domingo, 14 de outubro de 2012

Portugal: OS SINAIS DA RUA…

 

Diário de Notícias, editorial
 
Quinze mil pessoas só em Lisboa para aplaudir o protesto dos muitos artistas, da dança ao teatro, da literatura à música, e quase tantas outras em manifestações semelhantes de norte a sul. 4500 farmacêuticos e profissionais das farmácias percorrendo as ruas e gritando contra os cortes do Ministério da Saúde. Uma marcha de muitos milhares de desempregados, promovida pela CGTP, a desembocar em frente à Assembleia da República, de onde já nem são retiradas as grades de contenção, tantas têm sido as contestações no local. A rua, o povo, voltou ontem a fazer-se ouvir. As manifestações tornaram-se uma constante em Portugal e repetem-se quase todas as semanas. A indignação social não para de crescer no País.
 
Não foi só contra a TSU. Os sinais da rutura social vêm de trás e não param de se avolumar. Dos movimentos apolíticos às greves e aos protestos sindicais, a agenda de manifestações tem estado cheia e teve o seu ponto alto a 15 de setembro (com o "Que Se Lixe a Troika"). A greve geral da CGTP anunciada para 14 de novembro será o próximo momento-chave. Os riscos de alguma coisa poder sair do controlo é cada vez maior. Até porque, além da contestação natural a uma austeridade nunca vista, há a ideia já instalada de que pressão pode fazer ceder o Governo, que vem revelando fragilidades e desnorte.
 
Para combater este enfraquecimento, o Governo terá de mostrar clareza. Revelar de uma vez, sem avanços e recuos, as medidas que esperam os portugueses em 2013 e, se possível, se elas chegam para os objetivos que tem de cumprir em 2014. E explicar tudo com racionalidade e dispensando experimentalismos. Esta ideia de que estamos perante um Orçamento em progresso, em construção, aberto a propostas dos partidos e parceiros sociais, e sujeito à crueldade dos erros cometidos, é assustadora. E a tática de incendiar com notícias bombásticas para depois poder ceder e mostrar que era só fumaça pode ser fatal: um fogo com várias frentes é muito difícil de travar.
 
... e as outras pressões
 
Cavaco Silva aproveitou as declarações da diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, para enviar uma mensagem. Após Lagarde ter afirmado que o ajustamento orçamental "deve estar calibrado" a cada país e ajustado especificamente às bases de cada economia, Cavaco decidiu intervir. Numa declaração na sua página no Facebook, veio avisar o Governo de que não se pode cumprir o objetivo do défice "a todo o custo" e que se deve pedir à troika que suavize as metas impostas.
 
Este recado do Presidente só aumenta o rol de pressões a que o Governo está sujeito a dois dias da apresentação oficial do Orçamento. Junta-se às ameaças dos sociais-democratas da Madeira e Açores (Guilherme Silva e Mota Amaral) de que podem votar contra o documento. E à multiplicação de vozes contra a dimensão da austeridade, vindas de todos os quadrantes políticos.
 
Este sinal do PR - depois de ter dito, ainda que a um jornal estrangeiro e não nas cerimónias à porta fechada do 5 de Outubro, que é preciso ouvir a voz do povo - é também ele fragilizador. O Governo está sob pressão total.
 
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