Na semana passada,
com a divulgação de uma nova pesquisa certamente alguma luz amarela piscou no
radar da chanceler alemã Angela Merkel. No passado domingo, providências vieram
à tona e ela anunciou várias medidas de caráter social. O primeiro protesto
veio da mídia: lembraram que isso de destinar verbas a causas sociais na
Alemanha, num momento em que se pede mais 5 anos de “austeridade” à Europa,
pode soar como incoerência e mau exemplo. O artigo é de Flávio Aguiar.
Flávio Aguiar - Carta Maior
A chanceler Angela
Merkel deu um nó na política alemã, reunindo contra si protestos à direita e à
esquerda. Pode? Pode.
Na semana passada certamente alguma luz amarela piscou no radar da chanceler. De acordo com uma pesquisa de intenção de voto divulgada pelo semanário Der Spiegel, seu partido (CDU/CSU) ficaria com 37% dos votos, se a eleição fosse agora. Mas seu parceiro de coalizão, o FDP, ficaria com 3%, fora, portanto, do Parlamento, devido à cláusula de barreira de 5%. Em compensação, o SPD teria 26% e os Verdes 15%, somando 41%, candidatando-se ao próximo governo. A Linka teria 8%, os Piratas 5% e outros 6% se dispersariam entre partidos menores.
A chanceler deveria saber desses números antes, com as contínuas sondagens feitas diariamente. E no domingo que passou, providências vieram à tona. Na reunião de sua colalizão, ela anunciou várias medidas de caráter social. Como o número de pensionistas pobres vem aumentando radicalmente na Alemanha, 2 bilhões de euros seriam destinados anualmente a ajudá-los, bem como ao programa que deve destinar 100 euros por mês (150 a partir de 2014) a mães que fiquem em casa tomando conta de seus rebentos. Outros 2 bilhões anuais iriam aliviar os clientes dos sistemas de saúde, que devem pagar 10 euros a cada trimestre aos médicos que visitem. E ainda 750 milhões entrariam de reforço no Ministério de Transportes para melhorias no sistema.
A primeira grita contra isso veio da mídia: editoriais levantaram a pecha do “façam o que eu digo mas não o que eu faço”. Lembraram que isso de destinar verbas a causas sociais na Alemanha, num momento em que a chanceler pede mais 5 anos de “austeridade” à Europa inteira, pode soar como incoerência e mau exemplo.
A seguir foi a vez do vetusto Conselho de Assessores Econômicos (Sachverständigenrat zur Begutachtung der gesamtwirtschaftlichen Entwicklung), uma confraria de 5 sábios que divulgam um relatório oficial a cada ano. De seus cinco membros apenas um é tido como keynesiano. O relatório castigou a proposta de Merkel, lembrando que “despesas estruturais adicionais implicarão um aumento desproporcional em gastos do Estado”. Basicamente o relatório prega a austeridade fiscal programada e permanente, de acordo com a ortodoxia.
Apesar do relatório, a chanceler levou seu plano adiante, e na quinta-feira colocou em votação no Bundestag a parte referente ao auxílio às mães “caseiras”, que foi aprovada por 310 votos contra 282. Todas as oposições votaram contra: o SPD, os Verdes e a Linke. O líder do SPD, candidato a ser o próximo primeiro-ministro, Peer Steinbruck, chegou a qualificar a proposta de uma “imbecilidade”.
A verdade é que essa proposta é controversa, havendo uma série infindável de protestos contra ela por parte de grupos feministas, alegando que ela favorece um conceito antiquado do papel da mulher na sociedade. Entretanto visivelmente a chanceler aposta na sua popularidade num momento em que, apesar da economia alemã continuar sendo a melhor e mais pujante da Europa, ela dá sinais de desequilíbrios latentes. Por exemplo, num caso já citado, hoje o número de pensionistas aposentados que buscam ajuda social suplmentar é 25% maior do que em 2006, reresentando 950 mil pessoas a mais.
A chanceler deu um nó difícil de desatar. Ao argumento de que seu exemplo é ruim frente à Europa, ela pode argumentar que a Alemanha fez a lição de casa ortodoxa antes, coisa que os outros países não teriam feito. E a oposição do SPD e dos Verdes fica enfraquecida, pois quando no governo aplicaram planos orotodoxos não muito diversos do que estão sendo aplicados agora a ferro e fogo (literalmente) em escala continental. E a Linke, por si só, não tem forças ainda para levantar uma oposição robusta à chanceler, pelo menos em termos de votos.
