quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

BLOG DE GAZA: 4.300 estudantes mortos | Ativistas lançam 'Boicote à Alemanha'

Senado dos EUA se recusa a investigar Israel | A resistência continua – DIA 103

Pela equipe do Palestine Chronicle | # Traduzido em português do Brasil

No 103º dia da guerra israelita na sitiada Faixa de Gaza, um acordo mediado permitiu a transferência de medicamentos para prisioneiros israelitas em Gaza e pacientes palestinianos na Faixa. 

O acordo, esperam alguns, seria o início do regresso às negociações relativas à libertação de prisioneiros, permitindo os suprimentos extremamente necessários e, em última análise, encerrando a guerra. 

No terreno, contudo, a guerra de Israel intensificou-se, matando sobretudo civis em Khan Younis, Rafah, Deir Al-Balah e Jabaliya. 

A Resistência Palestiniana continua a reagir, realizando muitas operações contra os soldados invasores israelitas. 

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, 24.448 palestinos foram mortos e 61.504 feridos no genocídio em curso de Israel em Gaza, iniciado em 7 de outubro. Estimativas palestinas e internacionais dizem que a maioria dos mortos e feridos são mulheres e crianças.

ULTIMAS ATUALIZAÇÕES

Quarta-feira, 17 de janeiro, 19h30 (GMT+2)

OSAMA HAMDAN: A Resistência ainda está a gerir a batalha com força e habilidade.

MÍDIA ISRAELITA: Um drone se infiltrou na área do Monte Meron, na Alta Galiléia, indicando que sirenes estavam soando na área.

BRIGADAS DE AL-QASSAM: Alvejamos um tanque Merkava no campo de Bureij.

BRIGADAS DE AL-QUDS: Alvejamos o quartel-general do inimigo em Khan Yunis.

GALLANT: Se não desmantelarmos o Hamas, não poderemos viver em Israel.

SENADOR DOS EUA CHRIS COONS: Estamos preocupados com a forma como Israel está a gerir a guerra.

EXÉRCITO ISRAELITA: O exército de ocupação israelense anunciou o assassinato de outros dois soldados – um deles um oficial – durante as batalhas em curso em Gaza.

Polícia israelita ataca manifestantes anti-guerra por 'prejudicar sentimentos públicos'

Pela equipe do Palestine Chronicle | # Traduzido em português do Brasil

A polícia israelita dispersou à força na terça-feira um grupo de manifestantes em Tel Aviv que apelava ao seu governo para “acabar com o genocídio” na Faixa de Gaza.

Vídeos postados nas redes sociais mostram várias brigas entre manifestantes e a polícia, que também tentou confiscar cartazes, bem como uma faixa com os dizeres “Parem o Genocídio” dos manifestantes.

Uma idosa também é vista empurrada ao chão por um policial. Outro oficial é visto jogando uma granada de choque na multidão. 

Os manifestantes supostamente representam o “Bloco Contra a Ocupação” e têm se manifestado há muitas semanas.

Segundo relatos, a polícia disse que a manifestação “prejudica os sentimentos do público”. 

De acordo com o site de notícias israelense Walla, a polícia israelense bloqueou preventivamente uma manifestação anti-guerra em Haifa, norte de Israel, marcada para sábado.

A manifestação foi convocada por grupos israelitas de direitos humanos para exigir um cessar-fogo em Gaza e um acordo de troca de prisioneiros, afirma o relatório.

Nas últimas semanas, houve um aumento nas chamadas crescentes em Israel pelo fim do ataque à Faixa de Gaza. 

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, 24.448 palestinos foram mortos e 61.504 feridos no genocídio em curso de Israel em Gaza, iniciado em 7 de outubro.

Estimativas palestinas e internacionais dizem que a maioria dos mortos e feridos são mulheres e crianças.

