domingo, 14 de outubro de 2012

Portugal: O FREIO NOS DENTES

 


João Marcelino – Diário de Notícias, opinião
 
1. O Governo tomou o freio fiscal nos dentes. Corre à desfilada. Cá dentro, suscita medo e revolta. E, curiosamente, vindo de fora ouve Durão Barroso afirmar que as políticas nacionais são da responsabilidade dos respetivos governos e Christine Lagarde aconselhar mais dois anos para o ajustamento orçamental português.
 
Nada que impressione quem se julga imbuído da divina missão de salvar o País, custe o que custar. Doa a quem doer. Acredite quem acreditar. Resista a economia o que resistir. Sofram as pessoas o que sofrerem.
 
O Governo com este orçamento fiscal está a ir perigosamente longe de mais. Divorcia-se do País e delapida definitivamente o consenso social que nos permitiu percorrer com conformismo os últimos meses.
 
Pedro Passos Coelho e Vítor Gaspar estão a colocar Portugal à beira de uma revolta social. Podem julgar que isso é coragem e determinismo histórico. Mas não. É apenas autismo e insensibilidade social.
 
2. Convém relembrar: há um ano havia um amplo consenso na sociedade nacional. O PS, envergonhado, tinha acertado os termos do resgate financeiro. Os portugueses que acreditam na União Europeia e no euro (ou seja, neste projeto político e social que ontem recebeu a bênção do Nobel da Paz num momento particularmente dramático da sua construção) estavam conscientes das dificuldades. Porque são sérios, queriam - e querem - pagar as dívidas. Sabiam que havia que encolher orçamentalmente, apertar o cinto para pagar anos de descontrolo do Estado e roubos como o BPN. Entregaram-se, pois, conscientemente a um período necessariamente longo de austeridade. Partidos, parceiros sociais, patrões e trabalhadores (com a CGTP, o PCP e o BE sempre de fora, como é hábito) comungavam todos a mesma visão de um país honrado.
 

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