domingo, 27 de outubro de 2013

Portugal: CORTA!

 

Ricardo Araújo Pereira – Visão, opinião
 
Como não percebo nada de economia, pensei que o próximo corte seria nos pulsos
 
Primeiro foi o corte nos salários, depois o corte nas prestações sociais, a seguir o corte nas reformas, mais tarde o corte nas pensões de sobrevivência. Como não percebo nada de economia, pensei que o próximo corte seria nos pulsos. Afinal, é outra vez nos salários e nas pensões. Sinceramente, não sei se foi melhor assim. Não só revela falta de imaginação como parece adiar o inevitável. Além disso, a insistência nos cortes já parece denunciar uma patologia. Passos Coelho é o Estripador de São Bento. E, tal como o outro, não me parece que a polícia vá conseguir apanhá-lo.
 
Ao mesmo tempo que o governo corta nos salários dos portugueses, Angola parece interessada em cortar com o governo. Deus não dorme. O ministro dos Negócios Estrangeiros bem pediu desculpa, mas o crime que o nosso país cometeu é indesculpável. A demissão de Rui Machete é obrigatória. É preciso ser muito incompetente para, num país cuja especialidade tem sido a subserviência aos estrangeiros, não conseguir atingir um nível de sabujice minimamente satisfatório. A culpa, no entanto, não é só dele. Parece que a pouca democracia que temos ainda é demais para o gosto do presidente angolano. Mantém-se a separação de poderes, e os tribunais podem julgar impunemente os amigos de José Eduardo dos Santos. É incrível, mas o regime do Estado português não agrada a ninguém.
 
Como resolver todos estes problemas? Mantenho uma esperança muito grande no guião da reforma do Estado, que Paulo Portas irá apresentar, supõe-se, na mesma manhã de nevoeiro em que D. Sebastião regressará. Julgo que há qualquer coisa sobre isso nas trovas do Bandarra, embora ele preveja que D. Sebastião apareça primeiro. Como guionista, creio que o atraso na entrega do guião é inadmissível, sobretudo por se tratar de um documento muito fácil de escrever. Em primeiro lugar, Portugal já não é bem um Estado. Soberania não tem, governo tem pouco, e o próprio povo já começou a ir embora. Não havendo já quase nada para reformar, é difícil compreender a demora. Em segundo lugar, o guião tem pouca acção, nenhum diálogo e a cena é sempre a mesma. É um guião de uma palavra só, aquela que se costuma escrever no final: corta! Não deve dar muito trabalho.
 

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