Martinho Júnior, Luanda
1 – O único país
que durante 20 anos votou sempre a favor no bloqueio dos Estados Unidos a Cuba
na Assembleia Geral da ONU, tem sido fiel e persistentemente, Israel!
Isso ilustra até
que ponto os dois governos, o dos Estados Unidos e o de Israel, fomentam
historicamente recíprocas cumplicidades!...
…Bloqueio contra
Cuba… “apartheid” com centenas de quilómetros de muros e postos de controlo contra
a Palestina!...
…Cumplicidades no
superlativo existem pois durante estes últimos 20 anos no que diz respeito ao
relacionamento para com a Palestina: Israel jamais chegaria ao fascismo e ao “apartheid”
não fora o contínuo e inexcedível suporte do poder avassalador da hegemonia
unipolar dos Estados Unidos, em especial após a implosão da URSS e o fim do
socialismo real na Europa do Leste!
Derrubou-se o muro
de Berlim, mas é por demais evidente que isso ocorreu para que outros muros
fossem levantados, entre eles os que Israel faz erguer para melhor implementar
o “apartheid” e os “ghetos”!
Tão preocupados
andam os governos que compõem os países da NATO, acerca das eventuais bombas
atómicas que poderão ser construídas pelo Irão… quando Israel afinal da forma
mais impune tem ao seu dispor, à revelia do clube nuclear, mais de 200 delas!
Terá sido de há 20
anos a esta parte que o mapa da Palestina mais minguou e agora, murado,
raquítico e estilhaçado, mais parece um espaço moribundo, à mercê do último
golpe!
Durante esses 20
anos os falcões de Israel praticaram continuamente assalto à mão armada e os
mapas são o testemunho gritante, da conquista e da opressão!
Eduardo Galeano que
saiu “em defesa da Palestina”, recorda como tem sido:
“Já resta pouca Palestina.
Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa. Os colonos invadem, e atrás
deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam a pilhagem,
em legítima defesa.
Não há guerra
agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para
evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar
que o Iraque invadisse o mundo. Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel
devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem. O apetite devorador se
justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil
anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os
palestinos à espreita”…
É neste desespero
de causa que foi a votação na Assembleia Geral da ONU a adesão da Palestina…
que próximo do eclipse se “atreveu” a “estado observador não membro”!
Votaram a favor 138
estados, abstiveram-se 41 e votaram contra 9, entre eles, como tem sido óbvio,
o inevitável par: Israel e os Estados Unidos!...
2 – Em Porto Alegre no
Brasil, decorre o Fórum Social Mundial Palestina Livre no momento da votação na
Assembleia Geral da ONU, uma forma, ao fim e ao cabo, de se fazer um tão
detalhado quanto possível, ponto de situação.
Digo quanto
possível, por que me parece impossível, com toda a amplitude e abrangência,
detalhar este “apartheid” e este caos com todas as suas implicações por toda a
vasta região circundante!
Ronnie Kasrils,
combatente sul africano contra o “apartheid”, tem toda a legitimidade ao
apresentar o seu depoimento contra as práticas de Israel na Palestina, até por
que ele conhece como poucos os relacionamentos idos entre Israel e o então
regime racista sul africano!
Para Ronnie
Kasrils, eminente lutador contra o “apartheid” na África do Sul, o “apartheid”
que Israel move é pior que o “apartheid” sul africano:
“Israel só vai
mudar, só vai parar com o expansionismo e com a opressão de fora para dentro.
Um movimento de
solidariedade internacional aos palestinos tem um papel muito importante.
Foi assim que nós
derrubamos o apartheid.
Nós tínhamos razão.
Levou tempo, mas
Leclerc teve de libertar Mandela e dizer vamos conversar, que era o que nós
dizíamos que tinha de ser feito.
Mas é preciso
constranger economicamente, não apenas politicamente.
O programa de
Desinvestimento e de Boicote significou o começo do fim do apartheid e nós
terminamos vencendo.
Eu acredito que
este é o aspecto mais importante da luta em solidariedade ao povo palestino.
É preciso denunciar
os assentamentos, mas é preciso boicotar, também.
É preciso constrange-los
materialmente, economicamente…
Para Kasrils, o
fato de que em Israel os cidadãos palestinos são cidadãos de segunda classe,
com direitos limitados e sem o grau de liberdade civil dos israelenses
configura apartheid.
No regime do
apartheid, diante de um mestiço que não se sabia ao certo se era negro ou não,
passavam um pente para ver se iria ou não deslizar sobre o cabelo.
Caso o pente
parasse, a pessoa iria para os setores dos negros.
Em Israel não é assim, mas não precisa ser, lembrou.
Há um muro que
consegue separar as sociedades, anexando territórios dos palestinos, mas que
afasta completamente os dois povos, promovendo limpeza étnica e criando coisas
como rodovias em que só judeus podem trafegar.
Isso é uma
violência que nem o apartheid sul-africano cometeu.
O que o estado de
Israel está fazendo com os palestinos é muito pior do que aquilo que acontecia
no apartheid sul-africano”…
3 – As impressões
de Noam Chomsky sobre Gaza, é o reconhecimento explícito das condições dos “ghetos”
modernos, erigidos por alguns daqueles que pela primeira vez terrivelmente os
experimentaram!
Nesse aspecto os
falcões de Israel conduzem o estado que governam para o patamar dum estado
terrorista com prática de constantes crimes contra a humanidade!
