sábado, 10 de novembro de 2012

DESCONCERTO

 


António Perez Metelo – Dinheiro Vivo, opinião
 
Digamos que o FMI não está a clamar aos quatro ventos as dúvidas que acalenta quanto à dimensão e intensidade da cura de austeridade, que vinha promovendo nos países periféricos do euro, por amor aos nossos lindos olhos latinos.
 
Algo de muito errado está em curso: não se pode violentar um povo, ano após ano, com o objetivo de o tornar responsável pelos gastos públicos e privados contra a sua vontade. A partir de determinado ponto de não retorno, repetem-se os gestos de resistência e obstrução à política seguida, gerando um clima impensável para qualquer retoma do investimento, indígena ou estrangeiro.
 
No outro polo desta contenda, por mais que não queiram e não gostem que se diga, estão os alemães. E não exclusivamente o governo alemão, já que a senhora Merkel vem conduzindo a política europeia à beira do precipício do que o Tribunal Supremo de Karlsruhe permite e que a opinião pública tolera (para não falar da publicada, expressa nas tiragens da imprensa popular...).
 
A memória e a experiência histórica do povo alemão, nas últimas oito décadas, impregna os princípios da condução política da economia e das finanças. Sem estabilidade da moeda, não há condições para prosseguir o trabalho diário árduo e persistente da produção material, nem é possível construir uma economia social de mercado justa e próspera, nem se conseguirá completar a hercúlea tarefa de atingir a convergência real entre as partes ocidental e oriental da Alemanha reunificada. O pesadelo do endividamento externo descontrolado já lhes bateu à porta, com o seu cortejo de horrores. Mas a história específica de cada um dos países do euro em dificuldades é-lhes largamente estranha. Se assim não fosse, os líderes políticos germânicos teriam sempre presente, que aquilo que dizem em público reverbera por toda a Europa e mais além.
 
Para consumo interno faz sentido alertar os alemães para mais cinco anos de trabalhos esforçados para, em conjunto, os povos europeus conseguirem vencer a crise em todas as vertentes. Mas para quem em Portugal só ouve admoestações sobre a necessidade de sermos mais responsáveis, esses cinco anos transformam-se no prolongamento de um aperto além do tolerável.
 
Redator principal - Escreve à sexta-feira
 

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