sábado, 10 de novembro de 2012

QUEM É O NOVO PAI DO MONSTRO? O MAIS IMPROVÁVEL DE TODOS… CAVACO

 

 
Paulo Gaião – Expresso, opinião, em Blogues
 
A vida dá muitas voltas. Há dez anos, António Guterres era o pai do monstro. Hoje, o monstro tem uma nova paternidade, posta a nu pelo Governo ao querer refundar o memorando e reduzir a despesa pública. Mas quem será? Mas quem será? Pois é: Cavaco Silva, a personagem mais improvável de todas.
 
Os sectores onde Passos Coelho e Vitor Gaspar querem reduzir 3,5 mil milhões de euros estão na Saúde, Educação e Segurança Social (garante Marques Mendes). Ora são precisamente estes onde mais subiu a despesa pública durante o cavaquismo, entre 1985 e 1995, quando Cavaco Silva foi primeiro-ministro.
 
Escreve o historiador António José Telo na sua História Contemporânea (edição Presença), citando o balanço feito por Eduardo Catroga, um dos ministros das Finanças de Cavaco (há 20 anos, ficava bem o elogio ao despesismo, que era a prova de que um executivo governava bem): "O cavaquismo levou o sistema do Estado Providência (...) ao seu desenvolvimento pleno.
 
Na década de 1985/1995 o sistema de saúde, o sistema educativo e o sistema de segurança social (os três pilares do Estado Providência) são alargados de modo a abarcar toda a realidade nacional e alcançam a sua expressão máxima.
 
As despesas do Estado com a Saúde passam de 3,3% do PIB (em 1986) para 4,3% (em 1995); as despesas do Estado com a educação passam de 3,7% do PIB (em 1985) para 5,1%(em 1995). Verifica-se pois que os três pilares do Estado-Providência cresceram significativamente nos dez anos do cavaquismo, tendo passado as despesas do Estado com eles de 8,7% do PIB (em 1985) para 13,2% (em 1995), um grande aumento de 51%" (os números são de Eduardo Catroga, no livro Politica Económica, 12 meses no Ministério das Finanças, p.140).
 
António José Telo recorda com ironia que o lema central do cavaquismo era "Menos Estado, Melhor Estado". A realidade foi completamente diferente. Cavaco aumentou funcionários, criou novas estruturas, fez novas despesas, aumentou salários da Função Pública. Criou um monstro despesista (continuado por Guterres). O que foi gasto não trouxe, de todo, benefícios proporcionais.
 
Até hoje Cavaco Silva passou sob os pingos da chuva quando a matéria é despesa pública. Ainda disfarçou mais quando em 2000 se atirou a António Guterres por causa do monstro despesista deste. "Na ciência económica há um modelo explicativo do crescimento das despesas públicas em que o Estado é visto como um monstro de apetite insaciável para gastar mais e mais. É o modelo do Leviatão". Era assim que começava o seu artigo "O Monstro", no Diário de Notícias, de 17 de Fevereiro de 2000. Depois era o desanque a Guterres.
 
"Há indicações de que hoje, em Portugal, o monstro anda à solta, atinge um tamanho alarmante e está incontrolável. O orçamento para o ano 2000, em discussão na Assembleia da República, é a prova disso". Terminava assim: "Receio bem que o monstro atinja uma tal dimensão que o combate, depois, não se faça sem muitos feridos quer do lado do Governo, quer do lado dos partidos da oposição, sem falar nos estragos causados à economia nacional e ao bem-estar dos Portugueses."
 
Quem com ferro mata, com ferro morre. Ou pela boca morre o peixe. Hoje, o Presidente da República, encontra-se numa situação difícil. Que fazer? Junta-se ao povo e à esquerda e não permite cortes na Saúde, Educação e Segurança Social? Mas assim afronta o Governo e a própria troika. Aceita que é preciso baixar a despesa, cortar funcionários e até reduzir alguns gastos sociais? Mas assim está a por-se a jeito para lhe atirarem à cara que foi ele o grande responsável há dez anos pelo aumento destas despesas....
 

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