Verdade (mz), editorial
A cada dia que
passa parece que ninguém tem dúvidas de que o nosso país está a ser empurrado
para a decadência por um grupo de indivíduos sem juízo e, como sempre, o povo,
que se deixa levar na conversa de promessas feitas por quem que nunca as poderá
cumprir, é que paga a factura.
A nossa justiça,
desactualizada, também caminha nesse diapasão. O caso da condenação dos 37
membros do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) é paradigmático disso.
Não se justifica
que num Estado de Direito e em 37 anos de independência, continuemos a assistir
a atitudes deprimentes (leia-se militares) como a protagonizada pelo Tribunal
Judicial da Cidade de Inhambane.
Aquele grupo de
membros do MDM foi julgado e condenado a penas não remíveis, correspondentes a
dois meses de prisão efectiva para cada um dos sentenciados. E o mais curioso é
o facto de, na noite do passado dia 5 de Outubro, terem sido transferidos para
as cadeias de fora de Inhambane, tendo sido distribuídos pelas penitenciárias
de Maputo, Maxixe, Homoíne e Morrumbene como se de presos políticos se
tratasse.
Indubitavelmente,
essa situação não passa de perseguição política para intimidar os moçambicanos
que queiram abraçar outra cor partidária. Pelo andar da carruagem, tudo indica
que continuaremos a assistir ao mesmo comportamento por muitos anos, uma vez
que é impossível humanizar as pessoas que se encontram à frente das
instituições públicas e/ou do Estado.
Aliada a essa
realidade de violação do direito à liberdade partidária está o facto de os
moçambicanos serem reduzidos a simples bestas de carga, não havendo espaço para
o diálogo e, muito menos, lugar para rectificar o que está mal. O Governo de
turno, na sua insensibilidade congénita, continua a falar de confiança no
futuro e no mítico combate à pobreza absoluta.
E, quando se fala
de confiança e no combate à pobreza, os moçambicanos limitam-se a aplaudir
sempre na expectativa de milagres que nunca acontecerão e auto-flagelam-se até
à náu- sea, tudo na esperança de que os seus políticos terão compaixão. Mas em
vão o fazem porque, nos tempos que se seguem, colocar o interesse do país antes
das rivalidades partidárias e interesses pessoais parece utopia.
O povo
arregimentado por caciques estala aplausos de forma harmónica para os discursos
cheios de banalidades, de frases feitas e de lugares-comuns.
Na verdade, os
discursos não passam de projecções, alucinações políticas ou de um documento de
matriz poética, pois nada é avançado sobre o que será rectificado na Educação,
na Saúde, na Justiça e na Economia de um país que alegremente anda aos papéis e
à volta do próprio umbigo.
Os políticos
profissionais que hoje temos são um verdadeiro perigo público. São vampiros
políticos que medram à custa do sofrimento e do generalizado subdesenvolvimento
cultural dos moçambicanos.
Afogados em
massificados almoços, regados com cerveja, vinho e uísque pagos com sangue,
suor e lágrimas do povo, contribuem, no Governo e na Oposição, para levar o
país ao abismo. Numa palavra, os políticos que temos por aí são os principais
produtores de pobreza e de pobres em massa.
Humilhantemente
enganados pelas falinhas mansas de lobo travestido de cordeirinho, os
moçambicanos, ingenuamente, têm-lhes confiado a resolução dos seus problemas e
os seus destinos.
Ao serviço de
grandes interesses económicos e financeiros pessoais, colocam o povo a
ocupar-se exclusivamente em futebóis deprimentes e novelas anestesiantes,
porque do destino e da economia do país cuidam eles.
Na verdade, alguns
dirigentes e funcionários do Estado parecem ter descoberto a vocação de chulos.
Quando lhes são confiados cargos, vêem uma oportunidade para não fazer nada,
esquecendo que tal significa mais trabalho.
A primeira coisa
que, invariavelmente, fazem quando assumem o posto de trabalho é procurar saber
quem é o chefe da Contabilidade e dos Recursos Humanos, por duas razões
distintas: roubar e distribuir empregos para familiares, amigos e para os
amigos dos amigos. Uma pergunta fica no ar: será que este regabofe vai terminar
um dia?
Boqueirão da Verdade
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