terça-feira, 24 de abril de 2012

Bissau: Militares alertam que força estrangeira será vista como invasora



António Rodrigues – i online

Golpistas guineenses procuram alguém que aceite assumir a presidência interina mas é difícil porque o seu plano não é reconhecido por ninguém

O autodenominado Comando Militar que assumiu o controlo da Guiné-Bissau depois do golpe do dia 12 avisou a comunidade internacional que qualquer força estrangeira que entrar em território guineense será considerada “invasora”. Para o tenente--coronel Daba Na Walna, porta-voz dos revoltosos, não estando o país em guerra não se justifica o envio de uma força de interposição, como a CPLP pediu na quinta-feira ao Conselho de Segurança da ONU, daí que se essas tropas estrangeiras entrarem no país isso será uma “invasão”.

Ontem, o primeiro-ministro de Cabo Verde, país que mantém laços históricos muito fortes com a Guiné-Bissau, reiterou o seu apoio ao envio de uma força militar para este país: “Cabo Verde apoia firmemente a constituição da força de interposição se não houver evolução positiva em relação ao golpe. Ou seja: a devolução do poder às autoridades legitimamente constituídas e a libertação imediata dos que estão presos”, disse à Lusa José Maria Neves.

“Espero que a situação evolua positivamente. Acho que a comunidade internacional deve continuar a pressionar no sentido da resolução da questão. Golpes de Estado não se justificam de modo nenhum. Nada, absolutamente nada, pode justificar o levantamento militar para derrubar órgãos de soberania legitimamente constituídos de acordo com as regras do jogo democrático”, acrescentou o chefe de Estado cabo-verdiano.

Entretanto, o ministro da Defesa português, José Aguiar-Branco, adiantou ontem que Portugal continua a acompanhar “a par e passo” a situação na Guiné-Bissau, “com o cuidado de ter as condições para, se for necessário,” levar a cabo “a operação de evacuação que esperamos não aconteça”. Aguiar-Branco vai estar no parlamento na sexta-feira para prestar esclarecimentos aos deputados sobre a situação naquele país africano.

Entretanto, os militares golpistas andam à procura de alguém que aceite o convite para assumir a presidência interina do país depois de Serifo Nhamadjo, vice-presidente da Assembleia Nacional, ter recusado na sexta-feira o convite que lhe tinha sido endereçado no âmbito do acordo assinado entre os militares e alguns partidos da oposição que prevê dois anos de transição até novas eleições.

Com o plano de transição dos militares rejeitado pela comunidade internacional e o aumento da pressão da ONU, da CPLP, da CEDEAO e da União Africana, os militares guineenses estão cada vez mais isolados e descobrir alguém com credibilidade disposto a pactuar com esta solução à margem da constituição, torna-se extremamente difícil.

A mensagem da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental foi clara na sua rejeição do acordo: “Fomos completamente apanhados de surpresa por esse desenvolvimento, porque está em total desacordo com o entendimento que a delegação da CEDEAO teve com membros da junta, o que nos deu esperança de estarmos a caminho de uma imediata restauração da democracia no país”, disse o porta-voz, Sonny Ugoh, à Voz da América.

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