RESERVA CAMBIAL DO
BNA NAS MÃOS DO BANCO KWANZA
Folha 8, 26 julho
2014
O Banco Kwanza
Invest, um banco de investimento de capitais angolanos, com sede em Luanda,
foi - como não poderia deixar de ser neste regime feudal – fundado em 2008 por
José Filomeno (“Zénu”) dos Santos, um dos filhos do Presidente. Numa inequívoca
demonstração de que as regras monarco-ditatoriais aí estão para durar, os
fundos da reserva cambial do Banco Nacional de Angola (BNA), destinados aos
bancos comerciais, passaram – como não poderia deixar de ser – a estar sob a
gestão do Banco Kwanza Invest. Tudo em família, portanto.
BNA que voltou a
aumentar, na última semana, as vendas de divisas à banca comercial, para 500
milhões de dólares, segundo o mais recente boletim da instituição.
De acordo com a
informação, relativa às operações “mais relevantes” nos mercados monetário e
cambial, no período entre 14 e 18 de Julho o BNA vendeu directamente à banca
comercial angolana 500 milhões de dólares, face aos 450 milhões de dólares da
semana anterior.
Estas vendas foram
concretizadas à taxa cambial de 97,077 kwanzas por cada dólar, uma nova
ligeira quebra face ao mesmo período anterior. Desde o início do mês, em três
semanas, as vendas directas do BNA aos bancos comerciais já atingiram os
1.450 milhões de dólares.
Enquanto isso, os
bancos comerciais angolanos, que têm enfrentado dificuldades em responder aos
pedidos dos clientes para levantamentos em dólares, já compraram divisas
(dólares) no valor de 645,8 milhões de dólares na primeira quinzena de Julho,
ainda segundo dados do BNA.
O banco central,
neste último boletim, não avança, contudo, dados sobre as compras directas dos
bancos aos clientes no período entre 14 e 18 de Julho de 2014.
Entretanto, como o
primeiro banco de investimento no país, o Banco Kwanza Invest dedica-se,
estatutariamente, a apoiar o desenvolvimento económico do país na perspectiva
de Angola, devendo por isso criar novas oportunidades a todos os seus clientes.
Do ponto de vista
oficial, apenas desse, o Banco Kwanza Invest deve actuar de acordo com as melhores
práticas nacionais e internacionais em termos de Governança Corporativa,
baseando-se em padrões reconhecidos internacionalmente. Mas não é isso que
acontece.
BANCO NACIONAL DE ANGOLA
PARECE UMA COUTADA PRESIDENCIAL
O Banco Kwanza
Invest, como todas as instituições económicas e financeiras do país, é a
clara demonstração da força do poder absoluto do presidente que, graças a uma
elevadíssima e cara operação de lavagem de imagem é “vendido” como
pacificador, mas cujas políticas estão a aumentar o ódio, face à política de
discriminação e exclusão.
Importa, também
neste contexto, recordar que José Filomeno (“Zénu”) dos Santos, também Presidente
do Conselho de Administração do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) não se cansa,
com a devida e subtil cobertura do pai, de violar a Lei da Probidade Pública
ao exercer cargos de topo (nem outros seriam admitidos pelo regime) em
empresas privadas, nas quais tem todo e mais algum poder de decisão, mesmo que
o faça por debaixo da mesa.
Estiveram, estão ou
deixaram de estar embora continuando a estar, nesse espectro a Cafisa, Construção
Civil e Obras Públicas (Jesus Martins, Jean-Claude Bastos de Morais, Gilberto
de Jesus Cabral Pires e Zénu dos Santos); Benfin SA, construção civil,
exportação e importação (Mirco de Jesus Martins - filho de Manuel Vicente -,
Jean-Claude Bastos de Morais, e Zénu dos Santos); Benguela Development SA
(Mirco de Jesus Martins, Jean-Claude Bastos de Morais, e Zénu dos Santos); Sociedade
de Urbanização da Graça (Mirco de Jesus Martins, Jean-Claude Bastos de Morais,
e Zénu dos Santos); Staze (Mirco de Jesus Martins, Jean-Claude Bastos de
Morais, e Zénu dos Santos).
No dia 26 de Junho
do ano passado, o Fundo Soberano de Angola anunciou em
comunicado que José Filomeno dos Santos, vendera todas as suas participações
accionistas no Banco Kwanza Invest. Era verdade. Num processo que retrata de
forma inequívoca a transparência o regime, tinha-as transferido para o seu
amigo e sócio Jean-Claude Bastos de Morais com quem, aliás, fundara o Banco
Kwanza, em 2008.
Mas há mais. Quando
se analisa a estratégia do regime há sempre mais qualquer coisa. E nunca se
consegue chegar ao fundo, tal é a blindagem e a repressão sobre quem tenta lá
chegar.
José Eduardo dos
Santos, segundo indícios vários, terá colocado sob alçada indirecta de José
Filomeno dos Santos o Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA),
instrumento supostamente criado para apoiar as micro, pequenas e médias
empresas do país.
O FACRA foi criado
em 2012 por José Eduardo dos Santos ao abrigo do Decreto Presidencial 108/12 de
7 de Junho, tendo a gestão sido entregue à Sociedade Kwanza Gestão de
Participações, o braço empresarial de “Zenu”, cujo PCA era Alberto Mendes, um
jovem do regime e camarada da JMPLA, filho do antigo do governador do Bengo,
Isalino Mendes.
Ora, com toda a
transparência que é, aliás, o ADN do regime, para ter acesso ao Fundo Activo
de Capital de Risco Angolano era obrigatório, em termos práticos, passar por
uma instituição bancária. E qual era essa instituição? Obviamente o Banco
Kwanza. O próprio FACRA assume que para dele se ser beneficiário é preciso uma
“ficha de abertura de conta junto do Banco Kwanza Investimento, devidamente
preenchida e previamente aceite pelo serviço respectivo”.
Antes, no dia 11 de
Agosto de 2012, o ministro da Economia, Abraão Gourgel, e o Banco Kwanza
formalizaram o arranque do FACRA, assumindo que este se destinava a financiar
o programa “Angola Investe”, avançando o ministro que em 2022 o seu impacto
positivo resultaria num crescimento de mais de USD10 bilhões no Produto
Interno Bruto e na criação de mais de 500 mil novos empregos. O FACRA diz ser
um dos maiores fundos de capital de risco presentes em África.
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