António Ribeiro
Ferreira – Jornal i
Irlanda preferiu
ficar sozinha para evitar a confusão europeia
"Eu tinha este
medo de poder acabar em Bruxelas, às três da manhã, lá para Dezembro, com um
caso de sucesso a ser transformado numa espécie de crise irlandesa, porque
alguns países teriam de fazer passar a decisão nos seus parlamentos
nacionais." Esta declaração do ministro das Finanças irlandês, Michael
Noonan, ao "Sunday Business Post" explica tudo sobre a recusa da
Irlanda em aderir a um programa cautelar e revela, por antecipação, o que irá
acontecer a Portugal nos primeiros meses de 2014, quando começar a discutir no
Eurogrupo o chamado pós-troika. "Diziam-nos sempre: 'Olhem, decidam como
decidirem, apoiar-vos-emos na mesma, porque pensamos que a Irlanda está a fazer
tudo bem e que vocês estão numa boa posição.'"
Michael Noonan faz
uma radiografia exemplar do estado a que chegaram as instâncias europeias e o
vespeiro que estava destinado à Irlanda como primeiro país sob resgate a
experimentar os chamados programas cautelares: "O governo manteve
contactos com os parceiros de alguns países-chave e com os responsáveis da
troika, e constatou que, além de obter conselhos diferentes, nenhum deles era
baseado em dados sólidos."
Com 25 mil milhões
em caixa que lhe permitem evitar a ida aos mercados a curto prazo, Dublin jogou
pelo seguro e deixou o caminho aberto para Portugal experimentar os dramas, as
incertezas e a ira de alguns países pouco abertos a mais ajudas para quem
entrou na bancarrota e tem dificuldades em ajustar as suas contas públicas. Por
terra ficam também as análises de muitos especialistas nacionais em programas
cautelares que nem os seus autores sabem como pôr em prática e muito menos
adivinham os seus efeitos nas cobaias.
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