A
OEA saiu ainda mais enfraquecida da Cúpula, diante da contraposição dos países
do continente e a dos EUA. A OEA está mais perto do seu fim.
Emir
Sader – Carta Maior, em Blog do Emir
A
OEA reinava, até há pouco tempo, como o fórum dos países da América, reunindo
os países da América Latina e do Caribe, mais os EUA e o Canadá. Era uma
sobrevivência não apenas da guerra fria, mas sobretudo da Doutrina Monroe,
constituindo-se na instância através da qual os EUA impunham sua hegemonia
sobre o continente.
A
Cúpula das Américas, realizada no Panamá, ao invés de ser a abertura de uma
nova fase para a OEA, representa mais um passo na direção da sua
intranscendência. O mundo que ela expressava não existe mais. Os processos de
integração latino-americana foram criando suas próprias instâncias, deixando a
OEA como organismo superado pelas novas realidades do continente.
O
OEA foi uma sobrevivência da guerra fria ou melhor, da própria Doutrina Monroe.
Servia como espaço de imposição da hegemonia norteamericana, da “América para
os (norte)americanos”. Era uma instância espúria que, embora fosse a que
pretendia representar ao conjunto do continente era, na realidade, nas palavras
de Fidel “O Ministério das Colônias dos EUA”.
Quando
países da America do Sul começaram a organizar espaços de integração regional –
Unasul, Conselho Sulamericano de Defesa, Banco do Sul -, a OEA foi perdendo
espaço. E quando se constituiu a Celac, agrupando a todos os países da America
Latina e do Caribe, a OEA foi perdendo sentido de existir.
Atualmente
a estratégia dos países da América Latina é a de que a Celac nos represente a
todos, deixando a OEA apenas para as relações entre todos os países do
continente, agrupados na Celac, e os EUA e Canadá.
A
Cúpula do Panamá representou o retorno oficial de Cuba a essa instância, embora
não o retorno de Cuba à OEA, de que ela foi expulsa, por ordem dos EUA, em
1962. Recentemente, atendendo a reivindicações dos países do continente, a OEA
chamou Cuba para que se reintegrasse à instituição, mas Cuba rejeitou essa
possibilidade. O fim do bloqueio dos EUA atende ao lema cubano:
“Con OEA o sin OEA, ya ganamos la pelea”.
A
reunião, que deveria consagrar o restabelecimento de relações diplomáticas
entre Cuba e os EUA, terminou completamente contaminado pela decisão dos EUA de
considerar a Venezuela uma “ameaça à segurança nacional dos EUA.” O clima
amistoso com que Obama esperava ser recebido, pelo reatamento com Cuba, foi
substituído pela hostilidade pela posição em relação à Venezuela.
Obama
tratou de se fazer de desentendido, chegando a declarar que nunca as relações
entre os EUA e a América Latina estiveram tão boas. Desconhece a distância
imensa que foi se abrindo, conforme o continente foi construindo seus próprios
organismos de integração, excluindo os EUA e o Canadá.
Apesar
do clima de hostilidade à decisão norteamericana sobre a Venezuela, a falta de
consenso levou à impossibilidade de um documento final da reunião. Mas Obama
perdeu a parada, na sua tentativa de centrar a reunião na normalização das
relações com Cuba. Apesar do importante encontro com Raul Castro, a sombra da
prepotência nortemericana – amainada por declarações de desmentido do próprio Obama
– seguiu pairando no Panamá.
A
OEA saiu ainda mais enfraquecida da Cúpula, diante da contraposição entre as
posições dos países do continente – agrupados na Celac – e as dos EUA. A OEA
está mais perto do seu fim.
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