sexta-feira, 30 de novembro de 2012

ISRAEL PROMOVE UM CONTÍNUO ASSALTO À MÃO ARMADA!

 

Martinho Júnior, Luanda
 
1 – O único país que durante 20 anos votou sempre a favor no bloqueio dos Estados Unidos a Cuba na Assembleia Geral da ONU, tem sido fiel e persistentemente, Israel!
 
Isso ilustra até que ponto os dois governos, o dos Estados Unidos e o de Israel, fomentam historicamente recíprocas cumplicidades!...
 
…Bloqueio contra Cuba… “apartheid” com centenas de quilómetros de muros e postos de controlo contra a Palestina!...
 
…Cumplicidades no superlativo existem pois durante estes últimos 20 anos no que diz respeito ao relacionamento para com a Palestina: Israel jamais chegaria ao fascismo e ao “apartheid” não fora o contínuo e inexcedível suporte do poder avassalador da hegemonia unipolar dos Estados Unidos, em especial após a implosão da URSS e o fim do socialismo real na Europa do Leste!
 
Derrubou-se o muro de Berlim, mas é por demais evidente que isso ocorreu para que outros muros fossem levantados, entre eles os que Israel faz erguer para melhor implementar o “apartheid” e os “ghetos”!
 
Tão preocupados andam os governos que compõem os países da NATO, acerca das eventuais bombas atómicas que poderão ser construídas pelo Irão… quando Israel afinal da forma mais impune tem ao seu dispor, à revelia do clube nuclear, mais de 200 delas!
 
Terá sido de há 20 anos a esta parte que o mapa da Palestina mais minguou e agora, murado, raquítico e estilhaçado, mais parece um espaço moribundo, à mercê do último golpe!
 
Durante esses 20 anos os falcões de Israel praticaram continuamente assalto à mão armada e os mapas são o testemunho gritante, da conquista e da opressão!
 
Eduardo Galeano que saiu “em defesa da Palestina”, recorda como tem sido:
 
“Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa. Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam a pilhagem, em legítima defesa.
 
Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem. O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita”…
 
É neste desespero de causa que foi a votação na Assembleia Geral da ONU a adesão da Palestina… que próximo do eclipse se “atreveu” a “estado observador não membro”!
 
Votaram a favor 138 estados, abstiveram-se 41 e votaram contra 9, entre eles, como tem sido óbvio, o inevitável par: Israel e os Estados Unidos!...
 
2 – Em Porto Alegre no Brasil, decorre o Fórum Social Mundial Palestina Livre no momento da votação na Assembleia Geral da ONU, uma forma, ao fim e ao cabo, de se fazer um tão detalhado quanto possível, ponto de situação.
 
Digo quanto possível, por que me parece impossível, com toda a amplitude e abrangência, detalhar este “apartheid” e este caos com todas as suas implicações por toda a vasta região circundante!
 
Ronnie Kasrils, combatente sul africano contra o “apartheid”, tem toda a legitimidade ao apresentar o seu depoimento contra as práticas de Israel na Palestina, até por que ele conhece como poucos os relacionamentos idos entre Israel e o então regime racista sul africano!
 
Para Ronnie Kasrils, eminente lutador contra o “apartheid” na África do Sul, o “apartheid” que Israel move é pior que o “apartheid” sul africano:
 
“Israel só vai mudar, só vai parar com o expansionismo e com a opressão de fora para dentro.
 
Um movimento de solidariedade internacional aos palestinos tem um papel muito importante.
 
Foi assim que nós derrubamos o apartheid.
 
Nós tínhamos razão.
 
Levou tempo, mas Leclerc teve de libertar Mandela e dizer vamos conversar, que era o que nós dizíamos que tinha de ser feito.
 
Mas é preciso constranger economicamente, não apenas politicamente.
 
O programa de Desinvestimento e de Boicote significou o começo do fim do apartheid e nós terminamos vencendo.
 
Eu acredito que este é o aspecto mais importante da luta em solidariedade ao povo palestino.
 
É preciso denunciar os assentamentos, mas é preciso boicotar, também.
 
É preciso constrange-los materialmente, economicamente…
 
Para Kasrils, o fato de que em Israel os cidadãos palestinos são cidadãos de segunda classe, com direitos limitados e sem o grau de liberdade civil dos israelenses configura apartheid.
 
No regime do apartheid, diante de um mestiço que não se sabia ao certo se era negro ou não, passavam um pente para ver se iria ou não deslizar sobre o cabelo.
 
Caso o pente parasse, a pessoa iria para os setores dos negros.

