JEF - VC – Lusa, com foto
Coimbra, 10 nov.
(Lusa) – António Arnaut, advogado e antigo ministro dos Assuntos Sociais,
afirmou hoje, em Coimbra, que “a soberania dos Estados” e “o poder político
estão capturados pelos poderes económicos”.
“Porque não se
tocou nas PPP [parcerias público-privadas], porque não se foi buscar dinheiro
às rendas das empresas de energia, porque cedemos 'golden share' de graça?”,
questionou Arnaut, que intervinha num debate sobre “a democracia e o futuro”.
“Falamos de
sustentabilidade do Estado social, mas deixamos as PPP com rendimentos” que
equivalem a “juros de 15 ou 20%”, sublinhou.
“Não tributamos as
grandes fortunas e os grandes rendimentos”, com o argumento de não se provocar,
assim, a deslocalização de empresas para outros países, mas “19 das 20 empresas
do PSI 20 [índice Euronext Lisboa] têm sede no estrangeiro”, criticou o
fundador do Serviço Nacional de Saúde.
Os países do sul da
Europa estão “numa situação de emergência”, é legítimo que, “por sobrevivência
se levantem e ergam a sua voz”, indo, “se for preciso, para a rua”, sustentou
Arnaut.
“Não podem ser os
grandes senhores da banca a mandarem nos governos”, sublinhou, considerandos
que “os governantes, salvo algumas exceções, que as há, também em Portugal,
normalmente estão ao serviço das grandes empresas”, acusou.
“O povo tem de
tomar o poder da palavra” e, “como dizia Miguel Torga, o povo tem o terrível
poder de dizer não”.
Defendendo que “a
chanceler Merkl deve ser bem recebida”, no dia 12, em Lisboa, pois “é nossa
convidada”, António Arnaut considerou que isso não significa, no entanto, que
não haja manifestações – “ainda nos podemos manifestar”.
Na sessão, a
segunda do ciclo Conferencias Políticas, subordinado ao tema “a democracia e o
futuro”, que decorreu na sala polivalente da Casa Municipal de Cultura de
Coimbra, participaram também, sob moderação da jornalista da RTP Fátima Campos
Ferreira, António Arnaut, Avelãs Nunes, Carvalho da Silva e José Miguel Júdice.
As Conferências
políticas, organizadas pela Câmara Municipal de Coimbra, em cooperação com a
Fundação Bissaya Barreto, integram-se nas comemorações dos 300 anos do
nascimento do filósofo iluminista Jean-Jacques Rosseau e dos 250 anos da
primeira publicação de ‘O Contrato Social’, obra que, como referem os
promotores da iniciativa, “promove e defende conceitos como a inalienável
liberdade do Homem ou a soberania do Povo, dois alicerces teóricos da
Democracia contemporânea”.
Sem comentários:
Enviar um comentário