segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

São Tomé e Príncipe: DEMOCRACIA DE DENTRO PARA FORA - opinião

 


Sou da geração da liberdade. Felizmente, faço parte dos que nasceram em liberdade e tiveram o privilégio de assistir à afirmação e consolidação de São Tomé e Príncipe enquanto Estado de direito e democrático. De todo um conjunto de direitos e liberdades constituídos pela Democracia, destacaria a conquista dos direitos civis e políticos, que entrega aos cidadãos de São Tomé e Príncipe o poder de decidir sobre os desígnios do seu presente e futuro – nomeadamente através da escolha dos seus representantes e do escrutínio da ação governativa.
 
Em democracia, e num regime pluripartidário, é incomensurável a relevância dos partidos políticos para a transformação social, económica e política num país como São Tomé e Príncipe. Os partidos políticos são essenciais para o exercício da cidadania e para a participação na vida pública de todos os homens e mulheres santomenses; são igualmente necessários para o debate plural e aberto sobre os caminhos que devem conduzir o nosso país para o progresso económico e a coesão social.
 
Porém, a par desse contributo em prol da prosperidade da nossa nação, os partidos políticos têm concorrido para a disseminação de fenómenos menos positivos que acabam, inevitavelmente, por conduzir os cidadãos para uma progressiva descrença no sistema político nacional. As promessas eleitorais não cumpridas, o, persistente, afastamento dos propósitos de representação dos eleitores, bem como o profundo desconhecimento da realidade social de São Tomé e Príncipe estão na origem da insatisfação dos cidadãos relativamente ao funcionamento dos órgãos governamentais. Não podemos esquecer que, a estes factores, soma-se um aumento generalizado da corrupção, do nepotismo, do caciquismo…
 
A passividade dos partidos políticos perante este cenário de degradação dos valores democráticos deturpa aquele que deve ser o compromisso e a missão de servir os cidadãos santomenses. Cabe aos partidos políticos representarem os cidadãos, defenderem os seus interesses em sede parlamentar, nas autarquias e no Governo central, sob pena de que a insatisfação popular dê lugar a fenómenos de abstencionismo generalizado, ou até mesmo à insurreição popular.
 
Nos últimos anos temos assistido ao aumento de abstenção eleitoral, nos vários níveis de representatividade política. Acredito profundamente que os abstencionistas são cidadãos insatisfeitos com o funcionamento da democracia, pessoas que deixaram de se identificar com os partidos e perderam a confiança nos agentes políticos que, talvez devido a alguma imaturidade democrática que ainda possa existir na sociedade santomense, não têm sabido cumprir o seu papel: defender uma ideologia, ideais ou uma causa em prol do interesse geral, de um colectivo, de um povo ou de uma nação.
 
Entendo o MLSTP como o baluarte da democracia e da participação civil santomense, sendo o partido que conduziu o país à Independência e, depois, à Democracia. E cumpriu um importante papel. Mas, aqui reside uma grande responsabilidade, e como partido histórico que é, o MLSTP tem que estar na linha da frente do combate a tudo aquilo que vai afastando os nossos cidadãos da vida democrática.
 
O MLSTP tem que ser o garante do povo santomense no que se refere à defesa dos seus mais superiores direitos: a saúde, a justiça, a educação, o emprego, a habitação… Tem de ser o primeiro a levantar a voz contra a corrupção e contra o servilismo nacional aos poderes estrangeiros e ao grande capital. E isto não tem acontecido.
 
É o MLSTP, um partido do arco do poder, que o cidadão santomense identifica como aquele capaz de promover as mudanças necessárias para garantir a sustentabilidade do Estado, sem que seja necessário sobrecarregar, ainda mais, os contribuintes. E o MLSTP tem de responder a essa confiança, actuando como o partido que defende os grupos mais vulneráveis da nossa sociedade, e que é capaz de promover a melhoria de vida dos cidadãos santomenses mais pobres, a iniciativa privada, bem como garante que os jovens não são descriminados com base na sua idade e que as mulheres não são descriminadas com base no seu género.
 
O cidadão santomense tem que olhar para este partido como a sua esperança e não como uma instituição que se aproveita do Estado para defender o interesse de alguns, dos mais poderosos, e não de todos, e sobretudo dos que menos têm.
 
Contudo, muito lamento que o MLSTP não esteja a ser o partido inclusivo que deveria ser. Continuamos a ver a mesma cúpula dirigente no partido há mais de trinta anos, poucas foram as mudanças reais visíveis na liderança partidária. Está envelhecida, distante das suas bases e não soube ainda abrir-se ao contributo dos mais jovens e mais dinâmicos militantes. Esta é uma realidade que os afasta do partido, os mais jovens em particular, que não se revêem nesta estrutura. Por outro lado, deixa sem alternativa os que acreditam numa forma diferente de fazer política partidária, ou seja, desilude aqueles que acreditam numa verdadeira democracia pluralista e inclusiva, especialmente os que acreditam que o MLSTP é o partido com o qual se identificam com o seu ideal.
 
Ao fechar-se sobre si mesmo, o MLSTP tem prestado um mau serviço à democracia santomense. Para contribuir para uma democracia de qualidade em São Tomé e Príncipe, o partido tem que se adaptar às novas realidades, não aceitar uma política subserviente ao status quo. Acredito que o MLSTP precisa de recuperar a sua relação afectiva com os militantes e com os eleitores, mostrando seriedade e empenho e apresentando ao povo santomense uma estratégia clara para o desenvolvimento humano das nossas populações e para a consolidação do progresso económico.
 
O povo demanda por uma estratégia que aponte um caminho em que faça o país viva de acordo com a sua condição financeira, sem ter de andar sempre de mão estendida a pedir ajuda. Uma estratégia que defina uma política de investimento que conduza o país rumo a uma maior auto-suficiência e independência dos actores externos. O MLSTP tem que ser o partido que apresenta ao povo santomense um caminho que leve ao aumento do investimento estrangeiro e ao fortalecimento do tecido empresarial nacional. Um caminho que mostre que a justiça funciona para todos e não apenas para alguns, um caminho que signifique saúde de qualidade para todos, educação de qualidade para as nossas crianças e jovens, segurança para os cidadãos e para os investidores, acesso à habitação e ao trabalho digno.
 
No meu entender, o MLSTP tem que ser capaz de promover, desenvolver e dinamizar a intervenção dos cidadãos ao nível local, regional e nacional. Tem de constituir-se como uma verdadeira plataforma de diálogo, intercâmbio de posições e pontos de vista entre as diferentes estruturas do partido.
 
Quando o MLSTP for um partido inclusivo e capaz de apresentar uma estratégia que se traduza num país verdadeiramente independente, então voltará a contribuir para uma democracia de qualidade em São Tomé e Príncipe.
 
É este o partido em que acredito e que espero ver capaz de se regenerar, para manter a confiança dos cidadãos santomenses.
 
Negesse Pina – Téla Nón, opinião
 

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