José
Vítor Malheiro – Público, opinião
A
sombra que este caso lança sobre o PS afecta pessoalmente António Costa
1.
Os políticos encontraram rapidamente a fórmula para evitar comentar a detenção
de José Sócrates e as acusações que impendem sobre ele de branqueamento de
capitais, fraude fiscal e corrupção. Invocando a “separação de poderes”, todos
acharam por bem repetir que “à justiça cabe o que é da justiça e à política o
que é da política”, não fazer comentários sobre este caso específico e fazer
votos de que a justiça siga o seu curso sem perturbações.
A
contenção é de louvar, até porque não se conhecem ainda as acusações concretas,
muito menos os indícios que levaram o Ministério Público a acusar o
ex-primeiro-ministro e menos ainda a eventual defesa de Sócrates. Mas há uma
coisa que é inegável: este caso pertence à política, é muito mais um caso
político do que um caso judicial e está a ter e vai ter um impacto político
considerável. Não porque José Sócrates seja um político e um ex-governante ou
um ex-primeiro-ministro. Se Sócrates fosse acusado de violência doméstica ou de
contrabando de droga, essas acusações poderiam ser absolutamente independentes
da sua acção política. Mas a acusação que é feita a Sócrates é de corrupção no
exercício de cargos políticos — as outras acusações decorrem desta —
e nada poderia ser mais político do que isso.
Uma
das razões para tentar separar a política deste caso judicial é o desejo de
proteger o mal-afamado nome da política. Mas, por esta ordem de ideias,
qualquer crime cometido por um político no exercício de funções políticas,
através de instrumentos a que tivesse acesso na sua qualidade de político,
fossem quais fossem os prejuízos causados em bens públicos, nunca seria da
ordem da política porque, sendo um crime, seria da ordem da justiça. O
raciocínio sugere uma ideia imaculada da política e não faz sentido.
Alguns
órgãos de comunicação fizeram investigações próprias e, baseados nos factos que
consideram ter provado, afirmam que “Sócrates fez” isto ou aquilo. Trata-se de
um risco que querem correr e apostam nisso a sua reputação. Mas um órgão de
comunicação que não possua investigação própria para sustentar afirmações desse
tipo tem de ter o cuidado de não as fazer e de não tratar as acusações como se
se tratasse de factos provados.
E
a sombra tambem não pode deixar de afectar os governos onde Sócrates possa ter
cometido os actos de corrupção de que é acusado e as pessoas que colaboraram
com ele mais de perto, já que é pouco provável que, a ter cometido de forma
continuada os actos de que é acusado, os tenha cometido sem alguma conivência
de outros.
A
credibilidade de Costa ficou seriamente afectada pela prisão de Sócrates e a
sua capacidade para reunir uma equipa à sua volta fica limitada pela imperiosa
necessidade de excluir dela os socratistas mais visíveis. Se Costa ainda pode
sonhar com a maioria absoluta tendo em conta o circo que irá ter lugar até às
eleições e os nomes que entretanto irão cair à volta de Sócrates, só o futuro
dirá.
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