domingo, 11 de novembro de 2012

PROTESTOS CONTRA MERKEL… DA DIREITA E DA ESQUERDA

 


Na semana passada, com a divulgação de uma nova pesquisa certamente alguma luz amarela piscou no radar da chanceler alemã Angela Merkel. No passado domingo, providências vieram à tona e ela anunciou várias medidas de caráter social. O primeiro protesto veio da mídia: lembraram que isso de destinar verbas a causas sociais na Alemanha, num momento em que se pede mais 5 anos de “austeridade” à Europa, pode soar como incoerência e mau exemplo. O artigo é de Flávio Aguiar.
 
Flávio Aguiar - Carta Maior
 
A chanceler Angela Merkel deu um nó na política alemã, reunindo contra si protestos à direita e à esquerda. Pode? Pode.

Na semana passada certamente alguma luz amarela piscou no radar da chanceler. De acordo com uma pesquisa de intenção de voto divulgada pelo semanário Der Spiegel, seu partido (CDU/CSU) ficaria com 37% dos votos, se a eleição fosse agora. Mas seu parceiro de coalizão, o FDP, ficaria com 3%, fora, portanto, do Parlamento, devido à cláusula de barreira de 5%. Em compensação, o SPD teria 26% e os Verdes 15%, somando 41%, candidatando-se ao próximo governo. A Linka teria 8%, os Piratas 5% e outros 6% se dispersariam entre partidos menores.

A chanceler deveria saber desses números antes, com as contínuas sondagens feitas diariamente. E no domingo que passou, providências vieram à tona. Na reunião de sua colalizão, ela anunciou várias medidas de caráter social. Como o número de pensionistas pobres vem aumentando radicalmente na Alemanha, 2 bilhões de euros seriam destinados anualmente a ajudá-los, bem como ao programa que deve destinar 100 euros por mês (150 a partir de 2014) a mães que fiquem em casa tomando conta de seus rebentos. Outros 2 bilhões anuais iriam aliviar os clientes dos sistemas de saúde, que devem pagar 10 euros a cada trimestre aos médicos que visitem. E ainda 750 milhões entrariam de reforço no Ministério de Transportes para melhorias no sistema.

A primeira grita contra isso veio da mídia: editoriais levantaram a pecha do “façam o que eu digo mas não o que eu faço”. Lembraram que isso de destinar verbas a causas sociais na Alemanha, num momento em que a chanceler pede mais 5 anos de “austeridade” à Europa inteira, pode soar como incoerência e mau exemplo.

A seguir foi a vez do vetusto Conselho de Assessores Econômicos (Sachverständigenrat zur Begutachtung der gesamtwirtschaftlichen Entwicklung), uma confraria de 5 sábios que divulgam um relatório oficial a cada ano. De seus cinco membros apenas um é tido como keynesiano. O relatório castigou a proposta de Merkel, lembrando que “despesas estruturais adicionais implicarão um aumento desproporcional em gastos do Estado”. Basicamente o relatório prega a austeridade fiscal programada e permanente, de acordo com a ortodoxia.

Apesar do relatório, a chanceler levou seu plano adiante, e na quinta-feira colocou em votação no Bundestag a parte referente ao auxílio às mães “caseiras”, que foi aprovada por 310 votos contra 282. Todas as oposições votaram contra: o SPD, os Verdes e a Linke. O líder do SPD, candidato a ser o próximo primeiro-ministro, Peer Steinbruck, chegou a qualificar a proposta de uma “imbecilidade”.

A verdade é que essa proposta é controversa, havendo uma série infindável de protestos contra ela por parte de grupos feministas, alegando que ela favorece um conceito antiquado do papel da mulher na sociedade. Entretanto visivelmente a chanceler aposta na sua popularidade num momento em que, apesar da economia alemã continuar sendo a melhor e mais pujante da Europa, ela dá sinais de desequilíbrios latentes. Por exemplo, num caso já citado, hoje o número de pensionistas aposentados que buscam ajuda social suplmentar é 25% maior do que em 2006, reresentando 950 mil pessoas a mais.

A chanceler deu um nó difícil de desatar. Ao argumento de que seu exemplo é ruim frente à Europa, ela pode argumentar que a Alemanha fez a lição de casa ortodoxa antes, coisa que os outros países não teriam feito. E a oposição do SPD e dos Verdes fica enfraquecida, pois quando no governo aplicaram planos orotodoxos não muito diversos do que estão sendo aplicados agora a ferro e fogo (literalmente) em escala continental. E a Linke, por si só, não tem forças ainda para levantar uma oposição robusta à chanceler, pelo menos em termos de votos.

E Angela Merkel quer “dobrar” seu lado direito, antes que este mine de vez suas chances eleitorais em 2013.
 

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