sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Xanana teve mais que fazer que avisar o governo de Lisboa da expulsão



Ana Sá Lopes – jornal i

O choque diplomático foi imenso, mas a crise está lentamente a acalmar

A decisão de Xanana Gusmão de expulsar os magistrados portugueses apanhou o governo de surpresa. Para piorar as coisas, o primeiro-ministro timorense justificou a ausência de informação a Lisboa com "outros afazeres". O gelo instalou-se entre Lisboa e Díli. Num primeiro comunicado, a 3 de Novembro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros reagiu crítica mas cautelosamente: manifestou a "profunda preocupação e desconforto com as decisões do governo de Timor-Leste sobre os funcionários judiciais internacionais e respectivas assessorias" e ao mesmo tempo "deplorou", "por claramente desproporcionadas, as súbitas revogações de vistos e de autorizações de estada, que considera graves e que imputa a razões alheias ao desempenho das tarefas atribuídas aos referidos funcionários internacionais".

No mesmo dia, o governo anunciou que a cooperação na área da justiça deveria ser "reavaliada" e "ficará dependente dos esclarecimentos que venham a ser prestados pelas autoridades timorenses". Enquanto Xanana Gusmão - numa segunda entrevista em Díli - justificava a expulsão com o facto de o estado timorense estar a perder muito dinheiro nos processos contra as companhias petrolíferas, o governo português, dois dias depois, através de um comunicado da ministra da Justiça, decidiu mesmo terminar a cooperação judiciária com Timor-Leste.

Passos Coelho foi muito crítico do governo de Timor - "Somos muito amigos de Timor, mas há limites que não podem ser ultrapassados". O Presidente da República também: "Aquilo que aconteceu foi uma reacção desproporcionada da autoridade timorense e lamento profundamente que se tenha posto em causa a competência dos magistrados portugueses." Mas na quarta-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros veio acalmar os ânimos, isto enquanto se soube que há magistrados timorenses que afirmam "temer pela vida". Rui Machete afirmou ter uma "fundada esperança" de que a crise seja ultrapassada rapidamente. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, "haverá a possibilidade de continuar tranquilamente a realizar a cooperação" nas outras áreas, como a defesa e a educação.

Sem comentários:

Mais lidas da semana