Imagem: Ativistas de esquerda entram em confronto com manifestantes de direita em Tel Aviv. (Foto do arquivo: Oren Ziv, via ActiveStills.org)

ONU: Especialistas em direitos humanos alertam para “desdobramento do genocídio”

Está a acontecer que “todas as pessoas em Gaza” passam fome

Efrem Kossaify | Arab News | # Traduzido em português do Brasil

Eles dizem que uma situação em que toda uma população civil é forçada a ficar sem comida suficiente tão rápida e completamente não tem precedentes. Israel acusado de destruir a infra-estrutura de produção e abastecimento de Gaza e de usar alimentos como arma de guerra

NOVA IORQUE: Especialistas independentes da ONU alertaram na terça-feira que os habitantes de Gaza representam agora 80 por cento de todas as pessoas que enfrentam fome ou fome catastrófica em todo o mundo. Aconteceu no momento em que realçaram a emergência humanitária sem precedentes na Faixa de Gaza face ao ataque israelita em curso ao enclave sitiado.

“Atualmente, todas as pessoas em Gaza passam fome, um quarto da população passa fome e luta para encontrar comida e água potável, e a fome é iminente”, afirmou o grupo de especialistas em direitos humanos.

A falta de nutrição e cuidados de saúde suficientes está a pôr em perigo a vida das mulheres grávidas e dos seus nascituros, acrescentaram, e todas as crianças com menos de cinco anos de idade, cerca de 335 mil no total, são altamente susceptíveis aos efeitos da desnutrição grave, uma vez que a ameaça da fome continua a crescer.

Os peritos manifestaram preocupação pelo facto de toda uma geração estar em risco de nanismo, uma condição em que a alimentação insuficiente prejudica o crescimento e o desenvolvimento das crianças pequenas, conduzindo a deficiências físicas e cognitivas irreversíveis, representando uma ameaça significativa à capacidade de aprendizagem.

Netanyahu

Osama Hajjaj, Jordânia | Cartoon Movement

Quando os pobres votam na direita

Nuno Ramos de Almeida | Diário de Notícias | opinião

O historiador Thomas Frank tem, na edição dos seus livros em francês, duas obras traduzidas com títulos provocadores. Uma sobre a razão por que os pobres votariam na direita e a outra sobre os motivos por que os ricos passaram a votar à esquerda. Nestes textos, muito baseados na situação dos EUA, relata-se o abandono das classes populares por parte dos partidos da esquerda moderada em troca de agendas menos ligadas aos direitos sociais e mais conectadas com os direitos individuais e as múltiplas agendas identitárias.

Num estudo coordenado por Thomas Piketty sobre a relação entre as desigualdades sociais e os resultados eleitorais em 50 países “democráticos” (Clivagens Políticas e Desigualdades Sociais) verifica-se que há em muitos países desenvolvidos uma evolução: antigamente, as classes trabalhadoras tendiam a votar à esquerda e os patrões, ricos e licenciados à direita. Hoje, verifica-se que os licenciados votam à esquerda e que parte das classes trabalhadoras já não vota, ou não o faz à esquerda. Isso coincidiria com várias circunstâncias: o abandono por parte da esquerda do terreno popular e da defesa das classes trabalhadoras e a passagem de reivindicações “materiais” para “pós-materiais”, enquanto se multiplicam novas lutas de caráter identitário que tornam invisível o conflito de classes. Como alguém dizia, “a classe social não foi morta, ela foi enterrada viva”. 

Obviamente que é necessário fazer uma política que tenha em conta as identidades, mas isso não significa reduzir a política a uma soma de identidades cada vez mais próxima da individualidade. 

Este processo de individualização e perda de referentes coletivos tem a ver com uma alteração da realidade económica e social: a desindustrialização do mundo desenvolvido, a criação de empregos por plataformas, em que dezenas de milhares de pessoas, a fazer a mesma coisa, parecem todas isoladas, em que todos têm laços cada vez menos estáveis, em que há uma certa liquidificação da sociedade. 

Mas tudo isto também foi fruto de uma vitória ideológica. Num célebre artigo em 1939, Friedrich Hayek defende que se deveria entregar a condução da política monetária a uma organização supranacional. Propõe a criação de instituições supranacionais como forma de, na prática, retirar ao controlo democrático o funcionamento da economia. 

Na altura, esta vontade era amplamente minoritária mesmo no seio da social-democracia e da direita moderada, em que o pensamento keynesiano era dominante. Mas até aos anos 70 os pensadores neoliberais e as classes proprietárias, interessadas em reduzir a força dos sindicatos e dos trabalhadores na distribuição do rendimento, construíram uma nova hegemonia. Como afirmava um dos seus defensores mais conhecidos, Milton Friedman, fizeram com que o politicamente impossível se tornasse o politicamente inevitável.

