Pedro Tadeu – Diário
de Notícias, opinião
Ele acha que sem
uma descida generalizada de ordenados o País não se safa. Ele garante ser
disparatado subir o salário mínimo pois isso prejudica os pobres, os
trabalhadores menos qualificados, enviados dessa forma para um despedimento certo.
Ele não acredita no Estado. Contraditoriamente, ele acha que o Estado deve
pagar aos pais para ficarem em casa alguns anos a cuidar dos filhos.
Ele acusa Portugal
de ter desperdiçado dinheiro em consumo fútil. Ele atira-se ao Tribunal Constitucional
por fazer política. Ele ataca os sindicatos dos médicos, dos juízes e dos
professores com um nome crismado de pecado: corporações. Ele acusa a maior
parte dos pensionistas que protesta de estar a fingir ser pobre.
Esta é uma parte do
pensamento de João César das Neves, cujo desenvolvimento qualquer leitor do
Diário de Notícias pode aprofundar às segundas-feiras, numa coluna de opinião
já bem antiga.
Acontece que uma
entrevista feita neste mesmo jornal, de que sou subdiretor, publicada no domingo,
desencadeou um movimento de protesto nas redes sociais com volume já
assinalável. Além de milhares de comentários indignados ou insultuosos em
múltiplos fóruns, acrescentou-se até uma página no Facebook chamada
"Correr com o César das Neves do DN, TV, Rádio e UCP" (Universidade
Católica Portuguesa). E uma série de atores políticos, numa unanimidade rara
entre quadrantes antagónicos, criticaram as posições mais polémicas do
professor catedrático.
Um dos insultos
mais "meiguinhos" que atiram a César das Neves é
"reacionário". Um dos "mimos" frequentes que recebo é
"estalinista". César das Neves, anticomunista, se pensar alguma coisa
sobre o que escrevo (não nos conhecemos) achará que tudo o que defendo é
horrível e tenebroso. Eu, ao ler César das Neves, só vejo caminhos de
agravamento da exploração do homem pelo homem, algo que acho horrível e
tenebroso. Tudo, portanto, nos separa.
Como opositor das
ideias de César das Neves estou de acordo com a maior parte das críticas, mesmo
as mais violentas, que são feitas ao sentido do que ele diz e escreve. Como
indivíduo, no entanto, sinto--me obrigado a tomar outra posição: exijo que ele
continue a dizer, a escrever e a tornar público o que lhe der na real gana.
Recuso alinhar em
carneiradas que investem, cegas, contra a liberdade de expressão. Indignam-me
estes abaixo-assinados ou grupos no Facebook, cada vez mais frequentes, que
pretendem silenciar A, B ou C. A História já ensinou vezes sem conta que quem
ganha com isso não são nem os explorados nem os oprimidos. Chega.
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