terça-feira, 16 de janeiro de 2024

Angola | Memória do Café da Noite sem Bagaço – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Sebastião Coelho (foto à esquerda) foi um dos maiores radialistas angolanos. Ao nível dele só conheci Santos e Sousa ou Norberto de Castro. Começou a carreira profissional no Rádio Clube do Huambo, sua terra natal, onde realizou e produziu, nos anos 50, o programa Cheque Mate, primeiro na Rádio Angolana em que os ouvintes interagiam com o estúdio. Na antena da Rádio Eclésia - Emissora Católica de Angola lançou o Café da Noite, um dos mais populares e de maior audiência da Rádio Angolana. 

Nesta altura Sebastião Coelho virou empresário ao criar os Estúdios Norte. Nos anos 60 lançou a editora discográfica “CDA” que teve um papel fulcral na difusão da música popular urbana. Também publicou dois livros, “Informação de Angola” (1977) e “Angola. História e Estórias da Informação” (1999). Trabalhei com ele mas também com os outros dois realizadores independentes na antena da Rádio Eclésia: Zé Maria (Luanda) e Brandão Lucas (Equipa). Ele não gostou que o trocasse pela concorrência. Mas ficou ainda mais zangado quando trabalhei com Norberto de Castro no inigualável programa “Paralelo 9”. Ciúmes artísticos afastavam os dois gigantes da Rádio.

A cobertura da cimeira do Alvor afastou-o para sempre de mim. Sebastião Coelho estava presente na cimeira a convite do presidente da Junta Governativa de Angola, Almirante Rosa Coutinho. Mas já não tinha os seus Estúdios Norte nem estava aos comandos do programa Café da Noite. Os esquadrões da morte (FRA) invadiram as instalações, partiram tudo e ele escapou da morte porque andou a fugir pelos telhados da Travessa da Sé! 

Sebastião Coelho ia todos os dias ao nosso estúdio, montado num dos quartos do Hotel D. João II, fazer um comentário sobre a cimeira, para a Emissora Oficial de Angola. Teve um diferendo com Francisco Simons. Exigia fazer o seu comentário em directo e o Chico disse-lhe que em directo só ele e o Horácio da Fonseca! Eu dei razão ao meu colega. Ficou tão zangado que acabou ali a colaboração e nunca mais me falou. No seu livro “Angola. História e Estórias da Informação” ele diz de mim o que Maomé nunca disse do toucinho fumado. 

As estrelas são assim. Sebastião Coelho e João Canedo (sonoplasta) construíram edifícios sonoros com uma dimensão estética inigualável. Fizeram Rádio a um nível superior. Só posso dizer bem deles. E agradecer-lhes por tudo o que deram aos amantes da Rádio, como eu. Pelo que deram à Rádio Angolana.

O Centro de Formação de Jornalistas do Huambo foi inaugurado ontem pelo Presidente da República. Já me pronunciei sobre os equívocos tornados públicos pelo director-geral. Hoje confirmei. Vão mesmo fazer daquela estrutura um lugar de extorsão de “propinas” às famílias de jovens que sonham ser jornalistas. Saem de lá com um papel mas sem saberem nada da profissão. Mais reprodução da mediocridade. Mais equívocos.

JORNALISMO ANGOLANO - Imprensa Industrial e o Perfume da Rádio – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Jornal de Angola é o decano dos órgãos de informação de Angola. Em 8 de Outubro de 1914 nasceu em Luanda um semanário intitulado A Província dirigido por Francisco Pereira Batalha, um jornalista tomado de empréstimo aos Correios e que foi correspondente do então prestigiadíssimo jornal português O Século. Mas já em 1893 havia surgido em Luanda um semanário com o mesmo nome. 

Em 16 de Agosto de 1923 nasceu o semanário A Província de Angola, periódico que congregou largos recursos financeiros entre entidades bancárias, empresas agrícolas e abastados comerciantes de Luanda. Foi fundado por Adolfo Pina, o seu primeiro director. Começou por ser impresso na velha Tipografia Mondego que ainda existia no início dos anos 60. 

