Mahomed Bachir Sulemane |
A PGR apareceu-nos
na última sexta-feira a “absolver” quem a administração americana, com o aval
do próprio presidente Barack Obama apelidou de “Barão de Drogas”. Mas o mesmo
comunicado da PGR admite que Mahomed Bachir Sulemane e as suas empresas sonegavam
dinheiro ao Estado. Di-lo com imensa naturalidade e acrescenta, quase em tom de
que acaba de conquistar um troféu que o MBS já está a devolver. Di-lo com um
descaramento assustador, é o que podemos pensar partindo a ousadia de quem
parte.
A PGR, entretanto,
não comenta o que a tal brigada da PIC “supervisionada” por uma magistrada do
Ministério Público terá apurado relativamente aos tais cinco passaportes que a
administração americana diz que o magnata Bachir possuía. Fomos perguntar à PGR
o que terá acontecido a essa parte da investigação e apenas nos disseram –
resguardados no anonimato – que está a decorrer um outro inquérito, em
paralelo, em que já há funcionários a serem investigados. Logo assim admitia a
PGR que terão sido encontrados indícios fortes de algo estranho. De outro modo
não haveria ninguém sob investigação. E, havendo, perguntamos: porquê um
inquérito paralelo se fazia tudo parte do mesmo pacote de acusações americanas?
E porque não esperar que toda a investigação termine para depois então a PGR
emitir um comunicado completo?
Que mensagem esta
PGR quer transmitir ao País com estes malabarismos?
E por que razão se
apressou a publicar o comunicado: será porque o Presidente da República Armando
Guebuza está para visitar este mês as Nações Unidas em território americano e
pode ficar à mercê de perguntas inconvenientes de jornalistas estrangeiros?
Diz a PGR que os
investigadores da PIC e do Ministério Público não encontraram evidências contra
o cidadão Mahomed Bachir Sulemane nem contra o grupo MBS, mas se apanharam o
MBS em descaminhos aduaneiros será que não poderá ter havido em situações
anteriores outros descaminhos?
“Foram apurados
factos suficientes sobre violações aduaneiras, violação da legislação cambial e
prática de infracções fiscais”, escreve a PGR no comunicado de sexta-feira, 02
de Setembro de 2011 em que afirma peremptoriamente que durante as “diligências
realizadas” (…) “não apurou indícios suficientes que consubstanciem o tráfico
de estupefacientes ou substâncias psicotrópicas”.
Até o próprio
cidadão Bachir deve estar ofendido por o terem colocado em posição tão ridícula
na praça. Mais ainda pelo facto da própria embaixada americana ter vindo logo
reiterar que mantém todas as acusações contra o magnata do MBS. E ontem mesmo
ter voltado a afirmar que “Bachir é um traficante de drogas significativo”.
‘Quase que mais
valia estarem calados’, comenta a opinião pública à boca cheia a propósito do
comunicado da PGR. Certos sectores da opinião pública chegam mesmo a admitir,
com ironia nos lábios, que este precipitado comunicado da PGR vem na esteira de
necessidades financeiras do partido no poder nesta fase em que se encontram os
preparativos de mais um congresso da Frelimo. Tudo serve agora para
ridicularizar a PGR.
“Reiteramos a nossa
total confiança no processo rigoroso, conduzido por agências múltiplas do
governo dos EUA no ano passado, que encontrou evidências suficientes para a
designação do senhor Bachir como Barão de Droga” – reafirmou em resposta
imediata ao comunicado da PGR, o adido para a Imprensa e Cultura da Embaixada
dos EUA em Moçambique, em comunicado de 05 de Setembro de 2011.
A
Procuradoria-Geral da República, com apoio de agentes da PIC, concluíra que
“foram apurados indícios suficientes de factos” que indiciam “violação dos
procedimentos relativos ao desembaraço aduaneiro”. Então a violação desses
mesmos procedimentos não terá estado na origem de casos que levaram às
acusações americanas?
“Consideramos como
bom sinal a investigação das violações aduaneiras e de impostos, actividades
que em muitos casos servem como base para investigações de tráfico de
estupefacientes e outros actos ilegais”, diz ainda o adido americano em Maputo,
só lhe faltando lembrar que Al Capone nunca foi preso por tráfico mas por
sonegar dinheiro ao Estado.
Se o que a PGR fez
foi para ajudar Guebuza em vésperas de ir às Nações Unidas, prestou-lhe um
péssimo serviço. Com amigos destes bastam os inimigos…reza um velho ditado
universal.
E quando nesta
mesma altura nos chegam mais telegramas do ex-representante americano em
Moçambique durante o primeiro mandato de Armando Guebuza, com comentários não
menos assustadores de um ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e de um
ex-deputado da Assembleia da República que não se lembra de ter dito o que
Chapman afirma mas admite que não há vontade política para se enfrentar o
narcotráfico, como nos podemos sentir no meio de tudo isto?
Que credibilidade
querem as nossas instituições fazer-nos crer e fazer crer ao mundo que merecem?
Moçambique está
mesmo doente! É uma enorme tristeza! E não acontece nada como é normal com
estes escândalos, em verdadeiras democracias, acontecer. Pelo menos há
vergonha. Aqui nem isso. (Canalmoz / Canal de Moçambique)
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