domingo, 25 de novembro de 2012

Macau: A BANDEIRA TREMEU, O CAMPEÃO CHOROU

 


Helder Fernando – Hoje Macau, opinião
 
I

Por muito que as palavras, os sons e as imagens vulgarizem, continua a ser arrepiante crianças chacinadas por bombas criminosamente enviadas por adultos profissionais do ódio. A Oriente e a Ocidente, empunhando toda a espécie de bandeiras, não faltam canalhas em centros de decisão. Essa ralé da patifaria assassina à escala mundial, mantêm-se coberta por organizações que, pelo modo como vão actuando há uns anos, cada vez fazem menos sentido: como as Nações Unidas, a Organização de Libertação da Palestina, a Comissão Europeia, ou a Organização da Unidade Africana. Não evitam conflitos, antes pelo contrário. Não travam a fome, as epidemias, a subcondição humana. Não praticam o primado da justiça sobre os corruptos, os oportunistas da ladroagem, os especuladores da guerra.

Algumas destas organizações já desempenharam papel importante em vários cenários, lutas e conflitos. Nos dias de hoje, a generalidade dos seus dirigentes passeiam-se em luxos, rodeiam-se de segurança armada, já nem se preocupam com o sentido dos discursos, desprezam os mais necessitados. E continuam a mentir.

Tenho a certeza de que estas e outras organizações que consomem mares de verbas para existirem na mais completa irrealidade criminosa, vão hoje comemorar de fato, gravata e vestidos compridos, abanando as jóias e pintando os cabelos, o Dia Mundial da Criança. O estimado leitor conhece o estilo: a misericordiazinha, a caridadezinha, a esmolinha aos pobrezinhos, a visitinha aos orfanatos e jardins de infância com prendinhas bem embrulhadinhas, os sorrisinhos, as festinhas nas cabecinhas das criancinhas com as bibezinhos imaculados, os brinquedinhos no lugar e as vozinhas ensaiadas em coro: boa tarde senhor doutor! E o doutor ou a doutora, a bondade em pessoa, balbucia as palavrinhas repetidas, ocas, rápidas e ala que se faz tarde; mais um pouco e as criancinhas deixam pingar o ranho do nariz.

Hoje é o Dia Mundial da Criança. Nota-se muito?

II

Em Portugal, há uma “governança” que já ninguém suporta. Com uma excepção, o sujeito em quem o escasso – mas suficiente – eleitorado colocou na chamada Presidência da República. Todos os dias, várias vezes ao dia, aqueles senhores e senhoras da “governança” metem-se em sarilhos, desmentem-se uns aos outros, mentem com todos os dentes, mostram contas mal feitas, escondem-se das populações, prestam vassalagem a uns amanuenses do exterior, multiplicam-se em operações de marketing pimba, como a mais recente em que os dois partidos da coligação fazem propostas à mesma coligação – uma ridícula pazada de areia para os olhos dos cidadãos. Fica bem demonstrado em que conceito esse tipo de gentinha tem os portugueses desgovernados.

Um das mais recentes escândalos, que tem vindo a ser desmistificado principalmente nas redes sociais, é a velhíssimo processo de colocar agentes policias à paisana no meio de manifestantes mais acesos, para instigar à violência e justificar, logo a seguir, o nojento e irracional uso e abuso indiscriminado da força por parte das polícias.

Para engraxar a CGTP, um ministro da chamada Administração Interna veio salvaguardar a central sindical da responsabilidade pelos desacatos em frente ao parlamento. Disse o óbvio. Acrescentou que a responsabilidade pelos actos de violência se deveu a “meia dúzia de profissionais da desordem e da provocação”. Meia dúzia de infelizes, bem amparados por infiltrados, que justificaram a avalanche destruidora daquela carga policial.

Seria interessante ver tamanha audácia policial sobre “meia dúzia de desordeiros” em situações muito mais complicadas como se assistem noutros países. Quem arrancou pedras da calçada não foram aqueles que estão a sofrer por serem obrigados a pagar dívidas que não contraíram.

III

A confusão vivida no final do GP de Macau deste ano, por causa de “não estar disponível” o Hino de Portugal no momento da cerimónia no pódio em que o vencedor era português, tinha vindo de Portugal e não representava qualquer outro país ou região, fica como um momento profundamente ridículo.

Tento imaginar o que seria, por exemplo em Hong Kong ou em outro local qualquer, se falhasse o God Save The Queen. Desconheço se foram apresentadas formais desculpas ao campeão – pedido de desculpas, já agora, extensivo a todos os portugueses espalhados pelo mundo.

Como seres humanos, erramos todos os dias. Somente os que vivem a repetir serem perfeccionistas, imaginam-se sem mácula. A organização lembrou que em anteriores GP de Macau, já houve acidentes mortais, já choveu e já houve fífias com hinos nacionais. Então é tempo de aperfeiçoar, neste sector também. Mandar dizer, em inglês, ouvido e mal por quem estava junto ao pódio, que o Hino de Portugal “não estava disponível”, é caricato e incompreensível.

Empolgante foi a pronta reacção de nacionais portugueses de diferentes origens, que ali estavam vitoriando o seu compatriota, cantar o Hino com a voz embargada por emoções desencontradas, mas bem alto e bem firme. Até que, longos minutos depois, lá apareceu “disponível”, “A Portuguesa”.

A Bandeira tremeu, o Campeão chorou, os corações e as gargantas mostraram que a Pátria é universal.

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