segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

EUROPA: NOBEL DA ECONOMIA INDIGNADO COM DEFENSORES DA AUSTERIDADE




Lisboa, 25 Fev (AIM)- O Nobel da Economia, Paul Krugman, diz que "defensores da austeridade" na Europa, particularmente na zona euro em crise profunda, estão a parecer cada vez mais "insolentes e delirantes". 

A reacção do economista norte-americano surge cerca de duas semanas depois da Confederação de organizações católicas europeias, a Cáritas Europa, ter lançado um alerta especial para os riscos das políticas de austeridade sobre as crianças e os jovens em cinco países, incluíndo Portugal, Grécia e Espanha. Os outros países são a Irlanda e Itália, segundo um relatório da Cáritas Europa que parte de estatísticas da Comissão Europeia e alerta governantes para o risco de uma ou várias “gerações perdidas”.

Portugal, Grécia e Irlanda têm em comum o facto de estarem incluídos num programa de assistência económica e financeira para reduzir drasticamente o peso da dívida pública e reconquistar a confiança dos mercados nas suas economias. Os restantes dois são a Espanha, país onde vigora um plano de assistência internacional à banca, e Itália.

A conclusão consta de um relatório lançado há cerca de duas semanas na Irlanda, com o título "O Impacto da Crise Europeia – A Resposta da Cáritas à Austeridade". Em Portugal será apresentado a 6 de Março. 

Nestes cinco países, o número de crianças próximas da linha da pobreza ou em risco de pobreza e exclusão aumentou todos os anos, a partir de 2008, atingindo já quase um terço nos países listados. 

“A pobreza infantil é um sintoma da pobreza crescente. Mas é inaceitável”, considera Deirdre de Burca, responsável pelas políticas sociais da Cáritas Europa.

A Cáritas Europa parte das estatísticas oficiais da Comissão Europeia (analisadas por um instituto científico na Irlanda) e constata que é nos quatro países devedores de empréstimos da UE e do FMI e na Itália que os riscos de pobreza ou exclusão das crianças mais dispararam nos últimos quatro anos.

As crianças são assim identificadas (sob risco de pobreza e exclusão) se viverem em famílias com menos de 60 por cento do rendimento mediano nacional (no meio entre os dois extremos) ou cujos pais têm pouco trabalho ou nenhum emprego ou ainda se não têm satisfeitas as necessidades básicas, como alimentos ricos em proteínas, vestuário e aquecimento em casa.

Sob essa definição, em Portugal, 28,6 por cento das crianças estavam em situação de risco de pobreza ou de exclusão em 2011. Nesse ano, eram mais de 30 por cento na Grécia e em Espanha, mais quatro pontos percentuais do que em 2005. Itália e Irlanda não tinham dados actualizados em 2011, mas, em 2010, contavam-se 37,6 por cento na Irlanda e 28,9 por cento em Itália.

O índice de pobreza infantil em Portugal baixou entre 2004 e 2007, mas está acima da média dos 27 países da UE desde 2005 e registou um aumento considerável entre 2007 e 2008 sem nunca baixar desde então. Em 2010, esse índice (diferente do risco de pobreza e exclusão) era de 22,4 por cento quando a média da UE era de 20,5 por cento.

Com este dados, o economistas norte-americanos, Paul Krugman, diz não perceber a "paixão europeia" pela austeridade e considera que os defensores destas políticas estão a parecer cada vez mais "insolentes e delirantes".

"A vontade de prosseguir uma austeridade sem limites é o que define a respeitabilidade nos círculos políticos europeus. E isso seria óptimo se as políticas de austeridade estivessem efectivamente a funcionar - mas não estão", sublinha o Nobel da Economia na sua coluna de opinião no "The New York Times", citado pelo diário luso "Económico". 

Para Krugman, quando a Europa começou a sua paixão com a austeridade, a insistência dos altos funcionários era a de que isso traria a confiança necessária para as já deprimidas economias voltarem a crescer. O que não aconteceu.

"As nações que impuseram políticas de austeridade severas sofreram crises económicas profundas; quanto mais severa a austeridade, mais profunda foi a recessão. E na verdade, esta relação tem sido tão forte que o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), num impressionante mea culpa, admitiu que havia subestimado os danos infligidos pela austeridade", sustenta o economista.

Enquanto isso, a austeridade não serviu sequer para as nações atingirem as metas de redução dos encargos com a dívida, prossegue Krugman. 

"Em vez disso, esses países viram o rácio da dívida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) subir, devido à contracção das economias", destacando o facto de a taxa de desemprego estar a galopar.

"A única boa notícia é que os mercados obrigacionistas acalmaram, em grande parte graças à vontade expressa do Banco Central Europeu", o que evitou um colapso financeiro. 

"Mas isso é um conforto para os milhões de europeus que perderam os seus empregos, mantendo poucas perspectivas", escreve Krugman. Portugal pediu empréstimo a "troika" no valor de 78 mil milhões de euros (pouco mais de 100 mil milhões de USD), em 2011, na condição de implementar rigorosas medidas de austeridade.

Ainda sobre Portugal, cuja capital, Lisboa, chegaram esta segunda-feira representantes da "troika" do FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia para realizar a sétima avaliação do memorando de entendimento, o movimento cívico "Que se lixe a troika" apela a aderência em massa ao protesto de sábado, dia 02 de Março, sublinhando que “os portugueses não são figurantes de um filme”.

O movimento decidiu fazer uma avaliação "negativa" da presença da equipa em Portugal. “Antes, o desemprego cifrava-se em 12,7 por cento e as expectativas menos pessimistas apontam para 17,9 por cento no final de 2013”, afirmou João Gustavo, acrescentando que “a dívida pública estava nos 108 por cento do PIB e aponta-se para 122 por cento no final de 2013”.

Com base nas estatísticas e perante o falhanço do Governo PSD/CDS-PP nas previsões, João Gustavo, membro do grupo, diz citado pela imprensa lisboeta que se trata de um “ciclo vicioso”. “Temos um Governo a governar de costas para o povo, subserviente a interesses da troika”.

O grupo organizador da manifestação sustenta que “os portugueses vão sair à rua para mostrar que o povo é quem mais ordena”. Neste sentido, o movimento assegura que o desafio é “colocar um ponto final no ciclo vicioso”, já que “um relógio parado acerta mais nas horas que o ministro das Finanças (Vítor Gaspar) acerta nas previsões económicas”.

A manifestação, segundo os organizadores, terá como local central a cidade de Lisboa, se irá realizar em mais de 40 cidades em Portugal e no estrangeiro. (AIM)

DM - (AIM)

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