos impérios caíram e o mundo continuou. O raio é que nos está a acontecer a nós.

Sem comentários:

Mais lidas da semana