Jornalista do Expresso agredido num evento universitário com o líder do Chega

PORTUGAL

A iniciativa de estudantes com André Ventura foi interrompida por jovens que agrediram e forçaram a saída de um jornalista do Expresso da sala onde se realizava a conferência

Um jornalista do Expresso foi agredido, esta terça-feira à tarde, num evento com o líder do Chega, organizado por associações de estudantes da Universidade Católica Portuguesa, no âmbito de um ciclo de debates com líderes partidários.

A conferência, onde André Ventura foi discursar e responder a perguntas dos estudantes, foi comunicada na segunda-feira a todos os meios de comunicação social pela assessoria de imprensa do Chega, anotando que, “segundo indicações da Universidade", "não seriam permitidas câmaras dentro do auditório”. Não havia qualquer indicação de que seria interdita a presença de jornalistas.

A entrada do jornalista do Expresso foi autorizada por duas jovens junto à porta principal do auditório. O jornalista conseguiu presenciar os primeiros 10 minutos da intervenção de André Ventura.

Foi nessa altura que foi abordado por um jovem que lhe transmitiu que não podia estar presente. O jornalista voltou a identificar-se, tal como tinha feito à porta do auditório. Poucos minutos depois, nova interpelação. E logo a seguir, o jornalista foi abordado por um terceiro jovem – pedindo aí esclarecimentos aos assessores do Chega que estavam presentes na iniciativa, e tentando interpelar André Ventura para esclarecer a situação.

Foi nesse momento que jornalista foi agredido: dois dos jovens prenderam os seus movimentos, agarrando-o pelos pés e pelos braços, forçando a sua saída do evento – deixando todo o equipamento de trabalho na sala, incluindo o computador profissional.

Uma vez fora da sala, a intimidação continuou. E só depois da intervenção de um dos assessores de André Ventura o equipamento foi devolvido. Luc Mombito, segurança pessoal de André Ventura, ainda se dirigiria ao jornalista, perguntando-lhe de forma agressiva se este precisava “de mais alguma coisa para se sentir melhor”. Foi travado pelo assessor de imprensa do Chega, e o jornalista abandonou o local, acompanhado pelo assessor do partido.

UNIVERSIDADE CATÓLICA REPUDIA "LIMITAÇÃO DO DIREITO À INFORMAÇÃO"

Através de um comunicado, a Universidade Católica (UCP) manifestou repúdio por “qualquer tentativa de limitação do direito à informação e intimidação de jornalistas” e acrescentou lamentar “profundamente” os acontecimentos ocorridos durante esta terça-feira no evento com André Ventura. Os responsáveis da Universidade disseram repudiar, também, “a manipulação deliberada das normas de acesso ao evento pelo partido convidado”, o Chega.

A UCP esclareceu que as ‘Conversas Parlamentares’ são organizadas por estudantes e visam promover esclarecimentos sobre as propostas dos vários partidos “sob a forma de um debate livre e não uma organização dos partidos”. O estabelecimento de ensino refere, ainda, “a importância do debate esclarecido para o reforço da democracia, da qual faz parte intrínseca a defesa de uma imprensa livre, bem formada e esclarecida”.

Nota da direção: O Expresso repudia qualquer forma de coação e constrangimento ao trabalho jornalístico e tomará as devidas ações, de forma a apurar responsabilidades e impedir que atos deste tipo voltem a acontecer. A direção do Expresso manifesta inequívoco apoio ao seu jornalista, que foi impedido de realizar o seu trabalho livremente.

