Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
A sétima avaliação
que começa hoje a ser feita pelas três entidades que nos emprestaram dinheiro chegará,
como sempre, a conclusões polémicas. Até hoje, pouco do que recomendaram teve
efeitos positivos visíveis. É um facto.
Para a esquerda
isto significa o falhanço de uma receita, e tem razão. Para a direita,
explica-se por efeitos exógenos ou externos que não permitem (caso das
exportações) o comportamento esperado da economia portuguesa e também tem
razão. Para a direita, Portugal viveu a acima das suas possibilidades, o
que é estatisticamente correto; para a esquerda esta ideia é uma enormidade num país
ainda tão longe da média de riqueza europeia, o que é socialmente correto.
No final da
avaliação podemos esperar a mesma receita com um pouco de mais tempo, com uma
pequena melhoria das condições. Mas nunca uma alteração essencial do
estado de empobrecimento em que vivemos.
O historiador e
politólogo António Costa Pinto, num artigo (no 'Público') muito acertadamente
chamado 'Uma camisa de sete varas' escreve este resumo notável: "gerir
este 'empobrecimento competitivo' de forma prolongada é o grande desafio da
democracia". Porque, na realidade, seja quem for que estiver no poder, o
nosso destino (nosso português, europeu e, muito provavelmente de quase
todos os países a que nos habituámos a chamar ocidentais) é esse. Um
"empobrecimento competitivo".
Quem tiver estudado
História compreende que este Ocidente, de que Portugal faz parte, andou
séculos a viver à custa da América Latina, da África, da Ásia. A globalização
(que a esquerda erradamente previu como uma forma de os países ricos
enriquecerem mais, à custa dos pobres) foi mal feita, sem exigir garantias
sociais aos países chamados emergentes. O 'Uruguai Round' tentou, mais tarde,
corrigir esse aspeto, mas falhou. Brasil, Rússia, Índia e China (os BRIC)
começaram a criar uma classe média e a retirar seres humanos da pobreza (li
que só no Brasil saíram da pobreza no último ano 12 milhões de pessoas, mais do
que um Portugal inteiro). Seguem-se os MIST (México, Indonésia, Coreia do
Sul e Turquia), além de que países em África e na Ásia são cada vez mais
poderosos do ponto de vista económico. Em boa teoria devíamos alegrar-nos por
este reequilíbrio da riqueza humana,mas o facto é que ele é feito à nossa custa.
Este é o verdadeiro
desafio do Ocidente, e não há receita, nem troika, nem políticos que
lhe valha. Claro que, como em tudo, podemos fazer as coisas melhor ou pior.
Mas, no essencial, o mundo está a nivelar-se, como não acontecia há séculos. E,
ou consegue, de novo, um enorme salto tecnológico (mas a inovação também perde
gás), ou o Ocidente está, em boa parte perdido, no sentido em que deixará
de ser o centro de todas as decisões e de toda a riqueza.
Não vejam aqui
pessimismo. Muitos impérios caíram e o mundo continuou. O raio é que nos
está a acontecer a nós.
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