Les
Echos, Paris – Presseurop – imagem AFP
Tão popular no seu
país quanto temido no resto da Europa, o comissário europeu para os Assuntos
Económicos e Monetários gosta, como bom finlandês, de ser discreto. Uma atitude
difícil de manter, numa altura em que as novas regras em matéria de controlo orçamental
fazem dele uma personagem chave da governação económica.
Os políticos
franceses atiram frequentemente a culpa de decisões impopulares sobre
"Bruxelas". Agora, podem também referir “Olli
Rehn", o que vai enriquecer o seu vocabulário. Geralmente
desconhecido, este finlandês, vice-presidente da Comissão Europeia, tornou-se
um interveniente fundamental da governação europeia. O seu relatório de 7 de
novembro sobre as previsões de crescimento na Europa são disso prova. Modesto
até à invisibilidade, Olli Rehn não dá muito peso às suas presentes
atribuições. "Não tenho superpoderes", explica a Les Echos. "Sou
politicamente responsável perante o Parlamento Europeu e a minha única
legitimidade resulta do Tratado Europeu. Foram os Estados-membros e o
Parlamento que concordaram em reforçar a governação económica e a minha tarefa
é apenas obrigar os Estados a praticar o que apregoam.”
Sem que a opinião
pública [...] tenha disso consciência, ocorreu uma nítida alteração, nos
últimos meses. Com a reforma interina do ano passado e o Pacto de Estabilidade
– a legislação do "six pack”, na novilíngua bruxelense –, a Comissão
Europeia tem agora um papel essencial na direção económica da Europa. Quando um
país se afasta da ortodoxia fiscal (3% para o défice e 60% para a dívida
pública) e não toma medidas corretivas consideradas suficientes, Bruxelas pode
facilmente aplicar multas. E não há maneira de escapar a esta orientação: para
se opor, o Estado ameaçado tem de reunir uma maioria qualificada no Conselho,
ou seja, uma missão quase impossível.
Finlandês discreto
Não é realmente
fácil um mau aluno conseguir ajuda dos demais. Além disso, os textos confiaram
à direção geral de Olli Rehn a tarefa de identificar os "desequilíbrios
macroeconómicos" que são forjados no interior dos Estados, como a perda de
competitividade da França ou o início de uma bolha imobiliária na Holanda.
Bruxelas pode então apresentar as suas famosas "recomendações" e
pedir aos Estados um plano de ação para corrigir esses desequilíbrios. E isto é
apenas o começo! Em 2013, o papel de vigilância de Bruxelas será reforçado com
a entrada em vigor do pacto fiscal, que impõe a "regra de ouro". Por
último, um texto legislativo ainda em discussão no Parlamento Europeu – o “two
pack”, irmão mais novo do anterior – irá permitir a Bruxelas dar o seu parecer
sobre projetos de lei de Finanças, no outono, antes da sua aprovação pelos
parlamentos nacionais. "Atenção, não se trata de um direito de veto, apenas
de uma opinião", desvaloriza Olli Rehn.
Apesar do seu cargo
proeminente, Olli Rehn continua a agir com discrição. Excessiva. Recentemente,
foram publicadas as agendas de Tim Geithner, secretário do Tesouro dos EUA.
Quem convocou ele para discutir a crise do euro? No primeiro semestre de 2012,
conversou cerca de 20 vezes com Christine Lagarde, do FMI, e outras tantas com
Mario Draghi, do BCE. Quanto a Olli Rehn, o seu telefone tocou... quatro vezes.
Esta discrição não
surpreende quem conhece realmente o homem que teve a seu cargo a pasta do
alargamento, na anterior Comissão. Olli Rehn nasceu na Finlândia e, obviamente,
isso não é de somenos. Os próprios finlandeses, quando estão em Bruxelas,
divertem-se a explicar aos seus interlocutores a diferença entre um finlandês
introvertido e um extrovertido: o primeiro olha para os pés, o segundo olha
para os do parceiro...
O comissário
continua muito ligado ao seu país de origem. Foi lá que ganhou os seus galões,
nomeadamente como chefe de gabinete do primeiro-ministro, no início da década
de 1990. Hoje, na Grécia, em Portugal ou na Irlanda, vilipendiam-se os
"men in black", os quadros do FMI e da Comissão que lhes entram em
casa a aplicar a poção amarga da austeridade; mas, naquela época, esses
"men in black" ameaçavam instalar-se em Helsínquia. "A Finlândia
atravessava a sua mais grave recessão económica. Sei o que é ter o FMI diante
de nós. Em 1992, para sanear as contas, tivemos que refazer o orçamento do ano
seguinte por quatro vezes, em poucas semanas, a fim de evitar a ajuda
internacional", recorda Olli Rehn.
Pouco adepto da
homeopatia
Regularmente,
atribuem-lhe a ambição de concorrer à presidência do país. É uma figura
respeitada na Finlândia e nunca perde uma oportunidade de lembrar o seu amor às
tradições finlandesas, como a sauna.
No início de
outubro, para lutar contra a ascensão do partido populista dos
"Verdadeiros Finlandeses" e contrariar a relutância dos seus
compatriotas em ajudar os países do Sul, escreveu um livro, No centro da
tempestade, um relato da crise do euro e de defesa da Europa. "É o meu
contributo para o debate em defesa da Europa na Finlândia", afirma o
ativista da UE desde a primeira hora. Facto insólito é os lucros da venda do
livro reverterem para clubes juvenis de futebol. É que o futebol é a grande
paixão de Olli Rehn. "Foi graças a esse desporto que me familiarizei com a
Europa", explica o fã do Manchester United, ao mesmo tempo que enumera os
nomes dos clubes europeus.
Este dirigente tem
convicções económicas muito arreigadas, mais próximas das do Norte da Europa
que dos apelos a uma rápida mutualização da dívida através dos eurobonds. Há
três anos na primeira linha da crise do euro, o finlandês é um defensor do
rigor. O “Senhor 3%" não é muito sensível aos apelos dos políticos e
economistas que reclamam um abrandamento da austeridade. Não se deixa convencer
pelos recentes estudos do FMI que criticam o efeito recessivo das políticas de
austeridade.
Pouco adepto da
homeopatia, o comissário prefere remédios de cavalo, que aleijam mas curam rapidamente.
Da torre de controlo de Bruxelas, opõe-se assim à Letónia, agora quase
candidata ao euro, e à Grécia, que continua a perder tempo e precisa de
medicação cada vez mais forte. No entanto, Olli Rehn insiste em que o pacto
fiscal está longe de “ser estúpido" e deixa uma margem de avaliação, em
caso de recessão. Aliás, desde o verão, os seus serviços concederam mais tempo
a Portugal e Espanha. Favorável ao caso a caso, adversário de uma transferência
generalizada dos esforços, o Comissário está preparado para todas as pressões
políticas.
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