Em Israel não é assim, mas não precisa ser, lembrou.

Há um muro que consegue separar as sociedades, anexando territórios dos palestinos, mas que afasta completamente os dois povos, promovendo limpeza étnica e criando coisas como rodovias em que só judeus podem trafegar.
 
Isso é uma violência que nem o apartheid sul-africano cometeu.
 
O que o estado de Israel está fazendo com os palestinos é muito pior do que aquilo que acontecia no apartheid sul-africano”…
 
3 – As impressões de Noam Chomsky sobre Gaza, é o reconhecimento explícito das condições dos “ghetos” modernos, erigidos por alguns daqueles que pela primeira vez terrivelmente os experimentaram!
 
Nesse aspecto os falcões de Israel conduzem o estado que governam para o patamar dum estado terrorista com prática de constantes crimes contra a humanidade!
 
Diz Noam Chomsky:
 
“Uma noite encarcerado é o bastante para que se conheça o sabor de estar sob total controlo de uma força externa. E dificilmente demora mais de um dia em Gaza para que se comece a perceber como é tentar sobreviver na maior prisão a céu aberto do mundo. Na Faixa de Gaza, a área de maior densidade populacional do planeta, um milhão e meio de pessoas estão constantemente sujeitas a eventuais e amiúde ferozes e arbitrárias punições, cujo propósito não é senão humilhar e rebaixar a população palestina e ulteriormente garantir tanto o esmagamento das esperanças de um futuro decente quanto a nulidade do vasto apoio internacional para um acordo diplomático que sancione o direito a essas esperanças.

O comprometimento a isso por parte das lideranças políticas israelenses foi ilustrado expressivamente nos últimos dias, quando eles advertiram que enlouqueceriam se os direitos palestinos fossem reconhecidos, mesmo que limitadamente, pela ONU. Essa postura não é nova. A ameaça de enlouquecer (nishtagea) tem raízes profundas, lá nos governos trabalhistas dos anos 1950 e em seus respectivos complexos de Sansão: se nos contrariarem, implodimos as paredes do Templo à nossa volta. À época, essa ameaça era inútil; hoje não é mais.

A humilhação deliberada também não é nova, apesar de adquirir novas formas constantemente. Há trinta anos, líderes políticos, inclusive alguns dos mais notórios falcões (sionistas mais conservadores), apresentaram ao primeiro-ministro um relato detalhado de como colonos regularmente violavam palestinos da forma mais vil e com total impunidade. A proeminente analista Yoram Peri notou com repugnância que a tarefa do exército não é a de defender o Estado, mas de acabar com os direitos de pessoas inocentes somente porque são araboushim (uma ofensa racial) vivendo numa terra que Deus nos prometeu”.
 
Os “direitos humanos” tão apregoados pelos Estados Unidos, são completa letra morta em Gaza no que diz respeito ao comportamento de Israel para com os palestinianos e os Estados Unidos, inveterados guardiões do templo, nada fazem para alterar as terríveis condições de vida de quem nada mais resta senão suportar os “ghetos”!
 
Os “ghetos” de Gaza só agora começaram a comover as “primaveras” árabes, com o primeiro sinal dado pelo Egipto, que é aliás o único estado para além de Israel que lhes é fronteiriço.
 
Aquelas “primaveras” que estão mais afastadas parece terem riscado dos seus ideários a causa palestiniana, o que não deixa de ser outro indicativo do seu próprio carácter…
 
As monarquias árabes por seu turno, manifestam uma total indiferença, ou não fosse a sua estratificação social uma outra forma de “apartheid”!
 
Devemos à Palestina paz, amor, solidariedade, honestidade e dignidade!
 
Ficarmo-nos pelo reconhecimento dum “estado observador não membro da ONU” pode ser para muitos uma pequena conquista, mas não deixa de ser também um gesto cínico a juntar aos muitos demais que se têm vindo a manifestar, primeiro com o comportamento da potência colonizadora, depois com Israel e seus aliados, ao longo da história dos últimos cem anos de Palestina!
 
Gravura: O raquitismo, a caminho do eclipse, da Palestina.
 
A Consultar:
- Sem o fim da ocupação os palestinianos farão uma terceira intifada – http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21334
- "O que Israel está fazendo com os palestinos é muito pior do que o apartheid sul-africano” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/11/o-que-israel-esta-fazendo-com-os.html
- Analogia Israel – apartheid – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Analogia_Israel-Apartheid
- Israel – South Africa relations – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Israel%E2%80%93South_Africa_relations
 

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