No ano seguinte, a 5 de Junho de 1924, o jornal A Província de Angola começou a ser impresso em oficinas próprias com casa de obras e onde ainda hoje funciona. Nesta altura o jornal passou a bissemanário (Agosto de 1924). Menos de um ano depois da sua fundação, o jornal passou a ser o símbolo do jornalismo industrial e o seu quadro redactorial já era profissional.

O jornal A Província de Angola foi subindo passo a passo os degraus do sucesso. A partir de 4 de Outubro de 1926, o periódico deu um dos mais importantes passos no seu percurso, passou a diário da tarde, formato tabloide. Mas a 15 de Agosto de 1933, voltou a formato clássico e passou a ser um diário da manhã. Nessa altura morreu Adolfo Pina, fundador e director do jornal. 

O dia 15 de Agosto era na época o Dia da Cidade e por isso, alguns dos momentos mais marcantes da vida do jornal ocorreram nessa data, altura em que aconteciam as festas de Nossa Senhora da Assumpção de Loanda.

O imperialismo sionista e o fascismo no barril de pólvora da crise

– A luta do povo palestino escreve com sangue a sua história e a nossa

Ángeles Maestro [*]

A ofensiva militar da resistência palestina ao Estado sionista no dia 7 de outubro, liderada pelo Hamas e apoiada por todas as suas organizações, marca um ponto de viragem decisivo para os povos árabes e para o mundo inteiro. A demonstração prática de como a determinação de um povo incomparavelmente mais fraco militarmente - facto verificado em todas as revoluções - é capaz de derrubar o mito da invencibilidade de um dos exércitos mais poderosos do mundo, derrubou de uma só vez um dos mitos mais enraizados nas organizações de esquerda ocidentais:   a impossibilidade absoluta de enfrentar o inimigo todo-poderoso.

Manifestações gigantescas percorreram todos os países do mundo quando a luta internacionalista parecia estar a definhar. Trouxeram para o primeiro plano a defesa da legitimidade da luta do povo palestino, e portanto da sua luta armada, contra o ocupante sionista. O cancro que alimentou a impotência da esquerda durante décadas – o pacifismo como princípio inamovível – começa também a desfazer-se. Este pacifismo foi criado pela social-democracia e pelos Verdes e penetrou profundamente nos grandes partidos eurocomunistas que aceitaram a política das últimas décadas da URSS de coexistência pacífica com o capitalismo. Todos eles se tornaram hoje, tal como o governo do PSOE e os seus comparsas de Sumar e Unidas Podemos, peões da NATO, apoiando o envio de armas para os fascistas na Ucrânia e vendendo armas ao Estado sionista para massacrar o povo palestino.

Perante o horror dos milhares de palestinos mortos, na sua maioria mulheres e crianças, o internacionalismo proletário ressurgiu nos EUA e em muitos países europeus, também no Estado espanhol. A classe operária, sem a qual as garras do imperialismo são absolutamente impotentes, demonstrou, ao recusar-se a colaborar no envio de armas para Israel, que a solidariedade internacionalista continua viva.

A luta do povo palestino, a das suas organizações armadas e a de todo o seu povo que resiste defendendo casa a casa as ruas de Gaza, com imagens de um heroísmo irredutível que faz lembrar a batalha de Estalinegrado, trouxe de novo à memória a aliança do nazismo com o sionismo, desde o fim da Segunda Guerra Mundial até agora. A resistência do povo palestino e o gigantesco massacre sionista recordaram-nos uma vez mais que só a luta dos oprimidos é capaz de romper os muros da desinformação, de chegar à consciência das massas e de escrever a história com o seu próprio sangue.

Propaganda de guerra intensifica-se. A mídia dos EUA apela à guerra contra o Irão

EUA querem deter o “Eixo da Resistência”

O Irão tem capacidade para atingir bases dos EUA no Médio Oriente. Tem um exército formidável.

Timothy Alexander Guzmán* | Global Research | Traduzido em português do Brasil

Lembra-se de quando a grande mídia, especialmente a FOX News, clamava por um ataque ao Iraque porque Saddam Hussein e o Partido Baath estavam desenvolvendo Armas de Destruição em Massa (ADM)?

