domingo, 6 de abril de 2014

Campanha anticorrupção na China investiga mais de 80 quadros desde maio




Pequim, 05 abr (Lusa) - Mais de 80 funcionários, nove dos quais com categoria igual ou superior a vice-ministro, foram investigados nos últimos dez meses pela direção do Partido Comunista Chinês (PCC) por suspeita de corrupção, anunciou na sexta-feira a imprensa oficial.

"Muitos daqueles funcionários foram investigados com base em indícios encontradas pelos inspetores", adiantou a Comissão Central de Disciplina do partido (CCDI), sem precisar o número nem divulgar nomes.

A inspeção, lançada em maio passado, incidiu em governos provinciais, ministérios, instituições públicas e empresas estatais tuteladas pelo Governo central, indicou a mesma fonte.

Uma das empresas foi a China Three Gorges (CTG), o maior acionista da EDP (Energias de Portugal).

No dia 24 de fevereiro, a agência noticiosa oficial Xinhua anunciou que os inspetores da CCDI detetaram várias "irregularidades", nomeadamente "abuso de poder em licitações e contratos de projetos", "falta de transparência no processo de decisão da companhia" e "ineficiências na comunicação entre funcionários com cargos importantes".

Um mês depois, o presidente da CTG, Cao Guangjing, e o diretor-geral, Chen Fei, foram substituídos, mas a empresa não relacionou a mudança com a inspeção nem responsabilizou pessoalmente os dois antigos lideres pelas "irregularidades".

Ouvido na altura pela agência Lusa, Cao Guangjing declarou que "a mudança de quadros entre as grandes empresas estatais e instituições governamentais é um fenómeno muito comum na China", considerando a sua saída da CTG "um passo normal".

Cao Guanjing, 50 anos, é membro suplente do Comité Central do PCC e segundo uma comunicação interna da CGT, foi nomeado vice-governador da província de Hubei, no centro da China.

No início desta semana, a Comissão Central de Disciplina do PCC lançou uma ronda idêntica de inspeções, e que inclui até uma das mais prestigiadas universidades do país, situada em Xangai.

O Partido Comunista Chinês assumiu há muito o combate à corrupção como "uma luta de vida ou de morte" para a sua permanência no poder, mas a atual campanha é considerada mais persistente e ampla do que era habitual.

Numa recente entrevista à agência Bloomberg, o professor Andrew Wedeman, autor do ensaio 'Double Paradox: Rapid Growth and Rising Corruption in China' (2012), considerou-a "a mais sustentada" do género "desde o advento das reformas económicas, no início da década 1980".

O novo secretário-geral do PCC e Presidente da República, Xi Jinping, assegurou que a luta anticorrupção visaria ao mesmo tempo as "moscas" e os "tigres, numa explícita alusão aos líderes do partido que "violarem a disciplina".

"Se não conseguirmos controlar essa questão, isso poderá ser fatal para o Partido e até causar o colapso do Partido e a queda do Estado", alertou o antecessor de Xi Jinping, Hu Jintao, no XVIII Congresso do PCC, em novembro de 2012.

AC // MSF - Lusa

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