domingo, 29 de dezembro de 2013

Portugal: O PRIMEIRO-MINISTRO MENTIU

 


Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião
 
O discurso do poder banalizou a mentira. Não importa o dia seguinte, em que a mentira é desmascarada, o que importa é o momento e o modo como é dita. Com a voz bem colocada, em tom grave e afirmativo, olhando para a câmara aparentando olhar--nos nos olhos, a declaração é feita como se não houvesse amanhã.

Foram criados 120 mil novos empregos líquidos nos primeiros nove meses deste ano, disse Passos Coelho na sua mensagem de Natal. Conforme na edição de ontem do i se explica, segundo os dados oficiais do próprio governo, os empregos criados naquele período não foram mais de 21,8 mil. Não sendo de crer que o primeiro-ministro viva numa redoma de números falsos que lhe sejam transmitidos por assessores incompetentes ou que julgue que a sua afirmação falsa demore muito mais de umas horas a ser desmentida, importa perceber que também não há qualquer vontade de esclarecer ou rebater a informação de que o primeiro--ministro mentiu. Por um lado haverá quem nunca veja os números desmentidos, por outro quem desvalorize a mentira com o sempre redentor e desculpabilizante “são todos iguais”.

A maioria das pessoas que compõem este governo está firmemente convencida que está a fazer o que deve ser feito sentindo-se teoricamente alicerçada nas teses de Friedman. Quem as estudou sabe que o empobrecimento – a que Passos já aludiu –, as guerras ou mortes que provoca são tidos como efeitos colaterais de um ajustamento em que o Estado desaparece enquanto actor económico ou prestador de serviços. Este governo representa um momento de aceleração nesse caminho, que há muito está a ser trilhado na União Europeia e enquadrado no Tratado de Lisboa. Uma aceleração em que a mentira é um instrumento vital, sempre que se conseguir manter a ideia de que o caminho é inevitável e “eles” são todos iguais.

Escreve ao sábado
 

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