A FOX News foi a principal líder de torcida para que os EUA e seus aliados europeus invadissem o Iraque e eliminassem Saddam Hussein. Para ser justo, a CNN, a MSNBC e outros meios de comunicação também apoiavam a guerra, mas a FOX News era claramente a voz mais alta. Hoje, a FOX News está de volta com outras redes de mídia de direita que também têm apelado aos EUA e seus aliados para bombardearem o Irã para deter o Eixo de Resistência que inclui o Hezbollah no sul do Líbano, Síria, grupos de resistência iraquianos e agora o Iêmen. , com os rebeldes Houthi que têm lançado ataques com mísseis contra navios comerciais israelitas e ocidentais no Mar Vermelho em apoio a Gaza. 

Analista estratégico sênior da Fox News, ex-general do Exército dos EUA, Jack Keane , um falcão de guerra que serviu como conselheiro para gerenciar a ocupação do Iraque pelos EUA e membro do  Comitê Consultivo do Conselho de Política de Defesa . Keane também é presidente da AM General, fabricante de veículos pesados ​​e automotivos que produz Humvees militares para uso civil e militar. Recentemente, Keane falou na FOX News sobre os mais de 60 ataques conduzidos por caças americanos e britânicos no Iêmen. Os principais pontos que ele destacou na rede FOX foram que os EUA e seus aliados britânicos já tinham seus alvos identificados devido ao Centcom, o comando central dos EUA,

“Eles provavelmente estavam rastreando os Houthis e tentando esconder parte dessa capacidade nos últimos dias. Mas temos uma vigilância excelente lá, e provavelmente teremos, somos capazes de determinar se eles estão movimentando muito isso, eles vão terminar a avaliação, acredite, acho que se houver capacidade lá, isso ainda é significativo, deveríamos atacar novamente e então precisamos nos lembrar do que realmente está acontecendo aqui.”

BLOG DE GAZA: Israel bombardeia Qizan Al-Najjar | Mais soldados mortos

Conflitos nas fronteiras do Egito e do Líbano | Retiros Militares Israelenses – DIA 102

Pela equipe do Palestine Chronicle | # Traduzido em português do Brasil

A rádio militar israelense citou o Ministro do Conselho de Guerra, Gideon Saar, dizendo que os militares israelenses ainda estão longe de serem capazes de derrotar o Hamas.

Seus comentários seguiram declarações de Gadi Eisenkot, outro ministro, que disse que Israel deveria optar por um grande acordo para trazer os soldados israelenses para casa.

Os comentários foram feitos após 102 dias de uma guerra genocida em Gaza, que testemunhou assassinatos em massa, mas também uma resistência palestiniana sem precedentes.

De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, 24.100 palestinos foram mortos e 60.834 feridos no genocídio em curso de Israel em Gaza, iniciado em 7 de outubro. Estimativas palestinas e internacionais dizem que a maioria dos mortos e feridos são mulheres e crianças.

ULTIMAS ATUALIZAÇÕES

Terça-feira, 16 de janeiro, 12h30 (GMT+2)

BORRELL: A opção militar em Gaza não será suficiente se não conduzir a um projecto político.

AL-JAZEERA: Vários palestinos foram mortos e feridos num bombardeio israelense que teve como alvo um grupo de palestinos em Khirbet Al-Adas, em Rafah, ao sul da Faixa de Gaza.

BRIGADAS AL-QASSAM: Nossos combatentes atacaram um porta-tropas israelense com um dispositivo estroboscópico e um projétil Yassin 105 ao norte do bairro Sheikh Radwan, na cidade de Gaza.

FONTE DE SEGURANÇA LIBANESA: nenhuma infiltração israelense foi detectada nas proximidades da cidade de Aita al-Shaab, no sul do Líbano. Uma fonte das forças das Nações Unidas que operam no sul do Líbano (UNIFIL) também confirmou que a UNIFIL não recebeu qualquer relatório de infiltração israelita através da fronteira com o Líbano.

HEZBOLLAH: Alvejamos com mísseis uma reunião de soldados da ocupação israelense a leste do assentamento de Efen Menachem.

IRAQI FM: O Ministério das Relações Exteriores do Iraque disse que convocou seu embaixador em Teerã para consultas após o bombardeio iraniano de Erbil, no Curdistão iraquiano, na segunda-feira.

