terça-feira, 15 de abril de 2014

Renamo impõe paridade em altos cargos das forças de defesa e segurança de Moçambique




A Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) exige a integração dos seus membros em cargos dirigentes das forças de defesa e segurança do país para se desmilitarizar, condição que o Governo moçambicano considera "uma aberração", noticia hoje a imprensa local.

A exigência da Renamo foi anunciada, na segunda-feira, durante uma nova ronda negocial entre o maior partido da oposição do país e o Governo moçambicano, tendo o encontro terminado com discursos crispados, que denotam um retrocesso nas negociações com vista ao fim da instabilidade político-militar que Moçambique vive há um ano.

Saimone Macuiane, chefe da delegação negocial da Renamo, anunciou que o partido pretende que "os seus homens" ocupem cargos como o de "Chefe do Estado-Maior, que há mais de 20 anos vêm das antigas Forças Populares de Libertação de Moçambique (FPLM)", mas também estejam "no ramo da Marinha, da Força Aérea e do Exército", assim como nos diversos departamentos da Polícia da República de Moçambique (PRM).

"Se o da Renamo for comandante, o das FPLM deverá ser adjunto, e assim vice-versa", disse o deputado aos jornalistas, à saída do encontro.

No seguimento do Acordo Geral de Paz (AGP) de 1992, Moçambique passou a contar com um exército misto constituído por homens das antigas forças guerrilheiras da Renamo e das FPLM, denominado de Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).

Desde a formação das FADM, em 1994, a Renamo tem vindo a contestar o processo de integração das suas forças militares, considerando que os antigos membros das FPLM são preteridos para cargos de comando.

"Os homens da Renamo já estão no exército. Nós não queremos que eles fiquem como assessores e cozinheiros dos outros. Queremos que fiquem como verdadeiros militares no exército", afirmou Macuiane.

Comentando as novas imposições negociais da Renamo, o representante governamental e ministro da Agricultura, José Pacheco, classificou-as como "uma aberração".

"A Constituição da República e demais legislações emanam que o Estado organiza-se com regras não partidárias. A própria Renamo exige num dos pontos a despartidarização da função pública. A Renamo foi ao ponto de dizer que Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas deve ser da Renamo. Isso é uma aberração", afirmou.

Com o impasse nas negociações entre as partes e a faltarem 15 dias para o fim do processo de recenseamento eleitoral, que o líder e possível candidato presidencial da Renamo ainda não realizou, em Moçambique, as atenções estão agora centradas na possibilidade do adiamento das eleições gerais de outubro, temendo-se um recrudescimento do conflito armado, caso Afonso Dhlakama não participe no processo.

Lançando um aparecente ultimato à Renamo, Damião José, porta-voz da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, veio, entretanto, afirmar que as eleições vão-se "realizar com ou sem Dhlakama", que se mantém "em parte incerta", desde há sete meses.

EMYP // PJA - Lusa

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