António Perez
Metelo – Dinheiro Vivo, opinião
Digamos que o FMI
não está a clamar aos quatro ventos as dúvidas que acalenta quanto à dimensão e
intensidade da cura de austeridade, que vinha promovendo nos países periféricos
do euro, por amor aos nossos lindos olhos latinos.
Algo de muito
errado está em curso: não se pode violentar um povo, ano após ano, com o
objetivo de o tornar responsável pelos gastos públicos e privados contra a sua
vontade. A partir de determinado ponto de não retorno, repetem-se os gestos de
resistência e obstrução à política seguida, gerando um clima impensável para
qualquer retoma do investimento, indígena ou estrangeiro.
No outro polo desta
contenda, por mais que não queiram e não gostem que se diga, estão os alemães.
E não exclusivamente o governo alemão, já que a senhora Merkel vem conduzindo a
política europeia à beira do precipício do que o Tribunal Supremo de Karlsruhe
permite e que a opinião pública tolera (para não falar da publicada, expressa
nas tiragens da imprensa popular...).
A memória e a
experiência histórica do povo alemão, nas últimas oito décadas, impregna os
princípios da condução política da economia e das finanças. Sem estabilidade da
moeda, não há condições para prosseguir o trabalho diário árduo e persistente
da produção material, nem é possível construir uma economia social de mercado
justa e próspera, nem se conseguirá completar a hercúlea tarefa de atingir a
convergência real entre as partes ocidental e oriental da Alemanha reunificada.
O pesadelo do endividamento externo descontrolado já lhes bateu à porta, com o
seu cortejo de horrores. Mas a história específica de cada um dos países do
euro em dificuldades é-lhes largamente estranha. Se assim não fosse, os líderes
políticos germânicos teriam sempre presente, que aquilo que dizem em público
reverbera por toda a Europa e mais além.
Para consumo
interno faz sentido alertar os alemães para mais cinco anos de trabalhos
esforçados para, em conjunto, os povos europeus conseguirem vencer a crise em
todas as vertentes. Mas para quem em Portugal só ouve admoestações sobre a
necessidade de sermos mais responsáveis, esses cinco anos transformam-se no
prolongamento de um aperto além do tolerável.
Redator principal -
Escreve à sexta-feira
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