Alfredo Leite –
Jornal de Notícias, opinião
Se o problema se
circunscrevesse à Madeira, o título da crónica poderia muito bem ser
"república da banana". Mas ele é mais abrangente e não precisaremos
de recorrer a diligentes revisores de texto para concluir que este país está a
transformar-se perigosamente numa república de bananas. Comecemos, ainda assim,
pelo arquipélago de Alberto João onde o inimputável presidente do governo
regional e todo o seu Executivo podem acabar em tribunal. Tudo porque o DCIAP
se prepara para acusar Jardim & C.ª de prevaricação. O Ministério Público
terá reunido provas que dão como certo o conhecimento, por parte dos
secretários regionais, de um buraco nas contas públicas de 1100 milhões. Vinda
da Madeira, a notícia não surpreende. Como não surpreenderá se nada vier a acontecer.
Guilherme Silva, que nestas matérias sabe do que fala, já disse acreditar que
deste caso "não resultarão quaisquer condenações". Pelo sim, pelo
não, nas ruas do Funchal já se contesta o até há pouco intocável líder da
região. E Jardim responde aos protestos com a sua habitual elegância:
"Vocês não vale a pena ladrar que ainda não aprenderam a ser
cachorros" (sic). A gravidade do caso já levou a oposição a pedir a
demissão dos Executivo. De Belém e de São Bento, como já se tornou regra quando
o tema é o tabu madeirense, escuta-se apenas o silêncio.
As suspeitas na
Madeira não foram o único 'caso' vivido nesta nossa peculiar república na
semana que agora finda. Soube-se, também, que o texto da Lei de Limitação de
Mandatos publicado no "Diário da República" em 2005 difere do votado
no Parlamento e promulgado pelo então presidente, Jorge Sampaio. A lei foi
alterada na Casa da Moeda, mas a descoberta cirúrgica do gabinete de Cavaco
Silva acontece a pouco mais de meio ano das autárquicas. Ao deslindar a providencial
troca de um "de" por um "da", que permitirá dar um empurrão
a candidaturas polémicas suscetíveis de ações populares, exigia-se, no mínimo, uma
explicação do presidente da República. Mas, tal como em relação à Madeira,
Cavaco Silva nada diz. Nem sequer através do facebook, cuja página oficial não
é atualizada desde 12 de fevereiro, o que revela um baixíssimo índice de
produtividade do chefe de Estado em matéria de redes sociais.
A estranha troca na
Casa da Moeda não morrerá solteira. Afinal, ainda nos recordamos da prodigiosa
amputação no currículo de Franquelim Alves, cuja revelação pública foi feita
sem qualquer referência à sua passagem pela SLN. E, mesmo depois de o próprio
secretário de Estado ter jurado que nunca lhe passou pela cabeça omitir qualquer
trecho do seu CV - ficando no ar a ideia de que tal corte ficou a dever-se ao
excesso de zelo de um qualquer assessor -, nada aconteceu.
Mas bem iria esta
república se os absurdos se contassem pelos dedos de uma mão. Não contam.
Continuamos a ter um ministro das Finanças, qual "meteorologista"
falhado, como apelidou Bagão Félix, incapaz de acertar uma única previsão. A
Economia mantém-se entregue a um homem que agora vem admitir a ineficácia do
seu Governo no combate ao desemprego, área que ele próprio tutela. E, 'last but
not least',verificámos nos últimos dias que temos um ministro-adjunto que não
pode sair à rua sem ser vaiado e insultado. E que ameaça continuar esse caminho
porque, disse-o ontem, "no dia em que tivermos medo estamos arrumados".
Assim vai esta
república... Cada vez mais pródiga na arte do disparate.
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