quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Russos veem com ceticismo a promessa de Putin de combater a corrupção

 

 
Especialistas divergem sobre a disposição do presidente de combater esse antigo mal russo. Uns dizem que se trata apenas de luta interna de poder. Para outros, combate à corrupção atende interesses pessoais de Putin.
 
Um dos temas mais aguardados no discurso anual do presidente Vladimir Putin à nação, nesta quarta-feira (12/12), é o combate à corrupção. O presidente russo chegou a declarar guerra a esse antigo mal, assegurando que não se trata de uma campanha, mas de uma luta para erradicar a corrupção.
 
O primeiro-ministro Dmitri Medvedev disse que esse seria "o início de um trabalho árduo" e assegurou que a recente abertura de várias investigações sobre casos de corrupção não é por acaso.
 
Ações anticorrupção contra oficiais do alto escalão do governo ocupam há semanas as manchetes da imprensa russa. O caso mais conhecido é o do ex-ministro da Defesa Anatoly Serdyukov, que deixou o cargo em novembro último acusado de utilizar uma empresa do ministério para lavagem de dinheiro, num valor que chegaria a 3 bilhões de rublos (cerca de 200 milhões de reais).
 
Também no Ministério da Agricultura e na agência espacial russa Roskosmos existem suspeitas de que bilhões de rublos tenham sidos desviados.
 
O grande mal do país
 
Esse problema não chega a ser uma novidade na Rússia. O suborno é prática usual para evitar diversas punições previstas na lei, como por exemplo, multas de trânsito.
 
Ano após ano, a Transparência Internacional (TI) denuncia a falta de controle sobre a corrupção em órgãos do governo, escolas e hospitais. No ranking da TI, o país está entre os mais corruptos do mundo, ocupando a 133ª colocação.
 
Para uma parte significativa da população, a corrupção é o pior dos males que afligem o país. Numa pesquisa encomendada pela DW em outubro de 2011, 62% dos entrevistados apontaram as práticas corruptas como o maior dos problemas nacionais.
 
Agora parece que finalmente as coisas começam a mudar. Quase todos os dias aparecem notícias sobre novos casos de corrupção. Segundo o jornal Iswestija, em 2013 haverá o lançamento de um banco de dados nacional com o registro de todos os casos em que haja suspeitas de práticas corruptas. Um novo partido foi fundado no início de dezembro com o nome O Povo Contra a Corrupção (em tradução literal).
 
Dúvidas sobre os planos de Putin
 
Mas ainda existem dúvidas sobre um possível sucesso do presidente nessa empreitada. "Como é possível eliminar a corrupção na Rússia se não existem tribunais independentes e a lei não prevalece?", questionou Lilia Shevzova, especialista do Centro Carnegie de Moscou, em entrevista a DW em 2011.
 
Na ocasião, Putin havia apresentado a plataforma eleitoral para o seu terceiro mandato como presidente, prometendo reduzir significativamente os níveis de corrupção até 2018.
 
Agora o presidente parece finalmente se engajar numa luta que ele havia tentado evitar nos últimos 12 anos, o que talvez seja o motivo da descrença de boa parte da população. Uma pesquisa do Centro Levada, de Moscou, confirmou recentemente que, de cada dois cidadãos, um não acredita que Putin alcance esse objetivo.
 
Ivan Ninenko, do escritório russo da Transparência Internacional, disse que os atuais escândalos de corrupção são o resultado de disputas de poder no Kremlin. Ele defende que um golpe verdadeiro contra as práticas corruptas só será possível se oficiais de alto escalão do governo forem parar nos banco dos réus, o que ainda não aconteceu.
 
Ação contra a oposição?
 
Já outros especialistas acreditam que o presidente realmente leve essa luta a sério. "Ficou claro que a corrupção se tornou um obstáculo para a implementação de políticas governamentais", afirmou à DW o presidente do Comitê Nacional Anticorrupção, Kirill Kabanov. "O governo tenta reduzir os protestos da população através de políticas sociais, mas descobriu que as verbas para essas iniciativas estão sendo desviadas", afirmou o especialista.
 
Existe também a suspeita de que os planos de Putin teriam como objetivo retirar da oposição um de seus mais fortes argumentos contra o governo. Em dezembro de 2011, milhares de pessoas foram às ruas de Moscou para protestar contra a vitória do partido Rússia Unida nas eleições, apelidado de "partido de corruptos e ladrões".
 
O termo foi inventado pelo advogado Alexei Navalny, cujo blog denuncia repetidamente as práticas corruptas na Rússia. Navalny foi eleito recentemente presidente do Conselho de Coordenação da Oposição. Os desafetos de Putin planejam para este sábado um protesto de grandes proporções em Moscou, onde certamente não faltarão faixas e gritos contra a corrupção.
 
Autor: Roman Goncharenko (rc) - Revisão: Alexandre Schossler
 

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