Bruno Faria Lopes –
Jornal i
Desemprego sobe
para 16,9% no final de 2012 e ritmo continua a surpreender os economistas.
Governo prepara novas previsões. Taxa superará 17% este ano
Portugal terminou
2012 com 923 mil pessoas oficialmente desempregadas, um novo recorde de 16,9%
da população activa, mostram os dados ontem publicados pelo Instituto Nacional
de Estatística (INE). O ritmo de agravamento no último trimestre do ano passado
surpreendeu de novo economistas e governo, elevando a taxa média anual para
15,7% – equivalente a mais 126 mil desempregados do que previsto inicialmente
pelo governo. Economistas prevêem agora uma taxa superior a 17% este ano e o
governo prepara uma nova revisão das previsões, a apresentar após o sétimo
exame regular da troika, em Março, como já noticiou o i.
“Os números são
preocupantes, estão razoavelmente em linha com as previsões do governo”,
afirmou o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, ontem à margem de uma
conferência em Lisboa. Passos Coelho referia-se, no entanto, à segunda previsão
do governo, de 15,5% – em Outubro de 2011 o governo previa 13,4% de taxa média
de desemprego, valor que reviu em Outubro do ano passado, na apresentação da
proposta de Orçamento do Estado. A diferença entre a primeira previsão e a
realidade vale 126 mil desempregados, segundo os dados de população activa
divulgados pelo INE. Mesmo em relação à previsão mais recente, o desvio para
15,7% vale mais 10,7 mil desempregados.
O ritmo de
destruição de emprego continua a bater as estimativas de quem faz previsões,
ilustrando a dificuldade em medir com alguma fiabilidade as consequências no
mercado de trabalho de um ajustamento interno sem precedentes na economia
portuguesa.
“Pelos dados
disponíveis já estávamos à espera de um agravamento, mas ficámos surpreendidos
com a dimensão”, admite Paula Carvalho, economista do Banco BPI. A taxa de
desemprego nos últimos três meses de 2012 subiu 1,1 pontos face ao trimestre
anterior, o segundo ritmo mais alto desde o início do programa da troika, em
meados de 2011. Os factores sazonais (fortes no Algarve do turismo, por
exemplo, a região do país com maior desemprego no final do ano) não chegam para
explicar a dimensão do aumento, aponta Paula Carvalho.
Perante os números
mais altos no fim de 2012, combinado com o risco que paira sobre o ritmo
projectado para as exportações, o governo começou ontem a abrir caminho para
uma nova revisão das previsões económicas (contracção de 1% e taxa média de
desemprego de 16,4%). Conforme o i já tinha noticiado, a revisão será
feita após a próxima avaliação regular da troika, marcada para o final deste
mês.
A expectativa em
São Bento é que a diminuição do ritmo da recessão e a eventual estabilização da
economia estanquem a subida do desemprego. Os economistas que seguem o mercado
de trabalho admitem que o agravamento será menos pronunciado que no ano passado
– devido à contracção menor da procura interna –, mas tendo em conta os dados
ontem publicados ajustaram as previsões em alta, ou seja, o desemprego vai
continuar a subir.
Paula Carvalho
aponta um valor médio anual de 17%, com probabilidade elevada de ser pior (e
que não conta com os despedimentos em massa anunciados no Estado – ver caixa ao
lado). Rui Bernardes Serra, economista-chefe do Montepio Geral, citado pela
edição online do “Jornal de Negócios”, aponta um intervalo entre 17% e 17,5%,
com o pico a acontecer no final do ano.
Certo é que o
processo de recuperação será longo – e que a situação no mercado de trabalho
pode piorar ainda muito antes de melhorar. Uma análise recente de Francesco
Franco, o investigador de referência em Portugal sobre a desvalorização interna
via corte da taxa social única e professor da Universidade Nova de Lisboa,
publicou uma análise no mês passado em que antevê uma subida do desemprego de
cerca de quatro a seis pontos face ao valor registado no último trimestre de
2011, para uma taxa de desemprego entre 18% e 20% ao longo do período
2012-2016. Franco avisa que pode não ser exactamente assim – a projecção
assenta no pressuposto de manutenção de políticas e ausência de novos choques
–, mas escreve que a análise serve de “orientação para o desenho de políticas
destinadas a rebalancear o ajustamento externo”.
Além de custo
social e individual do desemprego – uma das ocorrências que mais stresse causam
nas pessoas –, a taxa actual representa perdas significativas de capital humano
para a economia, seja na desactualização das pessoas seja na emigração em massa
dos mais qualificados. O desemprego é também uma força poderosa de pressão para
baixar salários. No plano político, o agravamento mais rápido que o esperado
surge numa altura delicada, em que o governo prepara cortes permanentes de
despesa de 4 mil milhões de euros.
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