sábado, 27 de dezembro de 2014

Portugal: OFFSHORE DE PAULO PORTAS ESCONDE DINHEIRO DOS BLINDADOS




Negócio misterioso no fornecimento dos Pandur. Sociedade intervém para comprar empresa que detinha os direitos das contrapartidas

António Sérgio Azenha

As contrapartidas dos blindados Pandur, um contrato assinado quando Paulo Portas era ministro da Defesa, estão envolvidas num negócio que tem como protagonista uma sociedade offshore sediada em Londres. Segundo apurou o CM, a Dalglish International Limited, cujo nome foi revelado na comissão de inquérito parlamentar à compra dos equipamentos militares, foi utilizada para a transferência dos direitos de contrapartidas que eram propriedade da empresa GOM, detida por ex-trabalhadores da antiga Bombardier, para a Fabrequipa, que assegurou o contrato para a montagem das viaturas Pandur.

Com direitos de contrapartidas no valor de 103,4 milhões de euros, a GOM foi vendida por três milhões. Foi o próprio proprietário da Fabrequipa, Francisco Pita, que, durante a sua audição no Parlamento, revelou o nome da offshore a quem a Fabrequipa adquiriu a GOM. O assunto acabariapor passar despercebido na comissão de inquérito, e o próprio relatório preliminar da comissão ignorou a sociedade offshore Dalglish. Ao que o CM apurou, a Dalglish International Limited é uma offshore detida pelo Grupo General Dynamics (DGD), proprietário da austríaca Steyer, que vendeu as viaturas blindadas a Portugal. Depois de desentendimentos entre a Steyer e a GOM, por causa do volume de trabalho no âmbito das contrapartidas dos Pandur, a Steyer apresentou uma proposta para adquirir a GOM aos ex-trabalhadores da Bombardier. Steyer e GOM tinham acordado que os encargos com a mão de obra durante a montagem dos Pandur em Portugal ascenderiam a 38,5 milhões de euros, mas a Steyer pressionou para que este montante fosse reduzido. A GOM recusou, alegando que pretendia criar 100 postos de trabalho. Em abril de 2006, as duas partes assinaram o contrato de compra e venda em Lisboa: pela compra da GOM, a Dalglish pagou cerca de três milhões de euros, e revendeu a GOM à Fabrequipa pelo mesmo valor.

O único ativo da empresa eram “os direitos”

O dono da Fabrequipa, Francisco Pita foi claro quando respondeu na comissão parlamentar de inquérito: “Comprei a GOM, uma empresa que não existia. Só tinha direitos.” Com efeito, a sociedade GOM apenas tinha um escritório e uma secretária ao seu serviço. A sua única razão de ser era ter negociado direitos no valor de 103,4 milhões de euros. O CM tentou falar com Francisco Pita, mas, até ao fecho desta edição, não foi possível.

PROJETOS COM UMA EXECUÇÃO DE APENAS 17%

A taxa de execução das contrapartidas inerentes ao negócio dos blindados Pandur era, no final de 2013, de apenas 17 por cento. Esta diminuta execução deve-se a divergências ocorridas entre a Steyer e a Fabrequipa.

ESTAVA PREVISTO QUE CONTRATO DURASSE 9 ANOS

O contrato de contrapartidas pela aquisição dos blindados Pandur foi assinado no dia 23 de dezembro de 2005,11 meses depois da celebração da compra das viaturas. Estava estipulado que o prazo para a execução dos vários projetos seria de nove anos.

RAMOS MILITARES NÃO SE ENTENDIAM NOS BLINDADOS

Durante as negociações para a compra dos blindados Pandur, os ramos militares envolvidos (Exército e Marinha) não se conseguiram entender sobre as especificidades necessárias para a nova viatura, o que encareceu o contrato de aquisição.

Falta de provas encerra processo

O processo dos submarinos, em que eram arguidos Hélder Bataglia, Luís e Miguel Horta e Costa, Pedro Ferreira Neto e que lançou sobre Paulo Portas a suspeita de recebimento de luvas para favorecimento de um consórcio alemão no concurso, foi arquivado pelo Ministério Público (MP). No despacho de arquivamento, os magistrados deixam críticas à Justiça alemã, acusada de não ter colaborado nas solicitações dos investigadores portugueses.

A falta de provas ditou o arquivamento do processo, e o MP concluiu que não houve “intenção clara de beneficiar o consórcio alemão fabricante dos submarinos”. Além disso, conclui que, “se tivesse havido corrupção, prevaricação ou outro crime relacionado com a assinatura do contrato de aquisição dos submersíveis, esse facto já estaria prescrito desde junho de 2014″. A deputada socialista Ana Gomes, que é assistente no processo, diz que vai continuar a investigar.

Correio Manhã, Sexta, 26 Dezembro 2014 – em ASJP, Associação Sindical dos Juízes Portugueses


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