Expresso

Relacionado em Expresso:

Universidade Católica e sindicato condenam agressão a jornalista do Expresso em evento com líder do Chega

Portugal | No Algarve, chegou a hora de ‘fechar a torneira’

Isabel Leiria, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia

Começo por lhe fazer um convite: hoje, às 14h00, "Junte-se à Conversa" com David Dinis e Vítor Matos para falar sobre "Até onde pode crescer o Chega?". Inscreva-se aquiAmanhã, às 12h00, irá realizar-se mais um “Visitas à redação”, exclusivo para assinantes. Inscreva-se através do mail producaoclubeexpresso@expresso.impresa.pt e venha conhecer o seu jornal.
Quando os ministros do Ambiente e da Agricultura se reunirem em Faro nesta quarta-feira à tarde e olharem pela janela é provável que se deparem com um céu cinzento, muito vento e até chuva forte, algo raro neste ameno inverno algarvio. Mas as previsões do IPMA, que colocou todo o país em aviso amarelo por causa da “precipitação forte”, não atenuam o problema da seca que tem afetado a região nos últimos anos. E que levarão Duarte Cordeiro e Maria do Céu Antunes a anunciarem hoje as medidas e restrições que terão de ser tomadas para gerir de forma mais rigorosa os recursos hídricos em albufeiras e furos subterrâneos nesta região e até da água consumida em casa e em empreendimentos turísticos.

Entre as medidas que serão anunciadas após a reunião da Comissão Interministerial da Seca, marcada para as 14h30, estarão a proibição de novas áreas de cultura de regadio na região e o racionamento de água, em valores que podem ir até aos 70% na agricultura e 15% no consumo urbano. As percentagens ainda estarão a ser negociadas e poderão ser complementadas com o aumento de tarifários e multas para quem gastar demais. Para reduzir de imediato os consumos, deverá haver uma diminuição na pressão da água que sai das torneiras. Quanto ao projeto de construção de uma dessalinizadora, uma espécie de fábrica de água potável a partir do mar há muito aguardada na região, a sua aprovação deve ocorrer este mês ainda.

Os protestos já se fizeram ouvir, em particular por parte dos agricultores, que consideram “desequilibrados e injustos” para o sector os cortes falados de 70%. Uma redução dessa dimensão significaria a “morte das culturas e uma quebra de produção durante dois anos”, avisa o ex-autarca e atual presidente da Associação dos Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve, Macário Correia. Do lado oposto da região chegam as mesmas queixas, com o presidente da Associação de Regantes e Beneficiários de Silves, Lagoa e Portimão a dizer que neste momento a água existente já nem chega para salvar as laranjas. “Só queremos tentar salvar as árvores”, lamentou ao Expresso na semana passada.

Mas será preciso esperar pelo final da reunião de hoje para saber quão restritivo será o plano de contingência. Para já, o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente apenas adiantou que serão tomadas “as medidas necessárias para garantir o abastecimento público até final de 2024”. Os números falam por si: a albufeira mais cheia é a de Odeleite e está a 32% da sua capacidade; a da Bravura, a mais vazia, está a 8%. E nos últimos 20 anos houve uma redução de 20% na precipitação na região Sul.

Por isso, se olhar pela janela e vir chuva não se iluda. A situação é grave e poderá ficar pior, como explica a Carla Tomás no podcast Expresso da Manhã.

Portugal | Moderadamente

Henrique Monteiro | HenriCartoon

Angola | Eleições Rasgam Acordo de Alvor -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Acordo de Alvor foi assinado há 49 anos. Estive lá mas antes também cobri a Cimeira de Mombaça onde os três movimentos de libertação concertaram posições comuns, para depois negociarem com a potência colonial no Hotel da Penina. Nessa altura trabalhava na Emissora Oficial de Angola (RNA). A equipa da Rádio incluía também Francisco Simons, Horácio da Fonseca e o técnico Humberto Jorge. Já todos faleceram ainda que eu fosse o mais velho. Isto anda tudo ao contrário. Neste momento quero deixar uma palavra de amizade, reconhecimento e gratidão a esses camaradas, dos melhores da Rádio Angolana.

Humberto Jorge criou no seu quarto do Hotel D. João II (onde ficaram os jornalistas) um estúdio. Tínhamos duas “nagras”, uma linha telefónica exclusiva e com o apoio da Rádio Difusão Portuguesa (Algarve) conseguimos equipamentoss que permitiram criar a estrutura. Emitíamos directamente a partir do Algarve. 

Além do nosso trabalho jornalístico tínhamos comentários de Sebastião Coelho (nos dois primeiros dias) e Aquino de Bragança, jornalista moçambicano de origem indiana. Fazia comentários nos jornais das 13 e 20 horas.  Uma figura mundial da luta anticolonial.  

