domingo, 22 de fevereiro de 2015

Timor-Leste preparado para comprar parte da Woodside em projeto no Mar de Timor




Díli, 19 fev (Lusa) - Timor-Leste está preparado para comprar a parte da australiana Woodside no consórcio do projeto de gás do Greater Sunrise, no Mar de Timor, se a petrolífera mantiver intenções de manter parado o projeto, disse um ministro timorense.

"Já falei com a Woodside dizendo que se não se sentem confortáveis, Timor-Leste está pronto para comprar a parte da Woodside no Greater Sunrise", disse Alfredo Pires, ministro do Petróleo e dos Recursos Naturais timorense, em entrevista à Lusa.

"Este é o melhor tempo para comprar", afirmou.

Alfredo Pires explicou que já transmitiu essa mesma posição à Woodside, lamentando o facto da empresa, com quem Timor-Leste tem estado em conversações há vários meses, ter vindo para a imprensa dizer que quer adiar o projeto pelo menos 10 anos.

"Não nascemos ontem e não somos crianças. Entendemos desta matéria. Somos pessoas do petróleo. E estamos a falar de uma jazida que é das melhores da região", considerou.

"Já lhes disse: vocês estão a falar de engavetar o projeto. Mas Timor-Leste quer falar de comprar a vossa parte. A resposta deles, neste caso, foi que nem está no seu pensamento vender isso. Ou seja, parece que afinal todos temos interesse nessa coisinha", afirmou.

A "coisinha" é um campo com 5.1 triliões de pés cúbicos de gás, cujo valor poderia rondar, entre exploração e 'downstream' [unidades de transformação que podem incluir refinação de petróleo], 100 mil milhões de dólares.

"Nos últimos meses Timor-Leste, através da sua companhia nacional de petróleo, a Timor Gap, tem tido conversas regulares, bastante rigorosas e interessantes, com a petrolífera", disse.

"E de repente vemos na imprensa, e o presidente da Woodside confirma depois numa carta que nos enviou, que vai ficar à espera de uma solução dos dois Governos antes de avançar mais", disse.

Um anúncio que deixou o Governo "um pouco surpreendido" porque sentia que havia um "entendimento que pretendia criar um certo nível de confiança em todo o processo" em curso.

"Achamos que faz parte de uma certa pressão para ter aqui uma solução. Sim, se o Greater Sunrise não avançar Timor-Leste vai sentir mais desafios, mas são desafios que temos que tentar enfrentar", afirmou.

"Mas pode ser bastante prejudicial para a petrolífera australiana que corre o risco de perder o mercado totalmente", frisou.

O contrato dos dois governos com a petrolífera vigora apenas até 2026 e mesmo a esta distância o seu valor pode já estar em jogo, já que investidores em gás "querem ter uma certeza a 20 anos".

"A Woodside e os seus parceiros correm o risco de perder o Greater Sunrise totalmente. E aí o Governo de Timor-Leste tem a oportunidade de fazer uma avaliação para saber se, de facto, essa companhia é a parceira ideal depois de 2026", considerou.

"Estamos a ter em conta os interesses nacionais a médio e longo prazo. Teremos mais desafios, mas Timor-Leste não é um barco parado".

Localizado a 150 quilómetros sudeste de Timor-Leste e 450 quilómetros noroeste de Darwin, no Território Norte da Austrália, o Greater Sunrise está em parte (20,1%) na área do Mar de Timor gerida em conjunto por Timor-Leste e pela Austrália.

O consórcio criado para a exploração do projeto é formado pela australiana Woodside, a operadora (33%), pela ConocoPhillips (30%), Royal Dutch Shell (26,6%) e Osaka Gas (10%).

Apesar de algumas divisões de opinião no seio da parceria, a posição formal das empresas envolvidas no projeto é da defesa de uma unidade flutuante para o processamento de Gás Natural Liquefeito (GLN).

A Shell defende a opção 'off-shore', plataformas exploratórias no mar, a ConocoPhillips até prefere a opção de uma 'pipeline' [oleoduto] para Darwin - onde já tem instalada uma unidade para o processamento do gás do campo de Bayu-Undan e a Woodside.

Timor-Leste insiste na defesa da construção de uma unidade de processamento de Gás Natural Liquefeito (GLN) na costa sul da ilha.

"Timor-Leste continua a aceitar apenas discutir a opção do desenvolvimento 'on-shore' [plataformas exploratórias em terra]. Não sei qual é o sentido de tentar adiar isto mais uma década", considerou Alfredo Pires.

ASP // MSF

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