segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Portugal: A REPÚBLICA DE BANANAS




Alfredo Leite – Jornal de Notícias, opinião

Se o problema se circunscrevesse à Madeira, o título da crónica poderia muito bem ser "república da banana". Mas ele é mais abrangente e não precisaremos de recorrer a diligentes revisores de texto para concluir que este país está a transformar-se perigosamente numa república de bananas. Comecemos, ainda assim, pelo arquipélago de Alberto João onde o inimputável presidente do governo regional e todo o seu Executivo podem acabar em tribunal. Tudo porque o DCIAP se prepara para acusar Jardim & C.ª de prevaricação. O Ministério Público terá reunido provas que dão como certo o conhecimento, por parte dos secretários regionais, de um buraco nas contas públicas de 1100 milhões. Vinda da Madeira, a notícia não surpreende. Como não surpreenderá se nada vier a acontecer. Guilherme Silva, que nestas matérias sabe do que fala, já disse acreditar que deste caso "não resultarão quaisquer condenações". Pelo sim, pelo não, nas ruas do Funchal já se contesta o até há pouco intocável líder da região. E Jardim responde aos protestos com a sua habitual elegância: "Vocês não vale a pena ladrar que ainda não aprenderam a ser cachorros" (sic). A gravidade do caso já levou a oposição a pedir a demissão dos Executivo. De Belém e de São Bento, como já se tornou regra quando o tema é o tabu madeirense, escuta-se apenas o silêncio.

As suspeitas na Madeira não foram o único 'caso' vivido nesta nossa peculiar república na semana que agora finda. Soube-se, também, que o texto da Lei de Limitação de Mandatos publicado no "Diário da República" em 2005 difere do votado no Parlamento e promulgado pelo então presidente, Jorge Sampaio. A lei foi alterada na Casa da Moeda, mas a descoberta cirúrgica do gabinete de Cavaco Silva acontece a pouco mais de meio ano das autárquicas. Ao deslindar a providencial troca de um "de" por um "da", que permitirá dar um empurrão a candidaturas polémicas suscetíveis de ações populares, exigia-se, no mínimo, uma explicação do presidente da República. Mas, tal como em relação à Madeira, Cavaco Silva nada diz. Nem sequer através do facebook, cuja página oficial não é atualizada desde 12 de fevereiro, o que revela um baixíssimo índice de produtividade do chefe de Estado em matéria de redes sociais.

A estranha troca na Casa da Moeda não morrerá solteira. Afinal, ainda nos recordamos da prodigiosa amputação no currículo de Franquelim Alves, cuja revelação pública foi feita sem qualquer referência à sua passagem pela SLN. E, mesmo depois de o próprio secretário de Estado ter jurado que nunca lhe passou pela cabeça omitir qualquer trecho do seu CV - ficando no ar a ideia de que tal corte ficou a dever-se ao excesso de zelo de um qualquer assessor -, nada aconteceu.

Mas bem iria esta república se os absurdos se contassem pelos dedos de uma mão. Não contam. Continuamos a ter um ministro das Finanças, qual "meteorologista" falhado, como apelidou Bagão Félix, incapaz de acertar uma única previsão. A Economia mantém-se entregue a um homem que agora vem admitir a ineficácia do seu Governo no combate ao desemprego, área que ele próprio tutela. E, 'last but not least',verificámos nos últimos dias que temos um ministro-adjunto que não pode sair à rua sem ser vaiado e insultado. E que ameaça continuar esse caminho porque, disse-o ontem, "no dia em que tivermos medo estamos arrumados".

Assim vai esta república... Cada vez mais pródiga na arte do disparate.

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