Diz Noam Chomsky:
“Uma noite
encarcerado é o bastante para que se conheça o sabor de estar sob total
controlo de uma força externa. E dificilmente demora mais de um dia em Gaza
para que se comece a perceber como é tentar sobreviver na maior prisão a céu
aberto do mundo. Na Faixa de Gaza, a área de maior densidade populacional do
planeta, um milhão e meio de pessoas estão constantemente sujeitas a eventuais
e amiúde ferozes e arbitrárias punições, cujo propósito não é senão humilhar e
rebaixar a população palestina e ulteriormente garantir tanto o esmagamento das
esperanças de um futuro decente quanto a nulidade do vasto apoio internacional
para um acordo diplomático que sancione o direito a essas esperanças.
O comprometimento a isso por parte das lideranças políticas israelenses foi ilustrado expressivamente nos últimos dias, quando eles advertiram que enlouqueceriam se os direitos palestinos fossem reconhecidos, mesmo que limitadamente, pela ONU. Essa postura não é nova. A ameaça de enlouquecer (nishtagea) tem raízes profundas, lá nos governos trabalhistas dos anos 1950 e em seus respectivos complexos de Sansão: se nos contrariarem, implodimos as paredes do Templo à nossa volta. À época, essa ameaça era inútil; hoje não é mais.
A humilhação deliberada também não é nova, apesar de adquirir novas formas constantemente. Há trinta anos, líderes políticos, inclusive alguns dos mais notórios falcões (sionistas mais conservadores), apresentaram ao primeiro-ministro um relato detalhado de como colonos regularmente violavam palestinos da forma mais vil e com total impunidade. A proeminente analista Yoram Peri notou com repugnância que a tarefa do exército não é a de defender o Estado, mas de acabar com os direitos de pessoas inocentes somente porque são araboushim (uma ofensa racial) vivendo numa terra que Deus nos prometeu”.
O comprometimento a isso por parte das lideranças políticas israelenses foi ilustrado expressivamente nos últimos dias, quando eles advertiram que enlouqueceriam se os direitos palestinos fossem reconhecidos, mesmo que limitadamente, pela ONU. Essa postura não é nova. A ameaça de enlouquecer (nishtagea) tem raízes profundas, lá nos governos trabalhistas dos anos 1950 e em seus respectivos complexos de Sansão: se nos contrariarem, implodimos as paredes do Templo à nossa volta. À época, essa ameaça era inútil; hoje não é mais.
A humilhação deliberada também não é nova, apesar de adquirir novas formas constantemente. Há trinta anos, líderes políticos, inclusive alguns dos mais notórios falcões (sionistas mais conservadores), apresentaram ao primeiro-ministro um relato detalhado de como colonos regularmente violavam palestinos da forma mais vil e com total impunidade. A proeminente analista Yoram Peri notou com repugnância que a tarefa do exército não é a de defender o Estado, mas de acabar com os direitos de pessoas inocentes somente porque são araboushim (uma ofensa racial) vivendo numa terra que Deus nos prometeu”.
Os “direitos
humanos” tão apregoados pelos Estados Unidos, são completa letra morta em Gaza
no que diz respeito ao comportamento de Israel para com os palestinianos e os
Estados Unidos, inveterados guardiões do templo, nada fazem para alterar as
terríveis condições de vida de quem nada mais resta senão suportar os “ghetos”!
Os “ghetos” de Gaza
só agora começaram a comover as “primaveras” árabes, com o primeiro sinal dado
pelo Egipto, que é aliás o único estado para além de Israel que lhes é
fronteiriço.
Aquelas “primaveras”
que estão mais afastadas parece terem riscado dos seus ideários a causa
palestiniana, o que não deixa de ser outro indicativo do seu próprio carácter…
As monarquias
árabes por seu turno, manifestam uma total indiferença, ou não fosse a sua
estratificação social uma outra forma de “apartheid”!
Devemos à Palestina
paz, amor, solidariedade, honestidade e dignidade!
Ficarmo-nos pelo
reconhecimento dum “estado observador não membro da ONU” pode ser para muitos
uma pequena conquista, mas não deixa de ser também um gesto cínico a juntar aos
muitos demais que se têm vindo a manifestar, primeiro com o comportamento da
potência colonizadora, depois com Israel e seus aliados, ao longo da história
dos últimos cem anos de Palestina!
Gravura: O raquitismo, a
caminho do eclipse, da Palestina.
A Consultar:
- Em defesa da
Palestina – http://ponto.outraspalavras.net/2012/11/26/em-defesa-da-palestina/
- Sem o fim da
ocupação os palestinianos farão uma terceira intifada – http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21334
- "O que
Israel está fazendo com os palestinos é muito pior do que o apartheid
sul-africano” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/11/o-que-israel-esta-fazendo-com-os.html
- Analogia Israel –
apartheid – Wikipedia – http://pt.wikipedia.org/wiki/Analogia_Israel-Apartheid
- The unspoken
alliance – http://www.foreignaffairs.com/articles/66707/sasha-polakow-suransky/the-unspoken-alliance-israels-secret-relationship-with-apartheid
- Israel – South
Africa relations – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Israel%E2%80%93South_Africa_relations
- ONU aprova
Palestina como um estado observador – http://www.publico.pt/mundo/noticia/palestina-considerada-estado-observador-pela-onu
- Impressões de uma
visita a Gaza – http://cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=21304
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