THE
TIMES, LONDRES – Presseurop – imagem Orlando Cue
Em 22 de fevereiro,
o Reino Unido tornou-se a última nação europeia a perder a sua notação AAA,
quando a agência de rating Moody’s reduziu a notação de crédito para Aa1. É
embaraçoso para o primeiro-ministro, David Cameron, mas não um choque para os
mercados, afirma “The Times”, que incentiva o Governo a prosseguir a política
de austeridade.
A realidade da
descida da notação de crédito do Reino Unido poderá revelar-se menos
impressionante do que a expectativa. A retirada da notação AAA ao Reino Unido,
nas próximas semanas, era aguardada por todos. A única surpresa foi a Moody’s ter tomado essa decisão antes
da apresentação do orçamento, em março. A calma dos investidores quando a
França e os Estados Unidos perderam as notações máximas indica que a
reação dos mercados pode ser mais um encolher de ombros do que um
estremecimento.
Contudo, do ponto
de vista político, o facto é bastante importante, em especial porque [o
ministro das Finanças] George Osborne disse que manter a notação AAA do Reino
Unido seria um parâmetro de referência do sucesso da sua estratégia para a
redução do défice. Alguns dos que o criticam, entre os quais o ministro sombra
das Finanças, Ed Balls, afirmam que perder a notação prova que a estratégia
fracassou e que Osborne deveria tentar uma nova abordagem. No entanto, este
jornal acredita que o problema não reside em a estratégia elaborada pela
coligação em 2010 ser errada. Reside no facto de o Governo não ter aplicado
essa estratégia com a energia e a coragem política suficientes.
Economia com
impostos baixos
Osborne estava
absolutamente certo ao dizer que a prioridade era um plano credível para
reduzir o défice orçamental e que isso deveria ser conseguido sobretudo através
de cortes na despesa pública e não através de aumentos de impostos. Isso faria
parte de uma passagem, a mais longo prazo, de um Estado com um montante elevado
de despesa para uma economia com impostos baixos, com espaço para o
florescimento do setor privado, liberto de regulamentação desnecessária. Com a
ajuda da desvalorização da libra, verificar-se-ia um reequilíbrio da economia
orientado para as exportações e para as regiões, e mais distante da City
[centro financeiro de Londres] sobreaquecida e do resto do sudeste.
As razões de os
progressos até agora realizados serem tão insatisfatórios escapam, em grande
medida, ao controlo do Governo.
O crescimento
não recuperou tanto quanto se esperava, em parte porque as exportações
foram afetadas pela crise da zona euro. Entretanto, a queda da libra faz
aumentar a inflação, o que colocou o consumo sob pressão.
Cortes abruptos
A estagnação do
crescimento teve como resultado maiores prestações de desemprego e Osborne
permitiu, acertadamente, que estas conduzissem a uma emissão de dívida pública
mais elevada do que o previsto, de preferência a impor mais cortes noutros
domínios, para compensar.
Mas, sob estes
números, a verdade é que a coligação não foi suficientemente longe nem agiu
suficientemente depressa na reestruturação do Estado e na reforma dos serviços
públicos. Em parte, esse facto reflete a influência dos liberais democratas no
seio da coligação. Estes não reconheceram que encontrar novas formas de
tributar mais fortemente os ricos é irrelevante para os desafios reais que a
economia britânica enfrenta.
É certo que alguns
departamentos governamentais estão agora a sofrer cortes abruptos. Mas não tão
abruptos como a pouco judiciosa redução do investimento público que Osborne
herdou dos trabalhistas. O investimento em infraestruturas, que poderia ser um
fator determinante de crescimento económico, foi ainda mais prejudicado pelo
fracasso do Governo em enfrentar os obstáculos surgidos em Whitehall e no
sistema de planeamento. Também não se registaram progressos suficientes no
esforço mais vasto no sentido de reduzir o peso da regulamentação sobre as
empresas. Demasiadas decisões difíceis, como a necessidade de identificar um
novo aeroporto central no Sudeste, foram evitadas.
Redobrar o empenho
governamental
A descida da
notação porá pelo menos à disposição de Osborne mais munições contra os pedidos
dos trabalhistas no sentido da mitigação dos planos de redução do défice, no
orçamento do próximo mês. Osborne poderá continuar a basear-se na política
monetária para oferecer estímulos adicionais à procura e o facto de o Comité de Política Monetária do
Banco de Inglaterra estar a analisar formas mais imaginativas para pôr
em prática a sua estratégia de restritividade quantitativa é encorajador.
Contudo, isto não
significa que o ministro das Finanças não deva fazer nada. Deve, pelo
contrário, redobrar o empenho governamental em reduzir os encargos das empresas
e em levar por diante uma reforma radical do setor público. É esta a única via
para a recuperação da notação de crédito do Reino Unido.
CONTRAPONTO
Apanhado na sua
própria armadilha
George Osborne, o
ministro das Finanças britânico, prometeu que com a coligação “não haverá o
medo paralisante de se poder perder a nossa notação de crédito”, lembra The Guardian. No
editorial, o jornal de esquerda escreve que Osborne elevou a
notação de AAA à categoria de teste às suas políticas económicas. O teste
falhou. Mas o maior falhanço é o da estratégia seguida por Osborne. Quando a
ofuscação finalmente acabou, o que a Moody’s disse, na semana passada, foi que
a Grã-Bretanha, afinal, não tem uma posição tão forte como o ministro esperava
para poder fazer o seu próprio caminho na economia mundial. Osborne não foi o
único político a enganar-se e os conservadores não são o único partido a ter de
enfrentar o que isto significa para a Grã-Bretanha.
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