terça-feira, 15 de abril de 2014

Angola: POLÍTICOS CONTRA IMPRENSA



José Ribeiro – Jornal de Angola, em A Palavra do Diretor

A história incrível que vou contar está no “site” da emissora Voz da América (VOA). O ministro da Comunicação Social recebeu um pedido de audiência do líder da CASA-CE e deu imediatamente resposta. A reunião no seu gabinete com Chivukuvuku já tinha data marcada, mas um imprevisto de última hora obrigou ao seu adiamento para nova data.

Em qualquer país do mundo, esta situação acontece vezes sem conta e ninguém lhe confere um carácter de excepcionalidade, e muito menos representa falta de respeito de um membro do Governo para com um político da oposição. Mas Chivukuvuku preferiu fazer uma fuga da informação para a VOA, atacando o ministro e os jornalistas da imprensa pública, por causa do adiamento da audiência. 

Com a oposição em Angola, as coisas são, infelizmente, assim tratadas. Chivukuvuku disse à VOA que ia ao ministro fazer queixas da “discriminação” nos órgãos de comunicação do Estado, alegando que eles “não cumprem com a lei sobre a igualdade entre todos os partidos políticos”. A história de Chivukuvuku, de que o ministro se recusou a recebê-lo porque na agenda estava a análise da situação no sector público da comunicação social, voou da VOA para as redes sociais. 

É esta política de deslealdade pura e de faz de conta que domina hoje a agenda de alguns políticos, de partidos da oposição e seus activistas. Abel Chivukuvuku sabe que a actividade da imprensa em Angola é por lei autónoma e democrática e não pode estar sujeita a qualquer tipo de controlo. Ao dirigir-se ao Governo para exercer uma acção disciplinar sobre os jornalistas e os seus órgãos, o líder da CASA-CE viola a Constituição da República e a Lei de Imprensa. 

É vidente que os últimos dias correram mal à CASA-CE. As primeiras grandes dissensões rebentaram nas suas fileiras. O seu líder quis aproveitar a presença em Angola de dois responsáveis da administração norte-americana para fazer ouvir a sua voz, fosse como fosse. Mas os jornalistas e os meios de comunicação social não podem ser usados como bodes expiatórios para as frustrações episódicas e a incapacidade de influência dos partidos. Nem para descredibilizar as instituições democráticas nacionais aos olhos de governos estrangeiros. 

Ninguém ignora que muitos dirigentes e activistas de partidos da oposição, apresentados como independentes, estão na verdade fortemente dependentes de negócios ilícitos, de sacos azuis de embaixadas ou de organizações que não são mais do que meras fachadas dos interesses da oligarquia financeira que domina o mundo, e que quer também estender o seu poder à imprensa angolana. No que diz respeito ao comportamento de Abel Chivukuvuku, o Bloco Democrático e o PRS sabem bem do que estou a falar. Basta ver quem surge nas imagens dos “cocktails” oferecidos por essas embaixadas e organizações, publicadas nos seus “sites” na Internet. 

O sector público da comunicação social angolana tem sido um padrão a seguir e vai continuar a sê-lo. O ministro José Luís de Matos é o político angolano com mais experiência no sector e tem uma carreira profissional como jornalista que ninguém de boa fé pode pôr em causa. Quando Angola foi isolada do resto do mundo ao mesmo tempo que lançaram exércitos estrangeiros no território nacional, ele foi um dos que mais se bateu, no plano interno e na cena internacional, para quebrar esse cerco e dar visibilidade à heróica luta dos angolanos pela democracia e pela liberdade. 

Nessa altura, quando a VOA era um dos mais poderosos instrumentos da guerra contra Angola, a luta principal era contra o apartheid. Abel Chivukuvuku, provavelmente por um lamentável equívoco, estava do lado do apartheid e com os generais sul-africanos que comandavam a agressão contra a “Linha da Frente”. Angola é o país do líder da CASA-CE e nessa altura a sua Nação estava sob a ameaça de ser destruída. Para felicidade de todos, inclusive dele, os generais sul-africanos não conseguiram os seus intentos. E parte do seu fracasso, que temos de saudar com todas as forças, deveu-se também à acção de José Luís de Matos. 

Quem discrimina a imprensa pública é o líder da CASA-CE. Em 2012, encontrei Abel Chivukuvuku em Cabinda. Eu cumpria uma missão profissional e ele esforçava-se por dar visibilidade à CASA-CE que acabava de surgir na cena política angolana. Dirigi-me a ele e cumprimentei-o, sinceramente, pela sua nova empreitada. Estava convencido de que a coligação ia acabar com a política de “show off” e negativa que se via na oposição e apresentar um novo paradigma de política, virado para um projecto nacional. Tivemos uma conversa muito agradável e eu aproveitei para lhe pedir uma entrevista ao nosso jornal. O pedido foi aceite, com entusiasmo e simpatia. Até hoje estou à espera que o líder da CASA-CE satisfaça o meu pedido. Já foram enviados os ofícios exigidos e feitos vários contactos verbais. Até hoje, passados dois anos, nada. Mas o pedido continua de pé. Outro facto. Antes do início da campanha eleitoral de 2012 mandei uma carta às direcções dos partidos concorrentes, convidando-os a escreverem um artigo de opinião por semana para este jornal. Apenas dois partidos responderam ao convite, e um deles, logo no segundo texto, infringiu as normas editoriais, que até eram simples: os textos não podiam ter mais de 4.500 caracteres (a medida dos nossos editoriais) e não eram tolerados ataques pessoais nem uma linguagem insultuosa. As eleições terminaram, ninguém mais nos deu importância. 

Quando alguém critica o Jornal de Angola, nós lançamos um repto: escreva para o nosso jornal! Todos dizem que sim, mas na hora da verdade ninguém escreve. A vida angolana é muito rica em factos e acontecimentos que podem ser objecto de reflexão pelos nossos políticos, cientistas, artistas, desportistas. O jornal que dirijo com grande orgulho é pluralista e sempre respeitou o contraditório. 

Mas ninguém pode esperar que sejam os nossos profissionais a fazer o trabalho que compete exclusivamente aos partidos políticos. Não podemos inventar notícias de actividades que eles não realizam nem podemos escrever artigos de opinião pelas cabeças dos seus líderes. A CASA-CE tem no “Folha8” o seu órgão oficial. A coligação está bem servida. A UNITA tem a “Terra Angolana” e mais algumas réplicas. Também tem ao seu serviço o jornalismo de que mais gosta. Outros partidos têm os seus mais destacados dirigentes a dar opiniões em vários jornais privados. Lemos atentamente essas prosas. Se esse é o paradigma que querem impor-nos, ao dirigirem-se ao Ministério da Comunicação Social, ficamos esclarecidos. As nossas portas continuam abertas. 

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, já escreveu para este jornal. A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, também. Analistas políticos nacionais e políticos de grande nível mundial têm usado as páginas do Jornal de Angola para darem as suas opiniões. Acabamos de receber um excelente artigo sobre as relações da Europa com África, assinado pelo chefe do Governo de Espanha, Mariano Rajoy, que vamos publicar, com imensa satisfação. 

Os adeptos da política do insulto e do faz de conta em Angola ignoram-nos. Eles lá sabem porquê. Nós não excluímos ninguém!

Sem comentários:

Mais lidas da semana