Entrevista com o ministro do Meio
Ambiente Ricardo Salles; o quotidiano violento no Rio de Janeiro; a política
cultural de Bolsonaro e as manchas de petróleo nas praias do Nordeste foram
destaque na mídia alemã.
FAZ – "Brasil faz
bom trabalho na luta contra mudanças climáticas" (01/10)
[...]
No Acordo de Paris sobre Mudanças
Climáticas, o senhor se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal até
2030. O senhor é capaz de controlá-lo?
Sim, estamos no controle. O
problema é que a área é enorme. Essa não é uma tarefa fácil. São 5 milhões
de quilómetros quadrados. Esse é o tamanho de 16 países da Europa, incluindo
Alemanha, França, Itália e Espanha. Mais de 20 milhões de pessoas vivem
lá, duas vezes mais do que em Portugal.
Até agora, a Alemanha já doou
55 milhões de euros para o Fundo Amazónia, que financia projetos contra o
desmatamento e o uso destrutivo de florestas. Em Brasília, a conversa agora é
que se podem dispensar os subsídios alemães. Por quê?
Não, o oposto é o caso.
Sério? O presidente Bolsonaro
disse que a Alemanha deve usar o dinheiro para reflorestar suas próprias matas.
Não, não vamos misturar política
com questões técnicas. Essa foi uma resposta a uma declaração da Europa.
[...]
O senhor está agora viajando pela
Europa para explicar a posição brasileira e afastar o perigo de países europeus
se recusarem a ratificar o acordo comercial entre a União Europa e a zona de
livre-comércio Mercosul, que inclui o Brasil. O senhor receia que o acordo
possa fracassar?
Primeiro, há um grande interesse
em aumentar o comércio, de ambos os lados. O Brasil é o quinto maior país do
mundo em termos de população, e seu poder económico o coloca na oitava ou nona
posição. Isso proporciona grandes oportunidades económicas. Em segundo lugar,
são precisamente esses benefícios económicos e oportunidades de desenvolvimento
que seriam de grande ajuda para a Floresta Amazónica e, em geral, para a
proteção ambiental no Brasil.
Os maiores perigos que ameaçam a
preservação da natureza no Brasil estão ligados à pobreza e à falta de
desenvolvimento econômico. Talvez para nós o subdesenvolvimento seja a maior
ameaça ao meio ambiente. Portanto, renunciar ao acordo comercial e deixar de
fora as oportunidades de investimento teria, em minha opinião, exatamente o
efeito oposto ao que os críticos têm agora em mente.
Süddeutsche Zeitung – O
triste cotidiano da violência (02/10)
Wilson Witzel é um homem que
adora palavras claras e atos marciais. Desde janeiro deste ano, ele é
governador do estado do Rio de Janeiro, onde há um "genocídio" e um
"massacre" em andamento, como ele afirmou no domingo. Essa afirmação
não está totalmente errada. Mesmo que a taxa de homicídios no Brasil venha
caindo pela primeira vez em anos, a situação de segurança ainda é catastrófica,
especialmente nas favelas.
Quase diariamente há tiroteios
nas ruelas sinuosas das favelas, e com frequência cidadãos não envolvidos são
mortos, em geral pobres e negros. Para muitos, a violência é um triste
quotidiano, mas a morte de uma menininha há quase duas semanas desencadeou
brados de indignação e protestos.
Pois a bala que matou Ágatha, de
oito anos, não partiu da arma de um bandido, mas provavelmente de um policial.
E agora há uma amarga discussão sobre quem é o culpado pela morte da menina: as
quadrilhas de traficantes com armas e negócios sujos – ou o governador Wilson
Witzel e sua política de tolerância zero?
[...]
De fato, os números dão, a
princípio, razão ao governador: a taxa de homicídios no Rio está caindo. Ao
mesmo tempo, a violência policial continua a aumentar. Somente em julho,
policiais mataram 194 pessoas, e nos primeiros sete meses deste ano um terço
das vítimas se deveu à polícia, a mais alta proporção em mais de duas décadas.