MINISTÉRIO DA SAÚDE DE GAZA: 350.000 pessoas sofrem de doenças crónicas sem medicação, e o Ministério apelou às instituições internacionais para fornecerem medicamentos com urgência.

JORDANIAN FM: Apoiamos o processo da África do Sul e todos devem respeitar o direito internacional.

GIDEON SAAR: Deve ser tomada uma decisão imediata para aumentar a pressão militar sobre o Hamas. Reduzir as operações militares em Gaza e reduzir as forças sob o status quo é errado.

MÍDIA PALESTINA: eclodiram confrontos entre as Brigadas Al-Qassam e o exércitoegip israelense a noroeste da Cidade de Gaza.

AL-JAZEERA: o exército de ocupação israelita iniciou uma nova incursão em mais de um eixo em Gaza e no seu norte desde as primeiras horas da manhã.

MINISTÉRIO DA SAÚDE DE GAZA: 24.285 palestinos foram mortos e 61.154 feridos no genocídio em curso de Israel em Gaza, iniciado em 7 de outubro.

Observando os vigilantes: Os 5 Ds da política dos EUA para o Médio Oriente

A ilusão, a negação, a desonestidade, a distorção e o desvio de Washington tiveram consequências desastrosas para a região.

Rami G Khouri * | Al Jazeera | # Traduzido em português do Brasil

Há 100 dias que a guerra genocida sustentada por Israel em Gaza tem impulsionado o Médio Oriente para novas órbitas de morte, destruição e receios cada vez maiores de um caos maior que se seguirá. Os últimos 10 dias trouxeram-nos outro espetáculo recorrente do legado moderno dos confrontos árabe-israelenses: uma viagem regional do secretário de Estado dos Estados Unidos para “acalmar as coisas”.

Ao visitar a região, Antony Blinken – disseram-nos – tinha quatro objectivos: reduzir o rufar de uma conflagração regional iminente, aumentar a ajuda humanitária a Gaza enquanto os palestinianos estão a definhar sob o cerco de fome de Israel, reduzir o número de palestinianos mortos e feridos por Os bombardeios diários genocidas de Israel e exploram como acordos políticos após o fim dos combates poderiam lançar negociações para uma região estável e pacífica.

Isto parece nobre e sensato – talvez para o homem na Lua. Poucas pessoas na Terra que acompanham o Médio Oriente e conhecem a sua história moderna acreditam nos objectivos declarados dos EUA. O problema paralisante dos esforços de Blinken – e da forma como os grandes meios de comunicação dos EUA os cobrem – é que quase todas as declarações ou objectivos que ele pronuncia são contrariados pelo impacto das políticas reais dos EUA no Médio Oriente, e todos os perigos que ele procura reduzir são geralmente causados ou intensificado pelo militarismo americano na região.

Para o povo do Médio Oriente, Blinken, o bombeiro, parece mais o assistente do incendiário. Pois os esforços dele ou de qualquer recente secretário de Estado dos EUA são prejudicados pelos 5 Ds das políticas de Washington sobre Israel-Palestina e a região: ilusão, negação, desonestidade, distorção e desvio. Todos estavam em plena exibição durante a turnê do Blinken.

A ilusão descreve bem como os EUA projectam a sua imagem como potência estrangeira altruísta que vem trazer calma e fraternidade à região do Médio Oriente, ao mesmo tempo que alimenta e prolonga a violência e o conflito.

Sentimentos instintivos levam a erros estratégicos

EUA atraídos para o cenário de batalha em Gaza, Iémen e agora no Iraque

A China e a Rússia têm estado notavelmente calmas, observando atentamente o movimento das placas tectónicas globais em resposta às “duas guerras”.

Alastair Crooke* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

A China e a Rússia têm estado notavelmente calmas, observando atentamente o movimento das placas tectónicas globais em resposta às “duas guerras” (a “multiguerra” da Ucrânia e de Israel). Na verdade, não é surpreendente; ambos os Estados podem sentar-se e simplesmente observar Biden e a sua equipa persistirem nos seus erros estratégicos na Ucrânia e nas múltiplas guerras de Israel.

O entrelaçamento das duas guerras irá, naturalmente, moldar a nova era. Existem riscos substantivos, mas por agora podem observar com conforto, à distância, o desenrolar de uma conjuntura climática na política mundial, aumentando gradualmente o ritmo do atrito até um círculo de fogo.

