Pedro Marques Lopes
– Diário de Notícias, opinião
Há quem olhe para a
profunda crise que a Europa atravessa e a associe à falta de grandes líderes.
Não será, sequer, necessário lembrar outros momentos de convulsão para perceber
que a tese é recorrente. Os homens providenciais são sempre os de antigamente,
os do presente nunca têm a grandeza dos do passado.
Não faço parte do
grupo que pensa que a dita crise se deve à dimensão - ou falta - ética,
intelectual, moral ou o que quer que se queira enfiar nesse conceito, dos
atuais líderes europeus. Foram feitas opções erradas, e não são, longe disso,
de agora. A deterioração das instituições e do seu funcionamento não é um
processo automático e as consequências das políticas muito menos.
Pode-se dizer, e
com propriedade, que essas consequências estão à vista, são claramente
negativas e será tempo de arrepiar caminho. Mas até isto pouco terá que ver com
a questão da tal dimensão dos protagonistas. Serão, repito, opções políticas, e
o que se pode dizer é que há líderes que não vêem que essas prejudicam as
comunidades que representam e outros, aproveitando essa falta de visão, que
conseguem beneficiar as suas. Numa expressão: melhores e piores políticos.
Sendo mais concreto e dando exemplos, a senhora Merkel defende de forma
exemplar o povo alemão, Passos Coelho também. Não importa agora analisar se
esse tipo de raciocínio mostra a falta de pensamento da Europa como comunidade
e o que isso significa para o projeto europeu. São apenas factos indesmentíveis
e fáceis de provar .
Porém, a inopinada
entrevista de Durão Barroso ao Expresso da semana passada parece destinada a
fazer pensar três vezes as pessoas que se recusam a reduzir os problemas que
vivemos à fraqueza dos atuais líderes. Olha-se para aquilo - não consigo encontrar
outro termo - e a pergunta surge imediatamente: tem sido este homem que tem
estado à frente da Comissão Europeia na altura da sua mais grave crise? Não
chegava ter cuspido no mandato que os portugueses lhe deram num momento muito
importante para Portugal, ter assistido impávido e sereno ao esvaziamento dos
seus poderes na Europa, ser suficiente ter-se tornado um capacho da chanceler
alemã e um apoiante feroz das políticas que estão a ajudar a destruir o seu
próprio país, vem, ainda em pleno exercício de funções, interferir no processo
político português, caluniar pessoas e tentar umas manobras politiqueiras
incompreensíveis.
A acusação que fez
a Cavaco Silva, de ser, no fundo, um Presidente de facção é, porventura, justa,
mas inconcebível. O presidente da Comissão não pode, em caso algum, insinuar o
que insinuou sobre um titular dum órgão de soberania dum país da União. Mas foi
o que Barroso fez, quando afirmou que seria aconselhável um candidato comum aos
três principais partidos para mais bem gerar consensos. Se o que temos não os
conseguiu gerar é porque não conseguiu subir acima das querelas partidárias e
não soube desprender-se do seu partido. Talvez, do alto da sua soberba, Barroso
pense que seria ele o candidato do consenso, como me sugeria um importante
político português tentando interpretar as palavras do ex-primeiro-ministro. A
inconsciência e a vaidade podem, de facto, cegar.
Depois, a vontade
de falar do caso BPN tentando atirar ao polícia (que provavelmente não cumpriu
de forma razoável a sua função) em vez de ao ladrão. A que propósito isto veio
nesta altura? Teve de esperar que Constâncio fosse para uma instituição
europeia para dizer o que disse? Talvez para ajudar a campanha para as
europeias da coligação e o suposto papel que um candidato do CDS teve na
comissão parlamentar de inquérito ao BPN? Talvez para sacudir água do seu
próprio capote? Mas... que diabo leva um presidente da Comissão Europeia a
meter-se nestas questões internas?
E que dizer de
alguém que está no mais alto cargo europeu quando acusa dois seus ex-ministros
e personagens de relevo na vida portuguesa de atuarem, pública e politicamente,
não por convicção, não por preocupação pelo bem comum, mas por motivos
meramente pessoais? E por dinheiro! Ferreira Leite e Bagão Félix teriam
subscrito um documento apenas porque, coitados, teriam visto a carteira afetada
pelas políticas governamentais. Há quem só consiga ver nos outros o que vê em
si.
Mantenho a minha
convicção de que o grande problema europeu não é uma especial falta de pessoas
com capacidade de liderança ou competência. Ou, pelo menos, não mais do que em
qualquer outro período. Mas que a Europa e Portugal tiveram um extraordinário
azar em ter Durão Barroso como presidente da Comissão Europeia, nesta fase da
nossa história, ficou bem patente na entrevista ao Expresso. Uma entrevista
grande, um entrevistado pequeno.
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