Após a morte de Ágatha,
circularam na internet fotos mostrando Witzel com as mãos ensanguentadas. No
Twitter, ele se tornou a pessoa mais comentada, sempre sob a etiqueta
#ACulpaÉDoWitzel. No entanto, até agora, o governador do Rio não se mostrou
impressionado com as críticas, afirmando que é inevitável haver vítimas em sua
guerra e, no fim das contas, a violência é sempre culpa das quadrilhas de
traficantes.
Eles seriam os responsáveis pelos
massacres e "genocídios" que ocorrem nas favelas. "Nossa missão
é resgatar o estado do Rio das mãos do crime organizado", afirma Witzel.
Se ele conseguir, quer competir nas próximas eleições como sucessor de
Bolsonaro. Suas chances não são más, acreditam os observadores.
Deutschlandfunk – Do
jeito que ele gosta (29/09)
"O Brasil de
Bolsonaro" é o título da edição de setembro do Cahiers du Cinéma.
A influente revista está preocupada com o cinema brasileiro – e este também
consigo próprio, porque o presidente de extrema direita Jair Bolsonaro declarou
guerra ao dinâmico setor cinematográfico. No próximo ano, a Agência Nacional de
Cinema (Ancine) deverá obter quase 43% menos verba para financiar produções de
cinema e TV – é o que prevê um projeto de lei do governo.
Segundo as ideias de Bolsonaro,
deverão receber financiamento estatal apenas os filmes que sejam compatíveis com
sua moral conservadora e de fundo religioso. Bolsonaro exigiu um
"filtro" ideológico para a alocação de recursos e deseja para a
Ancine um diretor com – citação literal – "perfil evangélico".
Cláudia Laitano, jornalista
cultural do diário Zero Hora, escreve: "O movimento político da
ultradireita reconheceu que pode marcar pontos em sua base com controvérsias
sobre a cultura. E agora vemos isso no presidente Bolsonaro. Desde que ele
assumiu o cargo, vem atacando a cultura, porque sabe que pode usá-la para
mobilizar seus seguidores."
Bild – Megaderramamento
de óleo no Brasil (27/09)
Nas últimas semanas, grandes
incêndios vêm atingindo o Noroeste do país e destruindo irreparavelmente a
Floresta Amazônica. Agora, o Brasil procura febrilmente a causa de outra
gigantesca catástrofe ecológica: manchas de óleo e até tambores de petróleo
vazando estão sendo levados para a costa no Nordeste.
Mais de 1.500 quilômetros de
costa em oito estados brasileiros estão afetados. Como relatado pela emissora
BBC, entre outras, o petróleo foi descoberto inicialmente em 2 de setembro.
Os especialistas ainda estão se
perguntando de onde o petróleo realmente vem. Segundo uma análise da mancha, a
agência ambiental Ibama afirmou que o petróleo não é, de forma alguma, de
produção brasileira. A Petrobras confirmou essa constatação, mas certo é que o
petróleo vem de uma única e mesma fonte.
[...]
As autoridades agora suspeitam
que a causa do desastre ambiental tenha sido um petroleiro que transportava
petróleo ao largo da costa. Dois barris de petróleo encontrados em duas praias
do estado de Sergipe corroboram essa teoria.
A porta-voz do Ibama Fernanda
Pirillo disse à agência de notícias Agência Brasil: "Nunca houve um
acidente como esse no Brasil. É a primeira vez que tivemos um acidente
inexplicável envolvendo tantos estados."
Ambientalistas do WWF criticaram,
entre outras coisas, o sistema de monitoramento falho do Brasil. De acordo com
os ativistas, devido à falta de recursos, não é possível investigar de forma
razoável esse incidente.
Responsável é também o novo
presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (64 anos, desde janeiro no cargo): ele
está em pé de guerra com organizações não governamentais e ativistas e, entre
outras coisas, cortou rigorosamente o orçamento da agência ambiental Ibama.
Deutsche Welle | CA/ots
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