A questão aqui é que Biden, no centro da tempestade, não é um Sun-Tzu de cabeça fria. A sua política é pessoal e altamente visceral: como Noah Lanard escreveu na sua análise forense de Como Joe Biden se tornou o principal falcão da América , a sua própria equipa diz-no claramente: a política de Biden está assentada nos seus “ kishkes ” – nas suas entranhas.

Isso pode ser visto na forma desdenhosa e gráfica com que Biden zomba do Presidente Putin como um “autocrata”, e na forma como ele fala sobre as vítimas do ataque do Hamas serem massacradas, agredidas sexualmente e feitas reféns, enquanto “o sofrimento palestino é deixado vago – se é que é mencionado”. “Não creio realmente que ele veja os palestinianos” , diz Rashid Khalidi, professor de Estudos Árabes Modernos na Universidade de Columbia.

Há uma longa e respeitável história de líderes que tomam decisões no momento certo a partir de seu inconsciente, sem cálculos racionais cuidadosos. No mundo antigo esta era uma qualidade altamente valorizada. Odisseu exalava isso. Chamava-se mêtis. Mas essa capacidade dependia de um temperamento desapaixonado e de uma capacidade de ver as coisas "em termos gerais"; agarrar os dois lados de uma moeda, diríamos.

Portugal | O Chega quis fazer chicana com os CTT e saiu escaldado

Saíram escaldados, a falar sozinhos, e a fingir nada ter ouvido do muito que lhes foi dito. No fundo, mostraram que ficam satisfeitos em dizer umas atoardas para serem depois passadas nas redes sociais.

AbrilAbril | editorial

A estridente construção de casos e casinhos onde assenta a forma de fazer política do Chega levou à realização, esta quarta-feira, de um debate na Assembleia da República sobre «Empresas públicas intervencionadas, em especial nos CTT». O mote era dado pela compra de 0,24% das acções dos CTT pelo Governo PS em 2021, e a tese, a de que o Governo PS, fruto de negociações secretas com o PCP e o BE, cometera uma ilegalidade nas costas do povo português.

O PCP reafirmou saber dessa intenção do Governo, que tinha desvalorizado a mesma e alertado publicamente os trabalhadores que a compra de uma posição minoritária na empresa não resolvia os problemas provocados pela gestão privada. Não resolvia os 13% que o PS chegou a dizer – também publicamente – que admitia comprar, muito menos resolveria os 1,95% que João Leão mandou comprar e menos ainda resolveria os ridículos 0,24% que de facto o Governo comprou. Por outro lado, defendeu a sua posição de renacionalizar os CTT.

O BE afirmou basicamente o mesmo, com a única diferença de não ter sido informado da intenção do Governo de comprar acções dos CTT.

O Chega fingiu não ouvir, e continuou, até ao final do debate, a falar em negócios secretos, em preços a pagar pelo voto no Orçamento, e na teoria da conspiração que ergueu em torno desta matéria.

Portugal | Política e geleia

Miguel Prado, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia.

Começo por lhe fazer um convite: amanhã, dia 17, às 14h, "Junte-se à Conversa" com David Dinis e Vítor Matos para falar sobre "Até onde pode crescer o Chega?". Inscreva-se aqui. E na quinta-feira, às 12h, irá realizar-se mais um “Visitas à redação”, exclusivo para assinantes. Inscreva-se através do mail producaoclubeexpresso@expresso.impresa.pt e venha conhecer o seu jornal.

Agora, o inusitado título deste Expresso Curto. Começo pela geleia. No último Natal amigos de longa data enviaram um cabaz simpático com uma deliciosa geleia de maçã e alecrim. O aroma é extraordinário. E o pequeno frasco, claro, está a terminar. Mas, na verdade, não é essa geleia que aqui nos traz. É uma outra, que tomou o espaço público, invadindo a cena política com um colorido intenso e uma consistência dúbia.