E Angela Merkel quer “dobrar” seu lado direito, antes que este mine de vez suas chances eleitorais em 2013.
Na semana passada certamente alguma luz amarela piscou no radar da chanceler. De acordo com uma pesquisa de intenção de voto divulgada pelo semanário Der Spiegel, seu partido (CDU/CSU) ficaria com 37% dos votos, se a eleição fosse agora. Mas seu parceiro de coalizão, o FDP, ficaria com 3%, fora, portanto, do Parlamento, devido à cláusula de barreira de 5%. Em compensação, o SPD teria 26% e os Verdes 15%, somando 41%, candidatando-se ao próximo governo. A Linka teria 8%, os Piratas 5% e outros 6% se dispersariam entre partidos menores.
A chanceler deveria saber desses números antes, com as contínuas sondagens feitas diariamente. E no domingo que passou, providências vieram à tona. Na reunião de sua colalizão, ela anunciou várias medidas de caráter social. Como o número de pensionistas pobres vem aumentando radicalmente na Alemanha, 2 bilhões de euros seriam destinados anualmente a ajudá-los, bem como ao programa que deve destinar 100 euros por mês (150 a partir de 2014) a mães que fiquem em casa tomando conta de seus rebentos. Outros 2 bilhões anuais iriam aliviar os clientes dos sistemas de saúde, que devem pagar 10 euros a cada trimestre aos médicos que visitem. E ainda 750 milhões entrariam de reforço no Ministério de Transportes para melhorias no sistema.
A primeira grita contra isso veio da mídia: editoriais levantaram a pecha do “façam o que eu digo mas não o que eu faço”. Lembraram que isso de destinar verbas a causas sociais na Alemanha, num momento em que a chanceler pede mais 5 anos de “austeridade” à Europa inteira, pode soar como incoerência e mau exemplo.
A seguir foi a vez do vetusto Conselho de Assessores Econômicos (Sachverständigenrat zur Begutachtung der gesamtwirtschaftlichen Entwicklung), uma confraria de 5 sábios que divulgam um relatório oficial a cada ano. De seus cinco membros apenas um é tido como keynesiano. O relatório castigou a proposta de Merkel, lembrando que “despesas estruturais adicionais implicarão um aumento desproporcional em gastos do Estado”. Basicamente o relatório prega a austeridade fiscal programada e permanente, de acordo com a ortodoxia.
Apesar do relatório, a chanceler levou seu plano adiante, e na quinta-feira colocou em votação no Bundestag a parte referente ao auxílio às mães “caseiras”, que foi aprovada por 310 votos contra 282. Todas as oposições votaram contra: o SPD, os Verdes e a Linke. O líder do SPD, candidato a ser o próximo primeiro-ministro, Peer Steinbruck, chegou a qualificar a proposta de uma “imbecilidade”.
A verdade é que essa proposta é controversa, havendo uma série infindável de protestos contra ela por parte de grupos feministas, alegando que ela favorece um conceito antiquado do papel da mulher na sociedade. Entretanto visivelmente a chanceler aposta na sua popularidade num momento em que, apesar da economia alemã continuar sendo a melhor e mais pujante da Europa, ela dá sinais de desequilíbrios latentes. Por exemplo, num caso já citado, hoje o número de pensionistas aposentados que buscam ajuda social suplmentar é 25% maior do que em 2006, reresentando 950 mil pessoas a mais.
A chanceler deu um nó difícil de desatar. Ao argumento de que seu exemplo é ruim frente à Europa, ela pode argumentar que a Alemanha fez a lição de casa ortodoxa antes, coisa que os outros países não teriam feito. E a oposição do SPD e dos Verdes fica enfraquecida, pois quando no governo aplicaram planos orotodoxos não muito diversos do que estão sendo aplicados agora a ferro e fogo (literalmente) em escala continental. E a Linke, por si só, não tem forças ainda para levantar uma oposição robusta à chanceler, pelo menos em termos de votos.
E Angela Merkel quer “dobrar” seu lado direito, antes que este mine de vez suas chances eleitorais em 2013.
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