Maria do Carmo Medina participou nas negociações como técnica de apoio à delegação do MPLA, liderada por Agostinho Neto. Diógenes Boavida era membro oficial. Dois advogados de grande prestígio e que se destacaram como defensores dos presos políticos. Ambos colaboravam com a Emissora Oficial. Fontes que exigiram o anonimato dadas as funções que desempenhavam.

 A Dra. Maria do Carmo Medina, ainda o Acordo de Alvor não estava assinado, alertou logo para a “pressa” que FNLA e UNITA queriam impor ao processo de transição. Diógenes Boavida achava possível a organização dos cadernos eleitorais e a realização de eleições durante a transição “se o Governo se dedicar inteiramente a essas tarefas. Temos de estar todos mobilizados para a realização de eleições”.

Diógenes Boavida não contava com o susto apanhado pelos independentistas brancos, seus aliados da UNITA e pela FNLA, no dia 8 de Novembro de 1974, quando chegou a Luanda uma delegação oficial do MPLA, após a assinatura do cessar-fogo com Portugal, na chana do Luinhameje, Leste de Angola. O Aeroporto então chamado Craveiro Lopes foi engolido por dezenas de milhares de pessoas. Entre o aeroporto e a Vila Alice os membros do MPLA passaram entre maresde gente. A polícia disse à imprensa que só no largo do aeroporto estavam mais de 50.000 manifestantes. No percurso, pelo menos 100.000!

A FNLA chegou à capital e nem um polícia sinaleiro saudou os seus delegados. A UNITA nem chegou, já estava instalada na sede da Polícia de Informações Militares (PIM), herdeira da PIDE. Nos corredores da Associação Comercial de Luanda, sede dos independentistas brancos. Apresentava-se como “ movimento dos brancos” e messa altura Savimbi era apenas o ”Muata da Paz” em português. Em umbundu ia correr com todos os portugueses.

Outro pormenor que ia contra a realização de eleições. No Acordo de Alvor ficou escrito que cada movimento de libertação fornecia 8.000 militares para as “forças conjuntas”. A FNLA estava sem tropa, para cumprir tinha que usar militares zairenses. A UNITA nem 100 militares conseguia mandar. O único oficial que apresentou em Luanda, antes do Acordo de Alvor foi o Tenente Sabino. Os outros militares, como Nzau Puna ou Tony da Costa Fernandes, eram altos dirigentes, não podiam ir para a força conjunta. Como podiam aceitar a realização de eleições? Por isso tinham tanta pressa na sua realização. Fizeram tudo para que primeiro faltasse o tempo e depois não existissem cadernos eleitorais!

No dia 31 de Janeiro de 1975 tomou posse o Governo de Transição. Um Colégio Presidencial dirigia. Era constituído pelo Alto-Comissário (Portugal), Lopo do Nascimento (MPLA), Johnny Pinock Eduardo (FNLA) e José Ndele (UNITA) dirigia. Cada parte tinha três ministérios: Portiual, MPLA, FNLA e UNITA. Casa ministério tinha secretários de estado dos movimentos não titulares. Tudo perfeito em termos de paridade. Todos iguais. 

No dia 1 de Fevereiro só tinham que começar a trabalhar na organização dos cadernos eleitorais e na Lei Eleitoral para a realização das eleições em Outubro de 1975. Apenas podiam concorrer os três movimentos à eleição dos deputados da Assembleia Constituinte. Só o MPLA com Diógenes Boavida já no papel de ministro da Justiça se esforçou para a realização das eleições. Todos os outros, inclusive o Alto-Comissário remavam contra a maré.

No primeiro dia de Fevereiro, Daniel Chipenda abriu em Luanda, ao lado da sede central da FNLA, uma “delegação do MPLA”. Ele dizia que era o presidente do movimento e pôs em causa o Governo de Transição. No dia 4 de Fevereiro de 1975 Agostinho Neto chegou a Luanda. Mais de um milhão de luandenses saiu à rua. Foi o susto definitivo dos independentistas brancos e das direcções dos outros movimentos. 

O líder do MPLA exigiu que o Alto-Comissário tomasse medidas encerrando o quatrel de Chipenda (era uma base militar) e desarmando os seus homens que eram muitos mais do que os da UNITA! Também eram quase todos zairenses. Silva Cardoso disse que era preciso rer calma. Neto ripostou: “Não é com calma que se desarmam bandidos”.