Não mudemos de assunto, mas recuemos no tempo. Em 1978, em “Pano-Cru”, num disco que nos trouxe canções maravilhosas como “O primeiro dia” e “Balada da Rita”, Sérgio Godinho cantava assim: “o fascismo é uma minhoca que se infiltra na maçã, ou vem com botas cardadas, ou com pezinhos de lã”. O país vivia os primeiros anos pós-revolução e as memórias da ditadura estavam frescas. Quase meio século depois, sem botas cardadas nem pezinhos de lã, o seu fantasma ressurge, com ou sem ironia, lembrando um período sombrio da nossa história.

Eis que no ano em que Portugal celebrará os 50 anos do 25 de Abril o país se encontra perante um dos desafios maiores das últimas décadas na sua construção democrática. O populismo materializou-se numa máquina bem oleada, com uma narrativa eficaz, atraindo um número cada vez maior de cidadãos, insatisfeitos com as respostas dadas pelas forças partidárias que há mais anos dominam a política nacional. A mensagem vence e convence, mesmo quando sustentada em alegações que nem sempre aderem à realidade. Mas assim é a geleia: escorregadia. E acontece num contexto de um desemprego relativamente baixo (a taxa está hoje nos 6,6%, longe do pico de 17,7% de 2013), contas públicas em ordem (na iminência de baixar a dívida para menos de 100% do PIB), continuidade da percepção de Portugal como um dos países mais seguros do mundo.

Claro que, além dos bons indicadores, o país soma, também, fontes de preocupação. A habitação é cara, os professores estão insatisfeitos, os polícias também, muitos jovens optam por emigrar, os hospitais aparentam não conseguir dar resposta às necessidades dos cidadãos, pressionados pela escalada inflacionista do último par de anos. Após a “geringonça”, o Partido Socialista conseguiu mandar sozinho mas depois veio o 7 de novembro de 2023: a demissão de um primeiro-ministro que, maioritário no Parlamento, sucumbiu perante as suspeitas levantadas pelo Ministério Público na Operação Influencer.

António Costa decidiu sair de cena, servindo ao eleitorado, de bandeja, o futuro do país. Após oito anos de governação socialista, há quem à esquerda diga “basta” e à direita diga “chega”. E aqui estamos. O presidente do terceiro maior partido, reconduzido com uma soviética maioria, propõe aliviar a carga fiscal dos portugueses, riscando o IMI e o IUC e aumentando generosamente as pensões. Paga a promessa com o sonho, indo buscar 20 mil milhões de euros a um pote mágico chamado “acabar com a corrupção”. Mas... “Prometer acabar com a corrupção é como prometer a paz no mundo”, notava ainda ontem, na TVI, Pedro Santos Guerreiro. Sobre as ditas promessas, vale a pena ler aqui no Expresso, se ainda não leu, quanto custariam as medidas. Henrique Raposo, também no Expresso, não hesita em sublinhar que “quando diz que os estrangeiros estão a consumir a Segurança Social, roubando o dinheiro que os nossos pais e avós descontaram durante anos, Ventura está a mentir duas vezes”.

Daniel Oliveira, neste artigo de opinião, nota que “André Ventura não é o único que mente e faz promessas que não tenciona cumprir”, mas aponta o “descaramento perante a evidência da mentira grosseira”. Ainda está a ser escrita a história da sua ascensão em Portugal, que parece assentar numa capitalização de descontentamento que tira partido, por um lado, do fascínio dos media por personagens com posições inflamadas e conflituosas, em detrimento das vozes mais serenas e ponderadas; e, por outro lado, do fenómeno das redes sociais, enquanto espaço de difusão de informação não mediada, livre dos filtros do jornalismo, e de circulação gratuita. Num espaço e no outro, o dos media e o das redes sociais, fomos assistindo a um fenómeno de polarização, favorecendo o extremismo e a radicalização, em prejuízo do debate construtivo e elevado.

É ainda incerto se o crescimento do Chega o tornará, afinal, um partido como os demais, uma força que fará cedências para obter poder. Uma peça do sistema, portanto. E é também uma incógnita o futuro do PSD, que, no caminho para as legislativas, já distribuiu os lugares elegíveis para os seus, e também os que poderão permitir ao CDS regressar ao Parlamento. Como Luís Marques Mendes comentava no domingo, PSD e CDS têm de “apresentar ideias” para um “projeto transformador” para as eleições de 10 de março.

