O
presidente do MDM, terceira maior força política de Moçambique, Daviz Simango,
defende que, em 40 anos de independência, o Governo investiu em "máquinas de
repreensão", no lugar de produção, num clima de intolerância favorável a
conflitos.
"São
40 anos em que as armas continuam a tocar, porque uns tutelam que 'se não é
nosso, então não é moçambicano'", disse Simango, em entrevista à Lusa
sobre os 40 anos da independência de Moçambique, acrescentando que "essa
atitude de descriminação e intolerância, de falta de compreender o dinamismo
político, cria condições apropriadas para conflitos".
Para
o líder do MDM (Movimento Democrático de Moçambique) e presidente do município
da Beira, o segundo maior do país, Moçambique "ainda não tem prioridades
inalienáveis" para a economia e o bem-estar dos moçambicanos, que
continuam a ser perseguidos por diferenças ideológicas.
"O
país é pobre, iniciámos o processo democrático em 1994 [ano das primeiras
eleições, após a guerra civil de 16 anos], mas continuamos em conflito uns com
os outros, porque a população ainda não acredita nas instituições ",
declarou o dirigente político, filho de Celina e Uria Simango, ex-vice-presidente
da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), ambos supostamente liquidados
por alegada traição ao partido.
Moçambique,
sustentou, gerou dirigentes sem legitimidade e um desconforto entre governantes
e governados, que acredita estar a empurrar o país para um fraco rendimento
económico, apesar das sequências históricas de crescimento do Produto Interno
Bruto acima dos 7%, um dos maiores da região, mas que ainda não chegou à
população.
Daviz
Simango considerou que o Governo impôs aos moçambicanos um estilo de vida, sem
o consultar nem lhes dar tempo para viver os seus direitos, o que se reflete no
parlamento, com o "heroísmo dado à bancada da Frelimo", enquanto as
da oposição "são relegadas para moçambicanos de terceira ou quarta categoria".
Segundo
o líder do MDM e candidato presidencial nas últimas eleições, os três pilares
de desenvolvimento da economia - agricultura, industrialização, pequenas e
médias empresas - ainda são subjugados a gastos em armamento, para reprimir um
povo que "clama por liberdade para construir a sua história".
O
autarca da Beira disse também que não se justifica que um país com tanta terra
arável dependa do exterior para se alimentar, quando "devia avançar na
mecanização e criação de bancos agrícolas".
"Se
não tivermos alimentos, dificilmente teremos saúde, educação, e dificilmente
teremos forças para trabalhar", observou.
O
presidente do MDM lamentou que os recursos naturais, que representaram nos
últimos anos uma subida de nível na expetativa sobre o desenvolvimento do país,
continuem a ser explorados de forma demagógica, sem preocupação com o limite
das reservas, e cujos resultados "se limitam a encher os bolsos de um
punhado dos moçambicanos", apelando para a criação de um fundo soberano.
Simango
defendeu que o Governo precisa atacar, com a construção de infraestruturas,
barreiras e barragens, para travar a crónica situação de cheias e secas, que
absorvem anualmente milhões de dólares, em resgate de pessoas e distribuição de
ajuda.
"Não
criámos infraestruturas de prevenção", disse o líder político, que
considerou inadmissível o apagão de quatro meses no norte de Moçambique, no
início de 2015, devido à destruição da rede elétrica pela força das chuvas.
"Sinto
que o país tem muito por andar, mas precisa de alternância política para os
moçambicanos começarem a viver a liberdade e a independência de facto",
resumiu Daviz Simango, deixando uma reflexão sobre a "chama da
unidade", recriada, a partir de um evento similar em 1975, para tocar
todas as províncias do país até Maputo.
"Não
se pode admitir pegar numa tocha e dizer aos moçambicanos que isso se chama
unidade, enquanto a mesma chama põe os moçambicanos a arder", declarou.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
Sem comentários:
Enviar um comentário