O Norte de Angola começou a ser invadido, em Junho de 1974, pelas tropas de Mobutu, oficiais da CIA e militares portugueses contrários ao 25 de Abril organizados no ELP. Tudo saqueado, bancos, casas comerciais, fábricas, fazendas de café e as explorações de gado no Planalto de Camabatela. O comando das tropas portuguesass mandou retirar as forças para Luanda! A festa continuou depois da tomada de posse d Alto- Comissário Silva Cardoso, imposto no cargo pela FNLA e UNITA, por indicação da CIA.

O Artigo 13.º do Ascordo de Alvor atribui ao Alto-Comissário “salvaguardar e garantir a integridade do território angolano em estreita cooperação com o Governo de Transição”. O Artigo 24.º define competências do Governo de Transição. Uma delas é “conduzir a política interna, preparar e assegurar a realização de eleições gerais para a Assembleia Constituinte de Angola”. Diógenes Boavida e outros juristas ligados ao MPLA ficaram a falar sozinhos. Eram ridicularizados pelos ministros da UNITA e da FNLA. Porque queriam eleições.

Agostinho Neto, numa entrevista que me concedeu em Maio de 1975 e publicada no “Diário de Notícias” (Lisboa) disse: “Temos de passar pelo crivo das eleições para sabermos quem representa quem”. O Alto-Comissário Silva Cardoso sabotou as eleições. Os membros do Governo de Transição i afectos à FNLA e UNITA fizeram o mesmo. Lisboa já estava a caminho do 25 de Novembro e apoiava os sabotadores.

O Governo de Transição tinha o dever de criar uma Comissão Central (Artigo 42.º) para “elaborar um projecto de lei eleitoral, organizar os cadernos eleitorais, registar as listas dos candidatos à eleição da Assembleia Constituinte apresentadas pelos movimentos de libertação”.  Tudo sabotado pelo Alto-Comissário Silva Cardoso que logo em Fevereiro de 1975 disse que não existiam condições para realizar eleições! Era o que Mobutu, Spínola e Nixon queriam ouvir. Assim que ouviram, começaram a ouvir-se os disparos das armas.

Daniel Chipenda e as tropas zairenses ao serviço da FNLA iniciaram em Luanda uma guerra sem quartel contra as populações civis. Só o MPLA se opôs fazendo tudo para “desarmar os bandidos”. Mas o Acordo de Alvor, no seu Artigo 29º cria a “Comissão Nacional de Defesa” constituída por todas as partes signatárias. Competia-lhe “assegurar e salvaguardar a integridade territorial de Angola (alínea b) garantir a paz, a segurança e a ordem pública (alínea c) e velar pela segurança das pessoas e dos bens (alínea d).  Pelo contrário. O Alto-Comissário Silva Cardoso estava conluiado com os bandidos armados.

Muitos falam do Acordo de Alvor sem saberem o que dizem. O texto diz no Artigo 40.º: “O Governo de Transição organizará eleições gerais para uma Assembleia Constituinte no prazo de nove meses a partir 31 de Janeiro de 1975, data da sua instalação”.     

E no Artigo 42.º está escrito: “Será estabelecida, após a instalação do Governo de Transição, uma Comissão Central, constituída em partes iguais por membros dos movimentos de libertação, que elaborará o projecto da Lei Fundamental e preparará as eleições para a Assembleia Constituinte”. Leiam a Imprensa da época. Apenas Agostinho Neto, Diógenes Boavida e outros dirigentes do MPLA reclamavam o cumprimento neste artigo! 

Os outros, quando perceberam que seriam esmagados em eleições livres e justas, abandonaram o Governo de Transição para avançar a guerra. E para não restarem dúvidas, Lisboa suspendeu o Acordo der Alvor, para que a parte portuguesa e o MPLA não avançassem para o acto eleitoral. Perdoar e abraçar os bandidos é a única solução. João Lourenço trem razão.

Hoje mando o texto integral do Acordo de Alvor, Talvez alguém queira conhecer quanto mais não seja para falar do que conhece.

*Jornalista

# Leia a seguir TEXTO INTEGRAL DO ACORDO DE ALVOR

Mais lidas da semana