A política nacional está ao rubro e o termómetro da direita está a ferver. Não perca, acabado de sair, o mais recente episódio do podcast Comissão Política, que debate as ambições e promessas de André Ventura. Se não gostar, prove geleia de maçã com alecrim. Uma delícia. Mas como o mundo não termina neste deslumbramento, veja que outros temas marcam a atualidade.

Portugal | Aqui Chegados…

Pedro Cruz* | Diário de Notícias  opinião

No último fim de semana assistimos à tentativa de um partido político de deixar o clube dos pequenos e ir de cabeça nadar na piscina dos grandes. Veremos a 10 de março se Ventura se atirou para fora de pé, ou se, afinal, tinha braçadeiras que lhe permitem flutuar na piscina dos adultos.

Respaldado em sondagens que lhe prometem 15%,  Ventura acredita que esse número peca por escasso e que é possível chegar aos 20 ou “até mais”. Nesse caso, ele terá razão e está a jogar na liga principal e a disputar com PSD e PS a possibilidade de formar Governo.

Toda a convenção foi um ato cénico com o objetivo de mostrar que o Chega - perdão, André Ventura - tem capacidade para chegar ao poder e governar. Estamos hoje muito longe das convenções onde militantes atacavam militantes, onde havia insultos entre dirigentes e ajustes de contas a partir do púlpito. Este fim se semana vimos um Chega que se comporta como os outros, pelo menos na coreografia, na encenação do espaço e num esforço de se “moderar” para poder sentar-se à mesa dos adultos.

O discurso já não fala em castração química dos pedófilos, nem em prisão perpétua. Ficam a segurança, a emigração, os “subsidiodependentes” e a corrupção. “Limpar Portugal”, diz o Chega, a propósito das portas giratórias, da quantidade de institutos e observatórios, dos “privilégios” da classe política.

No discurso de encerramento, o líder fez nove promessas, que vão desde a reposição do tempo de serviço dos professores, passam por subsídios aos agentes da PSP e militares da GNR, o fim gradual do IMI e do IUC, reformas mais baixas iguais ao salário mínimo, eliminação das listas de espera na Saúde para cirurgias e consultas através de acordos com o privado e o setor social. E assim, de uma penada, há medidas de direita, de centro e de esquerda. Dá para todos.

O problema, que para os populistas não o é, é que o Chega não fez contas a quanto custam estas promessas. Fez outra. Prometeu ir buscar esse dinheiro à luta contra a corrupção e aos impostos perdidos na economia paralela, ao valor dos apoios sociais em subsídios e ao custo dos programas públicos de identidade de género.

Demasiado vago para ser levado a sério, mas que entra no ouvido dos mil delegados que encheram a sala da convenção nos três dias.

De forma inteligente e aberta, poupou o PSD às críticas mais severas e apontou fogo a Pedro Nuno Santos e ao PS.

E nem precisou de disparar sobre o PSD. Bastou-lhe citar Sá Carneiro para irritar o seu antigo partido. E reclamar para si a condição de herdeiro e seguidor do fundador do PPD.

Aqui Chegados, só agora os outros partidos começam a perceber aquilo que ficou muito claro há quatro anos: o Chega está implantado na sociedade, não tem programa, nem quadros, mas tem militantes e eleitores. Muitos. Aparentemente, hoje são muitos, mas amanhã serão muitos mais.

Por mais voltas e reviravoltas que o Chega consiga dar no espetáculo coreografado do fim de semana, por mais que consiga dar a ideia de moderação para atrair mais votos, não sei se mais alguém reparou, ou se fui só eu. Nas laterais do pavilhão, havia dois pendões gigantes, retangulares, com a bandeira de Portugal. Iguais, na forma, aos que as SS usavam nos comícios e outros eventos públicos.
Fui só eu que reparei? Pode tentar enganar-se muita gente durante muito tempo, mas não é possível enganar toda a gente o tempo todo.

E agora, aqui chegados…

* Jornalista

Portugal | O sopro

Henrique Monteiro | HenriCartoon

Com a dissolução (já anunciada) fica oficializado o anúncio feito pelo chefe de Estado a 9 de novembro: o país vai a eleições legislativas antecipadas no próximo mês de março, dia 10. - SIC

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